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VIVA O TETRA
Do Barcelona para o Flamengo: a bombástica transferência de Romário
Há 25 anos, o astro do amistoso retrô entre Brasil e Itália era anunciado como reforço rubro-negro. O Baixinho iniciava os trâmites para deixar a Europa numa transação histórica
Publicado: 10/01/2020 às 00:10

Fortaleza – Eram 16h35 da tarde desta quinta-feira (9/1). Acredite se quiser: Romário não foi o último a fazer o check-in na concentração da Seleção Brasileira Master para o duelo retrô contra a Itália, no Estádio Presidente Vargas, entre os finalistas da Copa de 1994. Mais atrasado do que o Baixinho para o evento batizado pela CBF de “Seleções de Lendas”, somente o ex-lateral-esquerdo Branco. Eleito número 1 do planeta depois do Mundial nos Estados Unidos, o atacante e hoje senador causou alvoroço na porta do hotel proporcional ao de 10 de janeiro de 1995. Há exatos 25 anos, os jornais chegavam às bancas com a notícia de que o ex-jogador do Barcelona havia sido anunciado oficialmente pelo então presidente Kleber Leite como reforço do Flamengo.
Autor de cinco gols na Copa de 1994, Romário estava próximo de completar 28 anos. Atingira o auge da carreira e trocou o clube catalão, comandado à época por Johan Cruyff, pelo projeto do professor Vanderlei Luxemburgo. O mandatário do Barcelona, Joan Gaspart, pediu US$ 4,5 milhões. O clube carioca garantiu o pagamento com o auxílio de um pool de empresas. “A minha volta foi uma das decisões mais importantes que tive na vida e, se fosse hoje, teria feito exatamente o mesmo”, disse Romário ao Correio.
A melhor definição do alto nível do craque foi dada pelo tetracampeão Branco, ontem, na chegada ao hotel para o duelo com a Itália. “Romário não jogava, dava show no Barcelona e na Seleção. Aliás, eu e ele”, brinca o ex-lateral-esquerdo. Ele também foi contratado pelo Flamengo para integrar o badalado elenco no ano do centenário.
Parceiro de Romário no time titular na campanha do tetra, o volante Mazinho afirma que não se surpreendeu com a decisão do craque. “Conhecendo o Romário como eu (desde os tempos de Vasco), nada vindo da cabeça dele era surpresa para mim”, riu o contemporâneo do Baixinho. “Aquilo foi bom para o futebol brasileiro, para todos nós”, emendou Branco.
Ex-agente de jogadores, o terceiro goleiro Gilmar Rinaldi lembra da transação com a frieza de quem conhece o mercado da bola. “Foi o fechamento de um ciclo, natural. Lembrou muito o retorno do Falcão ao Brasil em 1985, quando eu jogava no São Paulo. O Flamengo fez um negócio gigante, mas a valorização do real ajudou (a nova moeda entrou em vigor em 1994)”, pondera.
Negociação
Mentor da engenharia financeira, o ex-presidente Kléber Leite recorda os momentos que antecederam o anúncio oficial, em 10 de janeiro de 1995. “Plagiando o Bruno Henrique, foi o momento em que o Flamengo mudou de patamar, passou a ter a noção do tamanho exato dele. Procuramos o máximo que pudéssemos alcançar, que era ter o melhor jogador do mundo, e conseguimos. O Romário estava na forma plena dele. Fiz o meu primeiro contato com ele e senti firmeza. Ele desejava retornar ao Brasil. O caráter dele foi impressionante. Isso me animou para correr atrás do dinheiro”, recorda o ex-dirigente.
Kléber Leite lembra que o pool de empresas era formado pela Cervejaria Brahma (atual Ambev), Multiplan, Banco Real e Banco Bozano Simonsen. “A prefeitura e a Petrobras também participariam da ação, mas desistiram”, explica. “Viabilizamos o negócio, fomos até Barcelona tratar com o Joan Gaspart, e ele não botava fé de que teríamos dinheiro. Perguntou até como pagaríamos. Respondi: ‘Em plata’. Mesmo assim, tentaram colocar obstáculo. A contratação dele foi um marco. Tínhamos 4 mil sócios e passamos a 40 mil. O restante da história é conhecida. Tudo aquilo só foi possível por causa da retidão de caráter do Romário. Ele foi decisivo ao dizer ao Barcelona que desejava retornar ao Brasil”, elogia Kléber Leite.
Romário desembarcou no Rio às 7h05 da manhã de 14 de janeiro de 1995. Desfilou pelas ruas da Cidade Maravilhosa até a Gávea, onde foi apresentado oficialmente. A estreia foi em um amistoso oficial contra o Uruguai, no Serra Dourada, em Goiânia, em 27 de janeiro.

Quatro perguntas para o Baixinho
Você não participou da primeira festa do tetra em 2019. Por que mudou de ideia agora?
Ano passado não foi jogo. Agora, sim. Meus companheiros me chamaram e vim amarradão. É um momento histórico, para o Brasil, para a Itália, para o futebol mundial. Estou feliz por reencontrar jogadores que viraram amigos para sempre. Para a minha história, para os meus filhos verem. É muito bom estar aqui.
É uma reaproximação da CBF depois de ser relator da CPI?
Não tem nada a ver com minha relação de senador com CBF. Está aqui o ex-jogador de futebol, que foi campeão do mundo e que fez história com a Seleção. Estou aqui para dar chance a uma geração que nunca viu, não o Romário de 25 anos atrás, claro, mas pelo menos ver essa geração vitoriosa. Importante ter esse jogo para uma geração que nunca viu.
Conversou com o presidente da CBF, Rogério Caboclo, e com o secretário-geral, Walter Feldman?
Conversei uns 10 minutos com o presidente, com o Walter, disse a eles que fiquei feliz de ser convidado, ele agradeceu, foi nesse tom a conversa. O convite partiu dos amigos. Jorginho me ligou, o Ricardo Rocha, esse pessoal me ligou e me falou que seria importante estar aqui.
Você e o Dunga travam uma batalha judicial. O capitão e companheiro de quarto no tetra faz falta nesse evento?
Dunga é um cara importante de 1994, pena que não estar aqui, pela importância que ele teve em 1994, não pôde vir.
*O repórter viajou a convite da CBF
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