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EXPOSIÇÃO

Artista visual Fefa Lins abre mostra individual 'Um Plano de Corte' nesta quinta (5), na Torre Malakoff

Pesquisador pernambucano propõe nesta exposição uma investigação focada no ato de cortar, literal e simbolicamente

Publicado em: 04/12/2024 10:26

 (Divulgação)
Divulgação
Nesta quinta-feira (5), o artista visual pernambucana Fefa Lins abre na Torre Malakoff a mostra individual 'Um Plano de Corte', com realização da Amparo 60 através do Edital de Ocupação da Torre, que apresenta um conjunto de seis obras recentes, realizadas entre 2023 e 2024, produzidas pelo artista, entre pinturas a óleo, objeto e escultura em fragmentos de paredes demolidas no centro do Recife. O texto crítico é de Agrippina R. Manhattan, artista visual e pesquisadora de São Gonçalo.

Fefa Lins transita em sua pesquisa entre pintura, identidade e espaço urbano, propondo nesta exposição uma investigação focada no ato de cortar – tanto em seu sentido literal quanto simbólico. Inspirado pelos planos de corte da arquitetura, que revelam as estruturas internas de edifícios, o artista transpõe essa lógica para a pintura, explorando as camadas visíveis e invisíveis que compõem corpos, espaços e histórias. 

O corte, aqui, é um gesto de revelação, uma forma de desconstrução e reconfiguração que conecta elementos estéticos, políticos e autobiográficos. A nova série inédita que compõe a exposição representa uma nova direção na prática artística de Fefa, ao integrar elementos arquitetônicos diretamente em sua obra.

“Trabalhar com esses materiais de demolição tem a ver com a arquitetura, que é minha formação. Mas acho que tem também relação com um fascínio que eu sempre tive, desde a infância, com escombros, com materiais, com o trabalho manual, com o uso de ferramentas. Esses trabalhos me deram uma oportunidade para, de certa forma, mexer com isso. Porque eu pego esses escombros e eu esculpo eles, não só me aproprio e pinto em cima”, conta Fefa. “Eu não sei de onde vieram esses fragmentos, eles podem ter sido tantas coisas. Eu acho que de certa forma é uma libertação, você tirar aquele pedaço de parede da sua função original que era sustentar algo e transformar numa peça muito frágil. Quando você corta algo isso revela outras coisas, revela uma fragilidade, mostra o que tem dentro. Você desencaixa um pedaço de algo que ele deveria ser e ele pode ser outra coisa, pode se transformar”, reflete. 

Os fragmentos, obsoletos e desgastados, são transformados em em suporte e superfície para pintura, onde a memória urbana se funde às narrativas pessoais. A escolha desse material também destaca a relação entre ruínas e desconstrução, tanto no espaço físico quanto nos processos de subjetivação.

Entre as outras obras apresentadas, destaca-se Autorretrato com e sem seios (2020-2024), uma pintura que retorna a Recife após passar por exposições em outras cidades. A obra carrega as marcas de sua trajetória física e simbólica: foi cortada em duas partes, costurada e agora exibe cicatrizes que remetem às próprias marcas da transição no corpo do artista. Dividindo o mesmo tecido, as duas figuras representadas na pintura contrastam – uma com seios, outra com peito liso – sublinhando a ideia de transformação como um processo contínuo, sempre em trânsito.

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