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CRUZEIRO

Morre Plínio Barreto, conselheiro nato do Cruzeiro e autor de livro sobre história do clube

Última coluna do jornalista foi publicada no Estado de Minas deste sábado

Publicado: 24/10/2015 às 13:25

Plínio na redação do Estado de Minas, em 2002Morreu na madrugada deste sábado, aos 93 anos, o jornalista e escritor Plínio Barreto, vítima de um tumor ósseo maligno. Conselheiro nato do Cruzeiro e cronista do jornal Estado de Minas, Plínio foi um grande pesquisador da história celeste, registrada no livro De Palestra a Cruzeiro, que narra com detalhes a trajetória do clube, desde o início do século passado.

Plínio Barreto ainda publicou outros dois livros: Futebol no embalo da nostalgia e Lagoinha meu amor. Entre as principais coberturas jornalísticas do escritor, está a da Taça Brasil de 1966, para a Rádio Inconfidência e para os jornais Estado de Minas e Diário da Tarde. Uma curiosidade marcou a transmissão do jogo final, entre Santos e Cruzeiro, no Pacaembu. Como chovia muito, o microfone do jornalista começou a disparar choques elétricos. A solução encontrada por ele foi deixar o aparelho no chão e se deitar para fazer a cobertura. O Cruzeiro venceu o Santos por 3 a 2 e conquistou seu primeiro título nacional.

A última coluna de Plínio Barreto foi publicada no caderno de cultura do Estado de Minas, na edição deste sábado.

Leia a última crônica de Plínio Barreto:

O velho quintal dos meus sonhos

Deitado em meu leito de convalescente, minhas vistas alcançam a cidade que começa a adormecer. Sem ter o que fazer, a não ser ativar a memória, pois, bem ou mal, é um exercício que gosto de praticar, perco-me em lembranças de momentos bem vividos.

Há alguns anos, quando ainda era proprietário de um belo quintal, quase todo formado por minhas próprias mãos, gostava de sentar na entrada do pomar naquela hora em que o relógio não marcava ainda as sete horas. O que era dado a observar era digno de ser visto. Acreditem!

O sol, irrompendo por entre as árvores, lado do nascente, estendia a generosidade de sua luz e de seu calor sobre tudo o que representava vida naquele pedaço de chão. As flores que coloriam as copas das mangueiras ganhavam elas próprias um colorido mais intenso. Da mesma forma, mais claros e acetinados, os buquês das minúsculas flores dos limoeiros, fazendo chegar às narinas o perfume que não se encontra nos frascos dos mais refinados extratos procedentes de Paris.

No verde das cidras parecia haver uma dose maior de clorofila, e o chuchu na cerca dava a impressão de exibir sua exuberância ao astro-rei. Nas grimpas do gigantesco jacarandá-mineiro, bem-te-vis ensaiavam uma algazarra, não se contendo ante tamanha claridade. Não, não era bem um ensaio, executavam, mesmo, um belo concerto. Sanhaços azuis e verdes pousavam de leve nas folhas das bananeiras. Só se afastavam quando percebiam que os frutos ainda estavam verdes.

O galo se punha assanhado lá no fundo do quintal. Culpa das galinhas, que não disfarçavam o charme que Deus lhes deu. No pequeno lago reservado a patos e patas, era uma festa só.

O aspersor ligado dava a impressão de que sorria uma chuva prateada em forma circular. Nos canteiros, couves, beterrabas e alfaces que pareciam se abrir para melhor acolher, como num abraço, a dádiva do sol e o bem que lhes fazia a água gotejante.

Gingando como se dançasse um curioso balé, os arbustos de um verde mais claro davam o ar de sua graça. Eram aqueles que já começavam a formar, em ação subterrânea, centímetros abaixo, cenouras, com certeza. E repolhos, couves-flores, cebolinhas viçosas e graúdas, abóboras mostrando, orgulhosas, a beleza de suas flores, de um amarelo inconfundível, salsas se balançando de cá para lá.

Recordar é viver!
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