LITERATURA
Para cada seca, um chover
Um dos maiores clássicos da literatura brasileira, de Graciliano Ramos, %u2018Vidas secas%u2019 ganha versão em cordel com ilustrações inspiradas no Movimento Armorial
Por: André Guerra
Publicado em: 03/08/2024 06:00
Divulgação |
universo poderosamente trágico de uma da obras brasileiras mais influentes do século 20 ganhou uma roupagem que tanto reverencia o escritor alagoano quanto enriquece a experiência de sua leitura. Vidas secas em cordel, uma parceria entre o escritor Josué Limeira e o ilustrador Vladimir de Barros, terá seu lançamento em Recife hoje, às 15 horas, na Livraria Jaqueira, no Recife Antigo, com a presença dos autores.
Inspirados pelo livro icônico de Graciliano Ramos – cuja obra caiu em domínio público desde o início deste ano – e pelo Movimento Armorial, que está completando 50 anos, a dupla se lançou diante desse desafio de dar nova vida a uma história clássica em sua escrita e antológica em sua tristeza. Mantendo-se fiéis à narrativa original, publicado em 1938, eles seguem retratando a miséria enfrentada por Fabiano, Sinhá Vitória, seus dois filhos e a cadela Baleia, tratada por todos como um membro da família, em meio à seca nordestina.
A essência dolorosa da história, porém ganha um tratamento que valoriza o que ela possui de belo, esperançoso e resiliente, buscando não apenas reapresentar Vidas secas para aqueles que já conhecem a trama mas, principalmente, aumentar as possibilidades de contato da obra com públicos de diferentes faixas etárias. A influência de Ariano Suassuna e do Armorial é notável na arte de Vladimir de Barros nas duas versões anteriores para o formato de cordel que ele produziu ao lado de Josué – O pequeno príncipe e A revolução dos bichos –, e aqui, com Vidas secas, essa estética ganha força desde a tipografia na abertura dos capítulos até todos os traços que marcam as ilustrações da publicação. Os versos metrificados e rimados, marcados pela cadência e musicalidade, evidenciam a força poética dos lugares retratados e potencializa sua melancolia ao passo que lhe confere uma riqueza oral adicional.
"Pensei muito em como trabalhar o Armorial, que sempre buscou o sertão lúdico, da fantasia, algo, enfim, totalmente diferente do livro, que é denso, pesado e cheio de mazelas humanas e sociais, mas nossa arte vem muito de encontrar beleza nesse contexto trágico e nada como a ilustração para transformar e reapresentar essa tristeza em algo que, de alguma forma, inspira esperança. Quis representar o sertão como um reino encantado, para enaltecer a força desta região brasileira”, afirmou Vladimir ao Viver.
A adaptação cinematográfica Vidas secas, dirigida por Nelson Pereira dos Santos, completou 51 anos e é um dos maiores clássicos do cinema brasileiros, um dos principais da primeira fase do Cinema Novo e listado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema como um dos 100 filmes essenciais do país. De acordo com Vladimir, tanto a obra original quanto o filme tiveram grande impacto no seu trabalho. “Demorei para ver o filme, por receio de chegar numa parte crucial e trágica que os leitores já conhecem, mas quando assisti foi uma experiência tão marcante quanto a do livro. E a Baleia, cachorrinha central na história, é particularmente importante nas minhas ilustrações ao final desta nossa adaptação”, destacou o ilustrador.
"Sou um sertanejo que, assim como Graciliano, escreve a partir de uma experiência de vida, da infância. Tudo que li no livro pela primeira vez é muito semelhante ao que era passado na Paraíba, minha terra, e quando a proposta de produzir esse projeto veio, por parte da editora, foi uma jornada de muita profundidade, porque, ainda que os nossos trabalhos anteriores, sejam adaptações de histórias profundas também, essa especificamente é a nossa história, da nossa realidade do Brasil. E ao mesmo tempo queria trazer suavidade a essa história, mostrando como o nosso povo é esperançoso e forte, capaz de superar essas adversidades. Que venha um chover a cada vida seca", completou Josué.
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