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Guilherme Giovannoni: "Brasília vai morar no meu coração para sempre"

Em entrevista ao Correio Braziliense, o ex-atleta diz ter vivido os momentos mais marcantes da carreira jogando pela capital federal. "Tenho uma relação especial com essa cidade"

Publicado: 26/04/2019 às 15:49

Ala-pivô anunciou aposentadoria nesta semana
 
O sonho do menino natural de Piracicaba, cidade do interior paulista, sempre foi se tornar jogador profissional de basquete. Tanto é que desde cedo, mais especificamente aos 8 anos de idade, como ele mesmo lembra, a vida de Guilherme Giovannoni já girava em torno da laranjinha. “Eu era um garoto que queria viver do basquete”, explica.
 
Aquele menino só não imaginava que, quando se tornasse profissional, teria uma carreira tão marcante. Que, em três décadas de vida dedicada ao esporte, defenderia 12 equipes de quatro países diferentes, seria campeão com a seleção nacional e encontraria em uma cidade a quase 1 mil quilômetros da sua terra natal uma segunda casa.
 
“Estou muito satisfeito com tudo o que consegui alcançar na minha vida. Tive uma carreira boa e sólida, além de ter cumprido grandes coisas dentro de quadra. Para um menino que sonhava em se tornar profissional, isso é maravilhoso”, reconhece.
 
O ala-pivô de 38 anos decidiu retirar-se do esporte. Vai trocar o garrafão pela cabine de televisão, para ser comentarista esportivo. Em conversa com a reportagem do Correio Braziliense, Giovannoni afirmou estar animado para a nova experiência, mas reconheceu que sentirá falta do clima das partidas. Ídolo do basquete em Brasília, também comentou sobre os oito anos que jogou pela cidade. 
 
“Tenho uma relação especial com essa cidade, principalmente pelas conquistas e pelo que vivi aqui. Brasília vai morar no meu coração para sempre”, afirmou.
 
Em oito anos pelo UniCEUB/Brasília, Giovannoni levantou sete taças 
  
De 2009 a 2017, quando jogou pelo extinto UniCEUB/Brasília, Giovannoni viveu os melhores anos da sua carreira. Participou de mais de 350 jogos e marcou 6,5 mil pontos. Levantou três troféus do Novo Basquete Brasil (NBB) de forma consecutiva e outros três da Liga Sul-Americana de Basquete. Foi eleito o melhor jogador do torneio nacional em 2010/2011 e das finais de 2010/2011 e 2011/2012, além de ter sido o MVP da Liga Sul-Americana em 2010 e 2013.
 
A garra e o comprometimento dentro de quadra, além dos arremessos certeiros, lhe renderam 15 anos de serviços à Seleção Brasileira. Com a Amarelinha, Giovannoni conquistou duas Copas Américas (2005 e 2009), um Torneio Tuto Marchand (2011) e uma medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos (2003). Nesse período, o ala-pivô ainda jogou quatro Copas do Mundo (2002, 2006, 2010 e 2014), e duas Olimpíadas (2012 e 2016). 
 
Giovannoni se despede do basquete com marcas expressivas no NBB: é o quarto maior cestinha (5.792 pontos), o terceiro maior reboteiro (2.323), o terceiro jogador mais eficiente (média de 18,62 pontos por jogo) e o terceiro com mais duplos-duplos (60). 
 
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Eu gostaria que todas as pessoas tivessem a sensação de realizar um sonho. O meu começou com 8 anos e a vida se encarregou de realiza-lo. A quadra sempre foi um lugar sagrado pra mim. Nela aprendi a respeitar os meus limites, a exigir o melhor de mim e dos meu companheiros e, principalmente, a superar todos os meus problemas. Foi dentro das quatro linhas que eu conheci as melhores pessoas e aprendi a lidar com quem não tinha afinidade. O basquete foi a minha faculdade. Tornei-me melhor e conheci o meu pior. O jogo tem disso também. Não teve um dia em que não me diverti. E isso devo a todos que compartilharam o mesmo sonho que o meu. Prometi a mim mesmo que enquanto eu me divertisse ficaria no jogo, mas a vida tem dessas coisas e, aquilo que eu jamais conseguiria viver sem, tomou outras formas. Deixei tudo em quadra. Não quero mais nada só gostaria de agradecer esses longos 31 anos de atividade e de respeito ao esporte. Nos vemos pela TV para falar de basquete porque eu saio do jogo, mas o jogo não sai nunca de mim. #deixeitudoemquadra

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Confira a seguir os trechos da entrevista com o ex-jogador.

