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Baile de Carlos pelo forró em voo solo

Pernambucano lança disco autoral Baile Brasileiro com incursões pela origem interiorana e experiência de 15 anos de estrada

Publicado: 08/06/2024 às 07:00

/Sidarta/ Divulgação

/Sidarta/ Divulgação

As origens sertanejas retornam à vida do cantor pernambucano Carlos Filho em forma de inspiração para o lançamento de um álbum inteiramente dedicado ao mais nordestino dos gêneros brasileiros - o forró. O artista, projetado nacionalmente depois de chegar à semifinal do The Voice Brasil, reality show de talentos musicais da Globo, apresenta as canções de Baile Brasileiro através das plataformas de streaming nesta sexta-feira. O disco conjuga as reminiscências interioranas com as inspirações dos clássicos e de uma longa trajetória poética de mais de 15 anos de estrada, com direito a participação no show do mestre Milton Nascimento, de passagem pela bandavoou e pelo grupo Estesia. É a estreia do artista de Serra Talhada, no Sertão, à frente de um álbum em carreira solo.

É possível associar o cantor ao forró por conta da interpretação de “Enquanto Engoma a Calça”, canção de Ednardo com a qual foi selecionado para o talent show global. Mas é a primeira vez do pernambucano pela musicalidade popularizada pelo rei Luiz Gonzaga. “Baile brasileiro” tem sete faixas gravadas ao vivo nas quais Carlos embarca na estrada, vai e volta do interior e incorpora referências musicais e poéticas em um trabalho, ao mesmo tempo, moderno e respeitoso à tradição - e, não por acaso, chega ao público no mês junino.

“Não tenho a preocupação de me sentir na obrigação de sustentar uma tradição, pois sei que ela tem que seguir em frente”, crava Carlos, sobre as discussões em torno da perpetuação do forró e das transformações incorporadas ao longo das décadas. Para ele, é também o fruto de uma jornada para “fazer as pazes” com as próprias origens, com a música ouvida desde a infância, mas da qual fugiu por um bom tempo, até atingir uma relação livre de romantização ou idealização.

O pernambucano pede licença e atenção com “Aboio, Afeto y Recanto”, faixa de abertura que nos remete à sonoridade das cantorias e dá o mote da sua chegada: “cantar sobre o meu povo, emprestar a minha voz, essa voz não é só minha, traz a dor e a beleza das águas do Pajeú” ao mesmo tempo em que sentencia “No meu peito arde um braseiro/ Quero fogo no salão/ Pra animar o povo inteiro”. As faixas têm arranjo e Felipe Costta, que toca sanfona no álbum e conta ainda com Júnior Teles (zabumba, pandeiro, triângulo, ganzá e reco), Sarah Leandro (voz), Felipe de Lima (baixo) e Tombc (synths). 

A toada segue entre a reverência aos gêneros tradicionais e a rotina na capital, onde participa ativamente do efervescente cenário forrozeiro e já cantou em parceria com nomes como Maciel Melo, Santanna, Petrúcio e Pecinho Amorim, Cristina Amaral, Nena Queiroga, entre tantos outros. Em “Barraco na Ribeira”, composta por Giuliano Eriston, a poesia surge do convite para o amor em um local humilde à beira do rio onde as brechas deixam passar tanto a luz do Sol quanto a água da chuva que “molha o colchão”.

Um dos temas mais recorrentes e marcantes do cancioneiro brasileiro, a dor da separação é tema de “Cuidar de Mim”. Composta em parceria com o sanfoneiro Itallo Costa, percorre o ciclo de negação, orgulho, superação e autoconhecimento típicos do término. O tom reflexivo se espalha pela faixa seguinte, “Devagar, Meu Bem”, mais uma de Giuliano Eriston. É um convite a desacelerar, apreciar o momento presente e encontrar conforto na presença um do outro, algo tão diluído na correria contemporânea.

“Maçã do rosto”, de Djavan, é a quinta do álbum. Entre a súplica e um erotismo singelo, é uma mistura deliciosa de sensualidade e carinho, embalada por uma brincadeira musical entre o baião e o xote até atingir o clímax de “Vem morrer nesse beijo que eu vou te dar/ Por você meu desejo aumentou e pode me matar”. Parceria com Eriston, “Tu Vai Ver” é uma das canções mais divertidas e astutas. Expõe o jogo de conquista e o desenrolar do desejo, para depois colocar em xeque essas estratégias sentimentais.

O fole da sanfona ronca mais alto na faixa de encerramento, “Forró da Tia Lila”, como quem encerra a festa com um tributo a esse instrumento que tem vida própria na musicografia brasileira. Composta pelo instrumentista e compositor Felipe Costta, que assina os arranjos do álbum, a peça instrumental foi batizada segundo a tia de Felipe, que superou um problema de saúde durante o período de produção do álbum. Ao mesmo tempo alegre e comovente, refletindo tanto a leveza da recuperação quanto a dificuldade superada.
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