Acervo
ATLÃ?TICO

Sucessor de Kalil, Nepomuceno fala dos planos para comandar o Galo a partir de quarta-feira

Futuro presidente comentou sobre continuidade do trabalho, renovação com Levir Culpi, reforços para o time, programa de sócio-torcedor e estádio próprio

Publicado: 02/12/2014 às 08:59

Daniel Nepomuceno vai dirigir o clube alvinegro no triênio 2015-2017
Com a tarefa de substituir o mito Alexandre Kalil, o vereador e advogado Daniel Nepomuceno, de 36 anos, será aclamado nesta quarta-feira à noite o novo presidente do Atlético no triênio 2015-2017. Além de manter o clube no rumo dos títulos e do crescimento no cenário nacional, caberá a ele seguir o diálogo com a CBF em busca dos interesses alvinegros e com a Advocacia Geral da União, para resolver a questão da dívida fiscal que prejudicou o planejamento em 2014. Com personalidade mais contida do que o antecessor, Nepomuceno é um dos idealizadores do projeto do novo estádio do Galo e defende a ampliação das categorias de base. Na entrevista exclusiva ao Superesportes/ Estado de Minas, ele fala sobre a crise econômica no futebol brasileiro e os planos para que a equipe conquiste mais títulos em seu mandato. Confira:

O senhor vai ser eleito presidente do Atlético para o próximo triênio com amplo apoio dos conselheiros do clube. Considera-se preparado para lidar com as pressões? Como foi sua atuação nos últimos seis anos?


Aquele que deseja pegar uma presidência de clube tem de estar consciente pressão que terá. Presidente de clube está representando 10 milhões de clubes que querem um bem comum, que é que a equipe ganhe tudo o que vem pela frente. A pressão é natural e temos de estar preparado, pois quem sofre é a família. Nos últimos seis anos, tive a oportunidade de participar intensamente da vida do Atlético, de ficar ao lado do presidente e dos diretores, da comissão técnica e ter aprendido muito a dádiva de trabalhar para o clube, uma das coisas que mais amamos.

Você já assume pensando em trazer grandes novidades para o torcedor?

Não. A gente assume com a responsabilidade de dar continuidade ao trabalho, realmente fazer uma gestão responsável. A primeira questão que vamos resolver é quem será o técnico. Espero que o Levir renove. A partir dessa renovação, nós podemos criar um planejamento com o técnico, com o diretor de futebol e trabalhamos com contratações e o time essencial para disputar a Libertadores e os demais campeonatos.

Já teve uma conversa com o Levir. Você se sente animado em sua continuidade?

Extremamente animado. O Levir tem um caráter excepcional, tem identidade com o time, mostrou em pouco tempo que hoje é um dos principais técnicos do mundo, tem uma bagagem muito dinâmica depois da passagem pelo Japão. Dar continuidade a esse planejamento vencedor é o que todos querem. Isso é essencial. A conversa foi nesse sentido. O Levir é responsável e que ficou balançado pela questão de continuar ou não no futebol, mas coube à Massa convencê-lo para ficar.

Qual vai ser o papel do presidente Alexandre Kalil em seu mandato?

O Alexandre nunca esteve fora do Atlético. Ele conquistou tudo porque, como filho de presidente, como diretor e presidente de conselho, sempre esteve presente. Espero que ele esteja sempre ao meu lado. Foi ele quem me ensinou e com quem trabalhei seis anos. Kalil não quer um cargo no Atlético. Ele fez o papel como presidente, sendo o maior dirigente da nossa história, e vai continuar ajudando sempre que possível.

Muitos dizem que sua personalidade ao comandar o clube vai ser diferente do Kalil, sendo mais aberto...


São personalidades distintas, até porque no mundo não existem dois “Kalils”. Ele é diferente de todo mundo. A importância é o objetivo em comum, porque temos os mesmos propósitos. Kalil tem esse lado conciliador e manteve uma diretoria amiga e unida durante esses seis anos. Não é fácil fazer isso. às vezes, me coloco num perfil conciliador e fica até mais duro e rígido para manter os objetivos. São estilos distintos, mas com grupo unido e com projetos que poderão ser discutidos com prazo. As coisas ocorreram muito rápido em três anos. O time terminou o Brasileiro de 2012 em alta e entrou em 2013 apresentando o futebol que encantou na Libertadores e com um ídolo mundial como o Ronaldinho. Em 2014, veio um técnico novo e depois teve de ser substituído. Colhemos os frutos dos primeiros três anos. Queremos trabalhar o aumento do número de torcedores, tentar avançar na questão do novo estádio, valorizar o que foi feito na questão patrimonial. Temos o melhor CT do mundo e os clubes de lazer todos reforçados. Foi feito muita coisa que hoje podemos mostrar para a torcida, conselheiros e sócios.

