Aguardado 'Estômago 2: O Poderoso Chef' tem reação inicial dividida em Gramado

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Um dos filmes mais aguardados do 52º Festival de Gramado, Estômago 2: O poderoso chef, continuação de Estômago, de 2008, tanto surpreendeu como frustrou parte da crítica e do público após a exibição no último domingo (11). Segundo longa-metragem da mostra competitiva desta edição do evento, o trabalho dirigido por Marcos Jorge, que também comandou o anterior, é um projeto consideravelmente maior e mais arriscado, com grande parceria italiana na produção, financiamento e estrutura narrativa.

Na trama desta sequência, o icônico cozinheiro de mão cheia Raimundo Nonato (João Miguel) segue preso e agora como chef, conquistando espaço ao lado do diretor do presídio e ainda do líder dos detentos (Paulo Miklos), mas tudo muda com a chegada do real protagonista dessa nova história, o mafioso Dom Caroglio, cuja história pregressa passa a ser narrada com a mesma estrutura de flashbacks do primeiro filme.

REPERCUSSÃO

Com estreia nos cinemas agendada para 29 de agosto, Estômago 2 impressionou parte do público em Gramado pela sua escala de produção, que passa de ambientações fechadas para momentos de um grande filme de ação, com intrigas de máfia inspiradas no imaginário cinematográfico estrangeiro e referências indiretas a grandes filmes de presídio de Hector Babenco. A surpresa também foi acompanhada de frustração, no entanto, como pontuou o crítico Luiz Carlos Merten, que destacou negativamente o tratamento do personagem de João Miguel dentro da história. "Várias outras pessoas com quem eu conversei sentiram também a mesma coisa, uma sensação de frustração com os rumos que o filme escolheu para o personagem", comentou Merten na coletiva de imprensa realizada na manhã desta segunda (12).

Ainda durante o debate, a qualidade da produção, direção de fotografia e trabalho de som foram elogiados por parte do público, assim como a ambição de fazer um grande filme de gangster, ainda que muitos espectadores e críticos tenham tido problemas com a quantidade de informações trazidas pelo filme. O próprio Marcos Jorge admitiu que possa ter colocado elementos demais no longa, mas que um dos seus principais objetivos era provocar esse impacto e mobilizar emocionalmente as pessoas com coisas que elas não estão esperando.

"Parte da graça de um filme é a gente não ter exatamente aquilo que está esperando. Eu gosto da provocação, de porpor algo diferente, e foi isso que buscamos com esse filme. É algo desafiador, que demandou muito tempo de produção e principalmente de pós-produção, que foi bem longa e complicada", contou.

Sobre a repercussão inicial, o cineasta declarou ainda que, assim como aconteceu com o primeiro filme, espera que essa continuação ganhe tração e popularidade com o tempo. "Estômago foi muito criticado quando foi lançado; muita gente gostou, mas muita gente falou mal ou não entendeu bem a proposta. Mas foi um filme que ganhou o lugar dele com o passar dos anos e acabou adquirindo esse status de cult. Esperamos que aconteça isso de alguma forma com esse segundo, que é ainda mais ousado", disse Marcos. 

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AS ORIGENS DA CONTINUAÇÃO

De acordo com o diretor, a ideia para o segundo filme veio da produtora Claudia da Natavidade e as filmagens aconteceram em duas etapas, quatro semanas no Brasil e mais quatro semanas na Itália, no primeiro e no segundo semestre de 2022 respectivamente. Estômago 2 tem praticamente a metade dos diálogos falados em italiano (sobretudo a parte rodada em Roma) e mantém a receita de misturar duas histórias aparentemente distintas que gradualmente vão se cruzando - o que, neste caso, aumentou a escala dramática e visual.

"Essa estrutura de dois filmes em um só é uma das coisas mais legais e ousadas no primeiro Estômago, e a nossa ideia foi trazer isso de volta aqui, mas a preocupação principal era também não repetir isso com o Nonato. Por isso elegemos esse novo personagem, do Nicola, e a partir daí elaboramos toda essa nova história que vai alimentando o núcleo principal na cadeia", comentou Marcos Jorge em entrevista ao Viver. "A receita de um bolo não é uma fórmula matemática, ela vai mudar de acordo com a mão de quem prepara. E isso se reflete também no filme. Mesmo usando essa receita do primeiro, esse segundo tem uma mão bem diferente a partir desse ingrediente italiano. É o cozinheiro ou, nesse caso, o diretor e a equipe que, no preparo, vão mudar tudo".

"Todos os países da Europa fazem isso no cinema, de misturar línguas: filmes franceses tem diálogos falados em inglês, em italiano. Eu pensei: por que a gente não pode fazer isso também?", comentou Claudia, a produtora, na coletiva de imprensa quando perguntada sobre o desafio de exibir no Brasil um filme com metade das cenas legendadas.

A equipe disse ainda que, por enquanto, não está descartada a possibilidade de um 'Estômago 3', mas a concretização dessa possibilidade depende de vários fatores. "As coisas mudam muito rápido com relação a isso, mas vamos ver. Pode haver sim outra sequência mais adiante", afirmou Marcos. 

AUSÊNCIA DE JOÃO MIGUEL 

Em momento de tensão na coletiva de imprensa de Estômago 2, foi perguntado à equipe do filme o motivo de o ator principal dos dois filmes não estar presente em Gramado para a primeira exibição do filme. Em resposta curta, a produtora afirmou que João Miguel não pôde vir por motivos de "força maior" e negou especulações de que ele ficou insatisfeito com o filme. Permaneceu sem confirmação a razão da ausência de João, mas o diretor reafirmou que não podem falar mais nada além da expressão enigmática utilizada por Claudia.