MÚSICA
Odair José volta ao Recife no Projeto Seis e Meia, no Teatro do Parque
Cantor conversa com o Viver sobre a construção do repertório, seu processo criativo e temáticas que permeiam suas canções
Por: André Guerra
Publicado em: 11/09/2024 06:00
Foto: Bernardo Guerreiro |
Em sua segunda visita ao Recife neste ano, Odair José traz ao Teatro do Parque, no Projeto Seis e Meia, nesta sexta-feira, uma apresentação aguardada pelos fãs de seus 50 anos de carreira. Reconhecido por seu papel transformador na música popular brasileira, especialmente na década de 1970, o cantor segue ativo como sempre, com novos discos e canções que, em alguns casos, revisitam seu legado e, em outros, propõem novas percepções sobre o mundo e sobre a música.
Com abertura da Banda Corações Selvagens, projeto recifense criado em 2015 por Juvenil Silva, trazendo o show 'Noite Belchiana', o espetáculo de Odair faz parte de sua turnê comemorativa de 75 anos, que começou em 2023. Por muito tempo, ele ficou célebre como 'o cantor da pílula' e sua obra se prova mais a cada década um aceno constante a temáticas sociais latentes que o provocam do ponto de vista criativo. Refletindo sobre os assuntos que movimentam sua arte, Odair conta ao Viver um pouco da sua autopercepção através de uma trajetória tão longa e ainda em constante alteração.
ENTREVISTA DE ODAIR JOSÉ AO VIVER
Para construir um repertório de uma turnê comemorativa como essa você sente que precisa buscar mais dos seus sucessos originais ou relembrar um pouco de tudo?
"Na verdade, é muito misturado, sabe? Achar um repertório pra levar ao palco, depois de 54 anos de estrada, é complicado. São 39 discos, com o que eu acabei de lançar, e tem um universo de umas 50 músicas que as pessoas adoram sempre querem ouvir. Eu fui me convencendo ao longo dos anos de que tem que ser um pouco de tudo, sim, mas as coisas lá de trás são muito importantes até para que a gente consiga agregar o leque de gerações que costuma, felizmente, frequentar meus shows."
Como é perceber o quão abrangente se tornou seu público desse ponto de vista geracional?
"É muito prazeroso para mim esse encontro de gerações e me dá a oportunidade de juntar diferentes fazes da minha carreira e notar, assim, como meu trabalho do começo era de fato interessante, mesmo que não todo ele. Aquilo que o público lembra tinha e tem, sim, um valor. Evidentemente, eu tenho um período, (acho que todo mundo tem) que poderia ter sido melhor, mais pensado. Mas quando eu olho lá para a década de 1970, quando eu era bem imaturo, é um trabalho que tem sim sua infantilidade, natural da minha idade à época, mas tem muito mais qualidade musical do que eu estimava alguns anos atrás."
Você acha que suas composições contemporâneas resgatam esse Odair do começo da carreira?
"Houve um hiato em determinado momento em que eu me desliguei do que eu era e fiquei meio sem prumo, eu diria, meio perdido no mar. Mas eu diria que, sim, que o Odair José dos últimos anos, ironicamente, tem muito em comum com aquele lá do início. Acho que algumas das observações e inquietações são as mesmas. Eu fui uma pessoa que foi evoluindo aos poucos; amadureci muito ali no final da década de 1970 e, depois de um tempo, de fato me senti como um navio que perdeu a bússola. Mas o Odair José dos últimos 10 anos, mais ou menos, é, com toda a diferença do tempo na estrada, muito parecido com o jovem músico cheio de sonhos e inquietações sobre o mundo."
Você embarcou recentemente no projeto 'Seres Humanos (e a Inteligência Artificial)', ao lado de Junior Freitas. É uma necessidade sua buscar esse artifício da IA para agregar ao seu trabalho ou foi algo que chegou até você?
"O projeto tem 13 músicas com a cara de Odair José, e qual é essa cara? Sou eu fazendo uma leitura sobre o que eu vejo no ser humano, o que é como eu escrevo. Não diria que sinto essa necessidade, mas gosto de escrever sobre o que eu observo nas pessoas. Eu tento passar uma mensagem dando um toque sobre algum tema que me ativa a curiosidade, para que o público preste atenção nisso e naquilo. E nesse disco eu falo sobre o 'ser' humano, de uma maneira que eu achava que precisava falar. Acho que nós caminhamos às vezes para o abismo da involução e deixa de olhar para certas coisas que precisam ser olhadas. Passei a prestar atenção em como as pessoas de modo geral tendem a repetir mais os erros do que os acertos e fui buscando um disco que falasse do ser humano não de uma forma negativa, mas não de maneira só elogiosa também. Mas isso não é uma necessidade minha no sentido de estar envolvido em algo para ser diferente. É por achar que deveria falar do assunto como eu fiz com a pílula nos anos 1970."
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