TEATRO

Espetáculo no Hermilo Borba Filho dá voz às heroínas da Ditadura Militar

Grupo de Teatro João Teimoso aborda horrores que mulheres sofreram após Golpe de 1964

Publicado em: 27/05/2024 06:15 | Atualizado em: 27/05/2024 13:16

Atrizes encenam abusos sofridos por mulheres durante a repressão militar  (Crédito: Divulgação)
Atrizes encenam abusos sofridos por mulheres durante a repressão militar (Crédito: Divulgação)
Silenciadas, torturadas e vítimas de abusos, inúmeras mulheres sofreram atrocidades nas mãos do sistema de repressão da Ditadura Militar. A desumanização dos corpos femininos durante essa época sombria do país é o tema da peça "Retratos de Chumbo, As Rosas que Enfrentaram os Canhões". Pouco mais de um ano depois, o Grupo de Teatro João Teimoso retorna com duas apresentações, no próximo sábado (1º) e domingo (2), ambas às 19h, no Teatro Hermilo Borba Filho. Os ingressos estão à venda no Sympla por R$ 20 (meia-entrada) e R$ 40 (inteira)

Baseado em depoimentos e entrevistas das sobreviventes, o espetáculo enaltece as heroínas que desafiaram o regime autoritário, cujas vozes foram marginalizadas durante muito tempo. “Optamos por abordar, através da ótica feminina, a questão da ditadura militar como forma de reconhecer e honrar a luta das mulheres, que enfrentaram sofrimentos e desafios frequentemente maiores do que os homens”, aponta o diretor Oséas Borba Neto, que comanda o Grupo de Teatro João Teimoso há 23 anos. Sobem ao palco as atrizes Chell Moriim, Carla Patrícia e Rafaella Pallatos, com Clara Alves, Cattleya Lavigne e Kelly Santos como elenco de apoio.

A luta das mulheres é expressa de duas maneiras distintas no palco: cenas de tortura, onde há simulação dos abusos perpretados pelos militares. Além disso, através dos diálogos e monólogos, a peça retrata as cicatrizes, visíveis ou invisíveis, no pós-ditadura. “Queremos evidenciar que, apesar de terem suportado tudo isso, essas mulheres carregam suas marcas e cicatrizes, mas ainda assim continuariam vivendo e lutando. Como perguntamos a uma delas: ‘se houvesse um novo golpe, o que você faria?’ E ela respondeu: 'Eu faria tudo novamente'. Essa frase também está presente no texto da peça”, explica Oséas. A peça traz uma homenagem à Dona Elzita Santa Cruz, mãe do desaparecido político Fernando Santa Cruz.

Lançado em 2019, em repúdio à retórica beligerante do ex-presidente Jair Bolsonaro, o espetáculo volta à cena um ano depois, não por acaso, quando o Golpe Militar completa 60 anos. Oséas chama atenção para o papel fundamental da cultura contra a escalada golpista. “Acreditamos que a arte, especialmente o teatro, é uma ferramenta crucial para a conscientização. Se a religião pode ser usada para alienar através do fundamentalismo, por que não utilizar o teatro para educar? Assim, decidimos continuar com a peça para relembrar o que aconteceu e garantir que tais eventos nunca mais se repitam”. 

A peça tem sido levada além dos palcos, com apresentações de trechos em escolas, sindicatos e eventos. “O objetivo é alcançar o público onde ele está. Além disso, planejamos envolver movimentos sociais, estudantes e moradores de periferias para assistir à peça, visando promover essa conscientização. Para isso, estabelecemos parcerias com sindicatos, que se tornam nossos aliados na missão de trazer esse público, muitas vezes distante do teatro, para uma peça tão relevante como essa, com o intuito de conscientizar e educar essas pessoas”, conclui o diretor da peça.
 
FICHA TÉCNICA:
Texto e Encenação: Oséas Borba Neto
Assistente de Encenação: Chell Moriim
Iluminação: Karine Lima e Tales Pimenta 
Sonoplastia: Lucas Lima
Assistentes de Produção: Rogério Barbosa, Matheus Albuquerque 
Elenco: Chell Moriim, Carla Patrícia e Rafaella Pallatos 
Atrizes Coringa: Clara Alves, Cattleya Lavigne e Kelly Santos 
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL