![(Thalita Carauta à esquerda no papel de Paula e Karina Ramil à direita como Luciana (Livres Filmes/Divulgação)) (Thalita Carauta à esquerda no papel de Paula e Karina Ramil à direita como Luciana (Livres Filmes/Divulgação))]() |
Thalita Carauta à esquerda no papel de Paula e Karina Ramil à direita como Luciana (Livres Filmes/Divulgação) |
Para o público acostumado com a persona cômica de Thalita Carauta, ver seu belo trabalho no drama Os Sapos, que entra hoje em cartaz no Recife, no Cinema da Fundação (Derby), pode ser uma boa surpresa.
Adaptando a peça homônima, o roteiro de Renata Mizrahi gira em torno de Paula (Carauta), uma mulher convidada por um amigo do colégio, Marcelo (Pierre Santos), para um churrasco em sua casa isolada numa serra; ao chegar lá, ela descobre que a confraternização foi cancelada, mas acaba tendo que ficar na companhia dele e de sua namorada, Luciana (Karina Ramil). A chegada da hóspede revela questões mal resolvidas entre os anfitriões e o clima se complica com a vinda de um outro casal que vive nas redondezas, Cláudio (Paulo Hamilton) e Fabiana (Verônica Reis), cuja relação abusiva é rapidamente perceptível.
Thalita Carauta estrela atualmente a novela Mania de Você e, no cinema, já fez participações em filmes fora do campo da comédia, como os elogiados O Lobo Atrás da Porta, de Fernando Coimbra, e Divino Amor, de Gabriel Mascaro. Em Os Sapos, ela empresta sua espontaneidade para um papel totalmente naturalista que serve como avatar para o público feminino em meio ao crescente desconforto.
![(Pierre Santos interpreta anfitrião que esquece de desmarcar com a hóspede a confraternização (Livres Filmes/Divulgação)) (Pierre Santos interpreta anfitrião que esquece de desmarcar com a hóspede a confraternização (Livres Filmes/Divulgação))]() |
Pierre Santos interpreta anfitrião que esquece de desmarcar com a hóspede a confraternização (Livres Filmes/Divulgação) |
Quem dirige o filme é Clara Linhart, que, antes de estrear como diretora de ficção no drama Os Domingos, de 2018, desenvolveu uma longa história com o cinema recifense, trabalhando como segunda assistente em Baixio das Bestas, de Cláudio Assis, e primeira assistente em O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho. Em 2011, a cineasta lançou no Janela Internacional de Cinema do Recife o curta Os Sapos, primeira versão para as telas dessa história que se revelou um sucesso no palco nos anos seguintes.
À época da primeira escrita do roteiro de Renata, em 2007, as discussões acerca de assédio sexual, diferentes formas de abuso doméstico, relacionamentos tóxicos, machismo estrutural e violência psicológica não estavam tão evidentes em suas classificações e problematizações midiáticas quanto estão hoje, o que resultou em uma depuração temática que fez muito bem tanto ao texto de Os Sapos (longa) quanto à natureza cinematográfica da sua encenação, visto que, na tela grande, as tensões entre os personagens podem ser exprimidas por meio de atitudes e gestos mais sutis do que no palco.
![(Personagem de Thalita acaba revelando as toxicidades entre os dois casais do filme (Livres Filmes/Divulgação)) (Personagem de Thalita acaba revelando as toxicidades entre os dois casais do filme (Livres Filmes/Divulgação))]() |
Personagem de Thalita acaba revelando as toxicidades entre os dois casais do filme (Livres Filmes/Divulgação) |
Em conversa exclusiva com o Viver, a diretora fala sobre os temas e intenções da produção. “Nossa ideia nunca foi demonizar ninguém, mas mostrar como esses homens estão por aí em todos os lugares e relações. São seus amigos, são caras legais”, explica Clara. “Eu cresci numa geração em que nós, mulheres, fomos ensinadas a silenciar, a esconder nossos incômodos e descontentamentos e quisemos trazer isso para o filme. O fato de hoje haver nomes para tantas formas de violência e toxicidade não significa que elas deixaram de existir, mas que agora a gente tem a percepção para discutir isso e levantar o debate. O filme não tenta dar respostas e, sim, levantar a discussão”.