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400 vezes Victor: goleiro do Atlético revela sonho e relembra glórias, jogos marcantes e decepção

Partida contra o Boa Esporte será marcante para o arqueiro de 36 anos

Publicado: 07/04/2019 às 07:00


O dia 29 de junho de 2012 é simbólico no processo que levou o Atlético a grandes conquistas recentes. Naquela data, o ex-presidente Alexandre Kalil anunciava a contratação de Victor, o goleiro que afastou desconfianças, ganhou títulos e, graças ao pé esquerdo, foi “beatificado” pela “torcida mais chata do Brasil”, nas palavras do próprio Kalil. Quase sete anos depois e já com status de ídolo, o jogador de 36 anos se aproxima de uma marca cada vez mais rara no futebol nacional. Assim que a bola rolar às 16h deste domingo para o duelo com o Boa Esporte, no Mineirão, pela volta da semifinal do Campeonato Mineiro, ele completará 400 jogos com a camisa alvinegra e igualará o ex-meio-campista Toninho Cerezo como o décimo atleta a mais vezes defender o Atlético.

Em entrevista exclusiva ao Superesportes, Victor relembrou a trajetória de 399 jogos, as partidas que mais o marcaram, a maior “decepção” e a longa série invicta contra o Cruzeiro entre 2013 e 2015. Em seguida, revelou o maior sonho que tem como jogador e projetou o futuro no clube alvinegro.

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Leia a entrevista de Victor ao Superesportes

Como você resume sua história no Atlético?

Vim para o Atlético pelo desafio de dar conta de uma carência, era um desafio grande me firmar no gol do Atlético. Já havia alguns anos que ninguém se firmava na posição. Vim com esse propósito, de fazer história pelo clube. Sabia da necessidade de conquistar títulos pelo Atlético, até porque vinha de um período de muito tempo sem conquistas de expressão. Vim num momento certo, o Atlético tinha um grande time. Fui avisado sobre isso antes de vir pra cá, sobre estrutura, time, a equipe competitiva que tinha. Isso me animou bastante. 

E tudo aconteceu muito rápido aqui. Em menos de um ano, brigamos por título brasileiro, classificamos para a Copa Libertadores, fizemos uma campanha fantástica na primeira fase. Depois começaram as dificuldades, aquele pênalti do Tijuana-MEX - que acho que foi o grande lance que marcou e marca minha história no Atlético -, depois a conquista da Libertadores, outros pênaltis, outras conquistas, a Copa do Brasil em cima do nosso maior rival. 

É uma história de grandes jogos, de sucesso, de conquistas. O grande jogador vive de conquistas. O Atlético, sem dúvidas, é um clube que me deu a possibilidade de ter grandes conquistas, de marcar minha história e me elevar a um novo patamar de carreira. Até então, tinha tido grandes trabalhos individuais, Seleção Brasileira, mas não tinha tido uma conquista expressiva como tive no Atlético. Sou muito grato ao Atlético por me proporcionar isso. Hoje, tenho uma identificação e um carinho muito grandes com este clube e pelo torcedor, que respeito demais. Hoje, faço tudo para poder dar alegrias ao torcedor que sempre me apoiou muito aqui.

Retrospecto: 399 jogos (194 vitórias, 105 empates e 100 derrotas)
Gols sofridos: 419 (média de 1,05 por jogo)
Títulos: Copa Libertadores (2013), Copa do Brasil (2014), Recopa Sul-Americana (2014) e três Campeonatos Mineiros (2013, 2015 e 2017)

Quais são as partidas no Atlético que mais te marcaram?

É difícil. Do Tijuana-MEX sem dúvidas. Muitos falam do pênalti, mas pouco antes teve uma defesa em que o atacante deles saiu cara a cara comigo. É difícil listar jogos. Lembro um jogo contra o Palmeiras em que trabalhei muito. Teve um jogo contra o São Paulo, no Morumbi, que a gente ganhou por 2 a 1, e eu trabalhei bastante. Outras partidas em que trabalhei muito foram contra o Santa Fe-COL, na Colômbia, e contra o Atlético Nacional-COL, também na Colômbia. Foram marcantes. Tem muitos jogos que a gente participou bastante. Como goleiro de uma equipe como o Atlético tem que ter regularidade, ser decisivo. Às vezes você participa pouco e tem que ser decisivo. Às vezes são uma, duas defesas no jogo, em que você tem que ser decisivo.

Qual sua maior decepção no clube?

