Acervo
ESPECIAL

Atlético 9 x 2 Palestra: placar mais elástico do clássico mineiro completa 90 anos

Até hoje, torcedores e jogadores alvinegros provocam os celestes por goleada

Publicado: 27/11/2017 às 08:00

Vanda, filha, e Orminda e Andrea, netas do goleador Mário de Castro, um dos heróis da goleadaExistem resultados que ficam na memória dos torcedores por gerações. Mas há um que definitivamente entrou na história do Atlético, ajudando a consolidar a rivalidade quase centenária com o Cruzeiro. A emblemática goleada aplicada pelo Galo por 9 a 2, que completa 90 anos nesta segunda-feira, não só foi o placar mais elástico do clássico mineiro como também ganhou a enciclopédia do futebol no estado, numa época em que o profissionalismo estava longe para ser consolidado. Até hoje, torcedores e até mesmo os jogadores alvinegros fazem referência ao placar e provocam os celestes pelo massacre de 1927.

[SAIBAMAIS]O triunfo ocorreu no campo do América – que abrigaria o Mercado Central – e teve episódios curiosos. Antes, o supersticioso presidente atleticano, Leandro Castilho de Moura Costa, proibiu que os fotógrafos fizessem a foto da equipe, com medo de que desse azar. Num período em que a disputa era limitada às quatro linhas, jogadores das equipes jantaram juntos no restaurante Guarany, no Centro. E as diretorias trocaram telegramas cordiais. Ainda Palestra, o Cruzeiro parabenizou os alvinegros pela vitória.

A goleada se tornou o auge da bela campanha atleticana. O time conquistou o então inédito bicampeonato mineiro contando com seu primeiro grande esquadrão. O grupo foi liderado pelo Trio Maldito. Mário de Castro, Jairo e Said balançaram as redes 459 vezes. Na partida, o trio foi responsável por oito dos nove gols atleticanos – o outro foi de Getúlio. Ninão marcou duas vezes para o Palestra.

Anos depois, Ninão declarou que os atletas celestes queriam evitar novo título do América e por isso não se esforçaram para tentar frear a goleada. Os dois títulos alvinegros encerraram de vez a hegemonia do Coelho, que conquistou por 10 vezes consecutivas o Estadual (de 1916 a 1925).

Terceiro maior artilheiro da história alvinegra, com 195 gols, Mário de Castro ainda é muito lembrado entre torcedores e familiares. “Ele foi um jogador amador, mas contribuiu para que o futebol se fortalecesse e se solidificasse. Os títulos e as vitórias que ele conseguiu contribuíram para o crescimento da torcida e do time”, afirma a neta do artilheiro, Andrea de Castro. “Não chegamos a vê-lo jogando, mas a família valoriza muito esse feito”, diz Vanda de Castro, de 78 anos, filha de Mário.

Curiosamente, o artilheiro abriu mão de jogar pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1930. Além de tratar uma lesão, se negou a ser reserva de Carvalho Leite, craque do Botafogo. Com as pretensões de obter um diploma, o Trio Maldito sempre se opôs à profissionalização do futebol. A exemplo de Mário, Jairo se formou em medicina. E Said teve graduação em direito.

O historiador Emerson Maurílio, coordenador do Centro Atleticano de Memória, ressalta que o 9 a 2 foi um marco para que o alvinegro se consolidasse como força no estado: “Foi um período-chave na história do clube porque interrompeu a hegemonia do América, numa época da popularização do futebol em Belo Horizonte e de crescimento do público. O 9 a 2 significou a conquista do primeiro bicampeonato mineiro do clube, com o melhor ataque do Atlético em todos os tempos”.

Mário pendurou as chuteiras pelo Atlético em 1931, aos 26 anos. De acordo com Vanda, ele desistiu devido a um incidente: “Um dos últimos jogos dele foi em Nova Lima. Não fez quase nada no primeiro tempo e a torcida começou a gritar seu nome, provocando. No segundo tempo, jogou muito, fez dois gols e virou para 4 a 3. Deu uma briga de torcidas e um rapaz foi baleado. Ele ficou chateado, pegou as coisas e foi embora”. A filha se refere à vitória sobre o Villa Nova, em que o artilheiro balançou as redes três vezes, depois encarando o Palestra na decisão e fechando com o título para de fato se despedir dos gramados. Ele se formou em medicina na capital mineira e retornou para Formiga, sua terra natal. (RD)

No campo do América

Inaugurado em 1923, o estádio funcionava hoje onde se situa o Mercado Central, na região central de Belo Horizonte. O América contou com parceria de sócios para arcar com os custos. A arquibancada ocupava o lado esquerdo da Avenida Paraopeba, hoje Augusto de Lima. Curiosamente, a área foi demolida sem ter um nome.

Atlético 9 x 2 Palestra Itália

Atlético: Perigoso; Chiquinho e Brant; Franco, Ivo, Hugo, Getulinho e Getúlio; Mário de Castro, Jairo e Said
Palestra Itália: Geraldo; Rizzo, Pararraio, Porfírio e Osti; Piorra, Nani, Bengala e Nininho; Ninão e Armandinho
Data: 27/11/1927
Competição: Campeonato Mineiro (fase final)
Local: Estádio do América
Gols: Said 11 e 19, Ninão 22 e Said 46 do 1º; Mário de Castro 12, 16, Jairo 21, Ninão 25 e Jairo 26 e 31 e Getúlio 37 do 2º
Árbitro: José Avelino
Público: 4.000
Mais de Acervo