Kalil é um torcedor apaixonado pelo clube. Esse sentimento atrapalha ou ajuda?


É essencial, porque representa todos os torcedores em geral. A maior conquista de um presidente é entregar à torcida um título e falar que ele pode sair com o sorriso estampado. A cidade fica com outro humor e outra cor. O presidente trabalha com a vida direta das pessoas. Isso é o bacana de ser presidente. Ele tem de ser torcedor, porque é um trabalho e se torna também uma paixão.

O senhor pretende usar sua influência como político para solucionar os problemas do clube com a União?

Vou usar de tudo o que eu tenho... Meus amigos, a paciência da esposa, minha experiência pública... Não vai faltar esforço. Tudo que for para mexer com o Atlético, vamos trabalhar intensamente para buscar novos títulos.

Como será sua atuação junto à CBF para buscar os interesses do Atlético? Tentará uma aproximação com Marco Polo Del Nero?

É uma relação que vai depender da CBF. Precisamos de parceiros e a CBF, se for parceira, terá reconhecimento da diretoria. O Marco Polo assume no ano que vem e vou ter uma vantagem de dois meses para passar para ele o que o Atlético precisa. Tudo vai depender dessa relação. A CBF precisa reconhecer o tamanho do Atlético e do futebol mineiro. O Marco Polo assume a CBF com o Atlético tendo o melhor e com apetite de continuar ganhando. É isso que queremos para manter a parceria.

O caminho no Brasil para o desenvolvimento é a união dos clubes? Que ideia você tem para fortalecer o clube dos 13?

O calendário do Brasil é um retrocesso, pois não valoriza os times de melhor planejamento e sacrifica sempre o clube. As seleções nacionais e as janelas internacionais têm prioridades e temos um Campeonato Brasileiro muito longo e caro. Isso tem de ser revisto. Passamos por isso no ano passado. Entramos numa janela internacional classificado para as finais da Libertadores sem ter opção de contratação para o Mundial. Um dos desafios da CBF é mudar isso. Está ficando normal a atuação do tapetão e da parte jurídica em cima dos resultados, tal qual vimos no ano passado e agora com o América. Tem que ser organizado. Tanto Atlético, quanto Cruzeiro não podem ter cotas menores do que outros clubes, pois estão apresentando exemplos de gestão no Brasil.

Nos últimos anos, Kalil resistiu ao fazer um contrato para jogar no Mineirão, afirmando que não rendia lucros ao clube. Você pretende arranjar uma solução com a Minas Arena?

O Atlético está numa situação privilegiada de jogar nos dois estádios. No que Kalil bateu e foi correto foi dizer o porquê que alguém vai receber mais lucro que o time. O que podemos fazer é tentar aumentar o público no Independência e ver a situação que seja pró-clube no Mineirão. Queremos um tripé entre torcida, jogadores e comissão técnica tentando trabalhar para o clube Esse é o segredo para levantar taças.

Um dos pilares no mandato de Kalil foi a criação do Galo na Veia. Como você pretende ampliá-lo e valorizar o marketing do clube?

O Galo na Veia precisa ser ajustado na questão dos valores, pois a realidade no ano que vem vai ser diferente do ponto de vista econômico. O Atlético teve essa deficiência em relação ao espaço limitado dentro do Independência, mas avançou na ampliação dos benefícios e no conforto dos torcedores.

Continuará dando ênfase às categorias de base?

Não se mexe em quem está ganhando. A melhor forma de avaliar se estamos indo para o rumo correto é revelando jogadores e levantando títulos. Todo mundo dá um palpite ou uma solução para a base. A base do Atlético, de coordenação do André Figueiredo, mostra um segredo que há muito tempo não ocorre no Brasil, com exceção do Santos. Jogadores profissionais estão prontos para atual, não só tecnicamente, mas psicologicamente. Temos uma boa equipe, que está lá dentro. A torcida pode esperar que vai aparecer novos jogadores.

Em dados recentes, a dívida fiscal do Galo é uma das maiores do Brasil. Como você pretende dar solução definitiva?

Depois de dois grandes títulos, o maior avanço nesses seis foi o comprometimento com a União e ter entrado no Refis. Fizemos o maior acordo sério de negociação de dívidas tributárias. O presidente Kalil se comprometeu o pagamento de R$ 270 milhões, com a ajuda do dinheiro do Bernard, mais 180 meses para o restante da quitação. Nas próximas semanas, tentaremos homologar esse registro aqui em Minas. O Atlético se torna o time com maior no mercado atual. O dinheiro do Bernard que viria para o futebol está sendo usado bem agora.

A queda no atual orçamento do clube em relação ao ano passado já é uma tentativa de garantir a estabilidade em seu mandato?

É a realidade. o Atlético tem uma equipe muito boa. Temos 40 jogadores no grupo e chegarão mais dois. Depois sentaremos com o diretor de futebol e o técnico para ver a necessidade em relação às posições. Economicamente o país passa por mudanças e os clube vai ter de começar a criar novas receitas para não atrapalhar o orçamento a longo prazo. Nenhum presidente vai dizer que não vai apostar e investir no futebol. Mas primeiro temos de resolver essa questão financeira para não dar um passo atrás.

Houve exagero nos gastos este ano?

A taça da Copa do Brasil está aí. Se houve exagero ou não, os resultados conseguimos alcançar. O futebol é isso, porque trabalhamos com objetivos, que são os títulos. Podemos sacrificar o orçamento, mas temos segurança que vamos chegar às conquistas. E poderemos ter maneiras de trabalhar o orçamento seguinte. No fim, tudo deu certo.

Você tentará criar novas modalidades?

O Atlético tem prioridades dentro do futebol, porque cabe investimento nas categorias de base e no CT, com a construção de mais um campo. Precisamos atrair os sócios para os clubes de lazer e a questão do estádio que realmente vão avançar. Colocaria que vai continuar nesta questão patrimonial de futebol. Independentemente da modalidade, seja ela vôlei, futsal ou basquete, onde a marca Atlético estiver, entrará para ser campeão. E não depende só da gente. Depende de ligas fortes, da segurança de um investidor que venha e saiba o tamanho da marca. O Kalil acabou com várias categorias porque as propostas não foram boas e atrapalharam o futebol. Não adianta criar remo ou outras modalidades olímpicas se quem pagará a conta é o torcedor do futebol. Depende do mercado.

A prioridade do Atlético em 2015 é ganhar o Brasileiro ou ser bicampeão da Libertadores?

Os dois. A Libertadores vem antes e, caso a gente renovar com o Levir, teremos uma característica distinta do time de 2014, que é a continuidade do trabalho. O Brasil exige que o time entre formado. Se o calendário fosse outro, conquistaríamos também esse título. A prova é que fomos líderes do returno. Se fosse outra fórmula, como na Argentina, levantaríamos às duas taças, porque demos continuar. Se o Atlético mantiver essa fórmula, será candidato aos dois títulos.

Já existe uma parceria para o estádio do Galo? O que falta para o projeto ser apresentado ao público?

O projeto está bem encaminhado na prefeitura. É um projeto magnífico, com um terreno que veio de uma parceria. O que falta é dinheiro. Avançamos num estágio, que alcançamos com responsabilidade. Sonho com esse estádio todos os dias, mas estamos falando de R$ 500 milhões. Quem apostou num estádio com números frágeis, está pagando preço alto. Não quero deixar para os próximos dirigentes esse preço. No dia que a gente firmar uma parceria viável, o estádio vai ser erguido. O país passa por momento difícil. Conversamos com empresários e ficamos assustados devido à insegurança de um projeto dessa magnitude. A diretoria está buscando soluções dentro da realidade.

Como você avalia a situação financeira do futebol brasileiro? Você acha que os jogadores e treinadores estão supervalorizados?

O futebol sempre viveu esse ciclo. Tem momentos que ele se valoriza muito. A negociação de qualquer atleta é em Euro, que teve valorização de 20%. Por isso, temos de desembolsar mais. O jogador que ganha em Euro tem avaliar que a moeda é o primeiro choque. O Brasil repatriou vários ídolos e hoje vemos problemas atrasos de salários e falta de receita. O que temos de fazer nos próximos três anos é se reciclar e tentar fazer a gestão à frente do mercado que vai buscar para baixo. Temos de ser inteligentes nas contratações e na montagem do time.

O Emerson Sheik é um nome próximo?

Ainda não sentei com o Levir e o Maluf para tratar de reforços. O Atlético vai precisar de um centroavante e vamos correr atrás de nomes que podem ser titulares. A valorização do grupo acontece quando deixamos de trazer jogadores para ser promessas. Precisar trazer gente do nível de campeão da Copa do Brasil.

O Kalil foi audacioso ao contratar o Ronaldinho Gaúcho. Você tem a ideia de trazer um Ronaldinho em seu mandato?

Se eu tiver a sorte e a estrela de conseguir um craque do tamanho do Ronaldinho, quero trazer pelo menos 15. A história do Ronaldinho é o início de um filme, porque foi o momento que o Atlético mais precisava para valorizar sua marca. O Atlético mostrou para o mundo quem ele é. Foi um dos maiores ídolos do futebol em toda a história. Isso é muito bacana. Quem dera pudesse ocorrer isso de novo. Não são muitos Ronaldinhos em atividade. Quando você é correto, abre portas para pessoas do bem serem seus parceiros. É claro que se aparecer ídolos mundiais que já veem o Atlético com outros olhos, como time sério, vamos recebê-los futuros Ronaldinhos.


Mais de Acervo