Como está se sentindo para esta nova etapa na sua vida?
Por enquanto, estou tranquilo. Não foi uma decisão que eu tomei rapidamente, estava pensando há alguns meses. Então, foi algo bem planejado. Eu entendi o atual momento da minha vida e da minha carreira. Isso facilitou um pouco para eu tomar essa decisão.

O que mais pesou para a sua decisão de se aposentar?
O fato de eu ter tido uma carreira boa e sólida, além de ter cumprido grandes coisas dentro de quadra, ajudou bastante. Eu sabia que essa hora iria chegar em algum momento. Se não fosse agora, seria em breve. Mas eu gostaria de parar jogando em um bom nível. Não seria legal ficar me arrastando em quadra, com dores, visto que o físico já não é o mesmo de anos atrás. Também pesou o fato de eu pensar em uma outra carreira para a minha vida, afinal, eu fiz a mesma coisa nos últimos 30 anos.

Do que mais vai sentir falta como profissional?
Vou sentir bastante saudade dos jogos, que são o grande momento para qualquer atleta. Sentirei falta dos momentos de preparação pré-jogo e de me divertir dentro de quadra. Mas fico feliz de saber que fiz tudo isso com muita intensidade. Vivi o máximo que pude viver. Óbvio que agora terei de me acostumar. Mas estou tranquilo, pois o ser humano sempre teve a capacidade de se adaptar a novas realidades.

Se arrepende de não ter conquistado ou feito algo como jogador?
Não vou mentir dizendo que não gostaria de ter alcançado certos objetivos, mas sei que algumas coisas não seriam possíveis. Conforme o tempo foi passando, fiquei feliz pelas coisas que conquistei. Considero que me tornei profissional desde que saí de Piracicaba para tentar a sorte em São Paulo. Portanto, estou muito satisfeito com o que consegui alcançar na minha vida. Para um menino que sonhava em se tornar profissional, isso é maravilhoso.
 
Paulista deixa o esporte como o quarto maior cestinha da história do NBB 
 
O que Brasília significa para a sua vida?
Brasília foi a cidade onde eu mais fiquei na minha carreira: oito anos. Nunca joguei por tanto tempo assim em outro clube. Tenho uma relação especial com essa cidade, principalmente pelas conquistas e pelo que vivi aqui. Brasília vai morar no meu coração para sempre. Até hoje, tenho uma escola de basquete na cidade, e sempre que posso, tento participar de alguma forma. Além disso, tenho grandes amigos em Brasília. O meu contato com a cidade nunca terminará.

Você fica triste pela queda do nível do basquete da capital?
Acredito que tudo é um ciclo. Depois de alguns anos de sucesso, o antigo clube passou por muitas crises e ficou sem time na temporada passada. Agora, surgiu um novo, então é normal que ele não chegue com força total. Mas a equipe vai evoluir. Espero que Brasília volte a ser uma cidade competitiva e figure novamente entre os times mais fortes do país.
 
No seu útlimo jogo, pelo Corinthians, você foi ovacionado pela torcida do Flamengo. Você esperava aquela reação?
Não esperava. Foi muito especial para mim. Já sabia que aquele poderia ser o meu último jogo, e receber o carinho de um time que sempre foi meu adversário foi emocionante. Principalmente em um momento tão intolerante pelo qual estamos passando atualmente, em que as brigas entre torcidas acontecem com muita frequência. Foi, de fato, um belo reconhecimento.
 
 

Pensa em se tornar treinador no futuro?
Nesse primeiro momento, não. Serei apenas comentarista. Já tenho um acordo com a emissora e a ideia agora é essa. Ainda é cedo para falar de algum projeto como esse, mas vou analisar tudo com muito carinho. Por enquanto, quero descansar um pouco e aproveitar o que não fiz na carreira: curtir minha mulher e filha, além de visitar os parentes.
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