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Lica e o Sport, uma paixão sem limites: a história da autista que bombou nas redes sociais

Portadora de autismo, a jovem virou celebridade e o Diario de Pernambuco a visitou para saber mais sobre seu amor ao Leão

Publicado: 29/04/2023 às 12:52

Apesar das dificuldades, Maria Alice costuma acompanhar o Sport seja aonde forRecife, 22 de abril de 2023. Esta data ficará marcada para sempre na memória de Maria Alice, de 18 anos, torcedora fanática do Sport. Chamada carinhosamente de Lica, a jovem é tem o do TEA (Transtorno do Espectro Autista) e teve a honra de puxar o "Cazá, Cazá" na grande final do Campeonato Pernambucano, que o Leão venceu o Retrô por 4 a 1 no placar agregado, sendo campeão. 

[SAIBAMAIS]"Foi uma emoção muito grande, o estádio estava lindo. E o Sport campeão, ainda melhor. Por isso, todas essas faixas (de títulos, postas à mesa de sua casa) estão aqui. Agora mais uma. Disseram que eu 'arrasei', que fui bem tranquila. Que alegria", relata Lica, enquanto lembra saudosamente de seu falecido avô. "Lembrei de vovô Milton, sinto muita saudade dele. Tenho certeza que ele iria se orgulhar de mim."As faixas de campeão, que a família guarda com muito carinho

De acordo com o pai, Gregório Santos, a família percebeu a condição neurológica desde os três anos de idade. À época, o autismo ainda era uma terra a ser "explorada" por seus familiares. "Percebemos alguma dificuldade na comunicação há mais ou menos 16 anos. Não tínhamos muita ideia do que se tratava, então foi muito desafiador para todos nós. Fomos pesquisando, buscando ajuda de profissionais, para comportar as necessidades dela da melhor forma possível. Naquele tempo, ainda não existia a classificação do TEA", fala. Os pais, Gregório e Milena Santos, são um porto seguro para Lica

A AJUDA MÉDICA 

O feito obtido por Lica, diante de uma Ilha do Retiro amontoada de gente, só aconteceu por conta de muito esforço dela e de sua fonoaudióloga, Priscilla Barros, especializada em autismo. A dupla passou por mais de 30 dias treinando, já que os portadores do TEA costumam ter dificuldades na dicção e fala. 

"Trabalhar com Maria Alice é uma parceria. Estamos juntas há pouco mais de cinco anos. A proposta inicial, quando os pais me chamaram para vir atender Lica, era de trabalhar essa interação social, para estimular a comunicação de Maria Alice com o outro, além de estimular essa expressão dos sentimentos. Ela é uma menina que aceita todos os desafios. E o "Cazá Cazá" ao vivo foi muito melhor do que nos treinamentos, foi pouco mais de um mês de treinamento. Fizemos um script com as palavras que ela tinha alguma dificuldade. Aí ela conseguiu do 'jeitinho' dela, em colocar a emoção e foi maravilhoso", diz Priscilla. Lica e Priscilla vivem uma parceria há mais de cinco anos

BARREIRAS ENFRENTADAS

Segundo especialistas no assunto, o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, a interação social e pode incluir hipersensibilidade sensorial. Especialmente quando se trata de lidar com o barulho intenso durante os jogos no estádio e outras situações hiper-estimulantes.

A depender do grau do TEA, os sons produzidos por uma multidão de mais de 20 mil torcedores podem gerar incômodo e desregulação sensorial. Isso ocorre porque algumas pessoas com a condição neurológica possuem uma percepção sensorial diferente, tornando-as mais sensíveis. Os pais contaram ao Esportes DP as dificuldades enfrentadas por Lica

“No começo, Maria Alice tinha um pouco de problema com o barulho, mas ela foi se adaptando. Ela não gosta de fogos de artifício, e a gente vê sempre muito isso no estádio, principalmente numa final de campeonato”, revela Gregório, antes de ser interrompido pela filha. “Meu pai acabou tendo um problema na mão e eu fiquei muito triste nesse dia.” O pai perdeu dois dedos da mão por conta do acidente, no qual defendeu Lica.

PELO SPORT, TUDO

Mas as adversidades não impedem Lica de exercer sua maior paixão: torcer pelo Sport. Junto à família, ele já acompanhou dezenas de jogos, inclusive, fora do Brasil. Em Sarandí, na Argentina, esteve presente no duelo contra o Arsenal, pela Sul-Americana de 2017. Na ocasião, o Rubro-negro foi derrotado por 2 a 1 da província, situada na área metropolitana de Buenos Aires. Antes, contudo, havia feito 2 a 0, na Ilha, garantindo classificação à fase subsequente. 

“A gente já viajou para ver jogos várias vezes. Fomos  ao jogo contra o Arsenal, na Argentina. E também fomos à Colômbia, diante do Junior Barranquilla”, lembra o irmão de Lica, João Pedro Santos. “Ela sempre foi muito apaixonada pelo Sport, assim como o pai e o irmão. E o curioso é que a família do pai são vários torcedores do Santa Cruz, a maioria, e na minha, todo mundo é Náutico. Então a gente é meio que ’A resistência’. E Lica representa isso para nós”, completa a mãe, Milena. O amor ao Sport é cultivado por todos na casa de Lica

AÇÕES DO SPORT

O convite de Maria Alice veio através de Roberta Negrini, vice-presidente de inclusão e diversidade do Leão. Recentemente, o clube também promoveu a entrada de crianças autistas junto aos jogadores, na partida diante do Petrolina, pelas quartas de final do Campeonato Pernambucano. O Sport venceu por 2 a 0 na ocasião. 

“É uma ação inédita para os clubes no Brasil e nossa grande intenção é que isso se torne uma inspiração não só para outros times, mas para eventos públicos. A partir do momento que a gente entende que o número é muito relevante de pessoas e crianças com espectro autista, a gente acaba se tornando um veículo de inspiração para inclusão”, destaca Roberta. 

Desde 2007, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), abril é considerado o Mês da Conscientização do Autismo. Já o Dia Mundial é celebrado no dia 2.

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