Não foi uma decepção, mas um ano difícil. Foi 2017, em termos de resultado. Vivemos um ano de instabilidade e quase conseguimos a vaga para a Libertadores. Devido a todas as coisas que aconteceram seria um prêmio. Foi um ano difícil por um contexto, muitas mudanças, trocas de técnico, e isso acabou marcando como o ano em que a gente passou algumas dificuldades.

Qual o atacante mais difícil de parar que você enfrentou pelo Atlético?


Na verdade não foi um jogador específico, mas foi um ataque específico. Naquele período em que passamos 11 clássicos sem perder para o Cruzeiro. A gente sabia que o Cruzeiro tinha uma grande equipe, um ataque poderoso, com Goulart e com Ribeiro, que eram os principais jogadores, o próprio Dagoberto, que vinha fazendo um bom trabalho, e outros jogadores de ataque com muito potencial que o Cruzeiro tinha. Foi um período marcante, em que a gente conseguiu uma sequência invicta em clássicos e, consequentemente, a gente conseguiu parar um ataque muito forte que o Cruzeiro tinha na época.

Você se torna o 10º jogador com mais partidas pelo clube. Vislumbra ultrapassar o ex-goleiro João Leite (684 partidas) e se tornar o primeiro?

O número do João Leite é uma marca difícil de alcançar. Hoje, com 36 anos, para fazer mais uns 300 jogos, precisaria de mais cinco anos de carreira, levando em conta a média de jogos que faço por ano, que é de 60. Acho pouco provável. Mas não penso nisso, não é uma meta que tenho, um objetivo que tenho.

O objetivo é a cada jogo fazer o meu melhor, fazer um trabalho de excelência. Mas me sinto honrado em fazer parte desse hall dos jogadores que mais vestiram a camisa do Atlético. Acho que ao (jogo) 500 eu consigo chegar. Agora, quase 700 é uma marca difícil. Não é a quantidade de jogos, mas é a qualidade do trabalho desses anos que tenho pela frente que vai determinar ainda mais a minha história que já construí aqui no Atlético.

Jogadores que mais atuaram pelo Atlético

João Leite - 684
Vanderlei Paiva - 559
Luisinho - 537
Vantuir - 507
Kafunga e Paulo Roberto Prestes - 504
Grapete - 486
Reinaldo - 475
Afonso Silva - 464
Victor e Toninho Cerezo - 400

Qual o seu maior sonho pelo clube?

O sonho de todo jogador que veste uma grande camisa é conquistar títulos. O que me falta no Atlético é um Campeonato Brasileiro. É algo que persigo, que busco, que trabalho. Já estive próximo algumas vezes, mas não aconteceu. É um grande objetivo que tenho, conquistar o Campeonato Brasileiro. Não que as outras competições não tenham importância, mas é um grande sonho dar um Brasileiro para o Atlético.

Qual a importância dos treinadores que passaram pelo Atlético para sua carreira?

Não dá para não citar os treinadores que foram vencedores, o caso do Cuca (Libertadores de 2013) e do Levir, que nos deu a Copa do Brasil (2014). O Roger (Machado) é um grande treinador, o (Diego) Aguirre é um grande treinador, Paulo Autuori, o Thiago (Larghi) fez um grande trabalho. Cada um tem sua metodologia, sua qualidade, mas todos com muita confiança.

Qual o seu planejamento para o futuro no futebol?


Tenho contrato até o fim do próximo ano. Pretendo cumpri-lo. Chegando ao fim do ano que vem, eu reavalio como estarei em termos físicos, em termos de motivação, de condições de jogar em alto nível, de ter essa motivação que tenho hoje de continuar trabalhando, de vir aqui (à Cidade do Galo) todos os dias entregar meu máximo nos treinamentos.

Mas claro que já penso no pós-carreira. Não é à toa que, lá no começo da carreira, iniciei a preparação, contando com eventuais problemas de percurso, porque futebol é uma carreira muito incerta. Estudei, sou formado em educação física. Já tenho essa formação que me dá uma vantagem no pós-carreira. Estou fazendo cursos de gestão dentro do futebol.

Pretendo continuar trabalhando no futebol. Se não for na área técnica, na área administrativa, porque é o que eu gosto, amo, o que sei fazer. Passei a maior parte da minha vida dentro do futebol. Se for aqui no Atlético, vai ser um prazer imenso. A gente sempre procura trabalhar da melhor forma possível, da maneira mais honesta e transparente possível. Espero deixar as portas abertas aqui no clube para quando meu ciclo como atleta se encerrar, poder ajudar fora do campo a buscar conquistas em outras áreas.
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