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CARNAVAL 2025

Carnaval 2025: Marron é a folia mais quente no Recife

Marron Brasileiro foi discípulo de mestres do frevo e hoje é um ícone carnavalesco que pulsa nas ruas

Publicado: 27/02/2025 às 06:00

/Foto: Ruan Pablo/DP Foto

/Foto: Ruan Pablo/DP Foto

Com Brasileiro no sobrenome artístico e Pernambuco no DNA, Marron (sim, com 'N', mesmo) é a personificação de uma folia que nunca se esgota. Mesmo antes da largada oficial do Carnaval do Recife 2025, seus clássicos como Arreia a Lenha, Nas Ondas do Desejo e Galera do Brasil já agitavam multidões nas ruas. Ele é uma força rítmica no coração da maior festa do mundo —  motivo pelo qual será um dos homenageados deste ano. Hoje, a partir das 19h30, Marron comandará a abertura no palco do Marco Zero, ao lado de diversos convidados, como Dany Myler e Michelle Melo.

O carnaval fez morada em Jefferson de Alencar da forma mais tradicional. Aos 4 anos, nos ombros da tia, deixava-se levar pela euforia de Lágrimas de Folião. O encanto de criança virou destino quando, anos depois, foi escolhido pelo Maestro Fernando Borges (1938-1998) para se apresentar no Geraldão, em 1979. “Depois disso, ele me convidou para integrar a orquestra da companhia, e assim começou toda essa trajetória”, relembra em conversa exclusiva com o Viver. 

Fernando Borges foi um mentor importante, mas Marron ainda teve a oportunidade de conviver e aprender com outros ícones. No Centro Profissionalizante de Criatividade Musical do Recife, sob olhar atento do Maestro Geraldo Mennucci (1929-2021), ele lapidou sua compreensão prática. “Tive a oportunidade de ir à casa dele antes de seu falecimento para agradecer pessoalmente. Ele ficou muito emocionado”. Mais um grande mestre em sua caminhada foi o brilhante compositor Carlos Fernando, que o incentivou a dar voz às suas letras. “Ele me falava: quero que você cante meus frevos. Eles são os mais importantes”, recorda. 
 
 
Entre os clássicos que Marron resgatou está Micróbio do Frevo, de Genival Macedo, originalmente gravado na voz de Jackson do Pandeiro. “É um frevo antológico, e fui o primeiro a regravá-lo mais de 50 anos depois”, destaca. Após sua passagem pelos grupos Alcano e Scorpions, se consagrou em Pernambuco e em todo o Brasil com a banda Versão, emplacando hits como É Tanto Amor e Pra Te Namorar. O artista também deixou sua assinatura como compositor de sucessos atemporais, como A Cor do Pecado, que brilhou na interpretação do rei Reginaldo Rossi.

Com um pé no frevo e outro em ritmos como ciranda, caboclinho e coco de roda, o artista evita se rotular e celebra a cultura popular do estado em toda a sua diversidade. “São 46 carnavais de estrada, mas, antes disso, eu já fazia parte dessa festa. Está no meu DNA: o Galo da Madrugada, o Homem da Meia-Noite, as Virgens de Olinda. Pernambuco não me define por um ritmo só. Eu sou tudo isso”, afirma. 

Em sua alquimia musical, o carnaval ganha uma dimensão que foge do escopo mercadológico e se reconecta às suas raízes. “Uma vez cheguei em Boa Viagem, no meio do Carnaval, só tocando axé, e soltei: 'Vou tocar uma ciranda'. Me disseram: 'Você tá louco?'. Não vou esperar o São João pra tocar minha Ciranda. E nesses tempos de agora, vou continuar”, garante.

De espectador nos ombros da tia a homenageado ilustre do Carnaval do Recife 2025, ele celebra uma vida que, como o frevo, nunca perdeu o compasso. "Esta homenagem vai muito além da pessoa, do cidadão, do artista. Ela funciona como um farol para novas gerações de meninos e meninas como eu — que nasceram sem muitas oportunidades. Para os invisíveis. Porque eu fui um invisível. Ninguém via, ou fingia que não via”. Agora veem, dançam… e arreiam a lenha!
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