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Conheça a história da artesã paulistana que escolheu Recife para viver

O encontro da artesã com o macramê, artesanato baseado em amarrações feitas apenas com as mãos, onde os nós que criam a trama e até mesmo desenhos geométricos, não precisando de nenhum tipo de ferramenta, teve início ainda na escola, no ano de 2003

Publicado em: 25/03/2024 20:29 | Atualizado em: 25/03/2024 22:29

 (Arquivo Pessoal)
Arquivo Pessoal

 

Mulher, mãe, arte e força, são algumas das palavras que narram a vida da artesã, Nicole Torkar, 37 anos. Nascida na capital de São Paulo e criada na praia de Boiçucanga, localizada na cidade de São Sebastião, no litoral Norte de São Paulo, desde criança foi envolvida com expressão artística e quando era adolescente começou a fazer trabalhos manuais, mais tarde tendo o artesanato como profissão. Também na adolescência surgiu o sonho de viajar e conhecer o Brasil. Nicole conseguiu chegar a muitos estados brasileiros, enfrentou riscos, viveu momentos de felicidades, até escolher Recife para virar sua casa.

 

Nicole conta que a vontade de viajar pelo Brasil sempre foi um sonho muito forte, que a acompanhou desde a adolescência. Ainda na fase da escola, ela tinha como objetivo iniciar sua trajetória para conhecer cidades brasileiras e a vida de seus moradores. “Estudei em escola particular a vida toda e enquanto minhas amigas sonhavam em fazer a faculdade de Administração, Biologia, Relações Internacionais, eu sonhava em ingressar no Projeto RONDOM, que deixou de existir em 2023. Era um projeto que selecionava estudantes de todo o Brasil para viajar por cidades mais afastadas, com o intuito de estudar, compreender as diversas realidades da sociedade e encontrar soluções sustentáveis para transformar, numa perspectiva mais cidadã e próxima de uma justiça distributiva” explicou.

 

Nos doze anos seguidos viajando pelo território brasileiro, Nicole guarda, com um carinho imensurável, como a melhor coisa que já viveu, a sua passagem numa cidade litorânea da Bahia, Belmonte, para onde viajou com mais cinco pessoas. Ela relembra que todos os viajantes foram acolhidos por uma família humilde e de um coração gigante, que se encantou com a história deles e os levou para a própria casa, fornecendo descanso e comida. No dia seguinte, eles se disponibilizaram a ajudá-los a seguir em viagem, oferecendo uma carona de canoa para o próximo destino do grupo, a cidade de Canavieiras, na Bahia. “Eram sete pessoas numa canoa motorizada, com uma bagagem, que fazia quase a canoa não andar, a gente mal podia mexer para que ela não virasse. Foram 2h de navegação e num determinado ponto de paisagem exuberante, paramos para tomar um banho de mar e quando estávamos todos na água, o rapaz da canoa que nos levava olhou e disse: ‘Rapaz, se eu fosse vocês, não demorava muito. Aqui é berçário de tubarão e eu já vi foi dois passando ali’. Todo mundo foi nadando desesperado para dentro da canoa. Nessa cidade eu aprendi que a gente não precisa ter dinheiro pra ajudar o próximo, a gente precisa ter amor dentro do coração”, disse Nicole.

 

Durante sua trajetória de viagens, a paulistana conheceu 18 dos 26  estados do Brasil , além da capital. Viveu momentos de alegria e também correu riscos em alguns percursos trilhados. Em Recife, a sua história foi de afinidade, assim que chegou à cidade, escolhendo-a para morar. “Infelizmente, uma mulher viajando sozinha, é sinônimo de vulnerabilidade nesse país. Uma das piores coisas que passei foi logo no início, quando eu tinha uns 19 anos, estava viajava só e peguei uma carona de caminhão que ia do Rio de Janeiro para o Espírito Santo. Na madrugada, no meio da estrada, o caminhoneiro tentou me violentar sexualmente e por um milagre eu consegui fugir, correndo por km sem fim, pelo acostamento da estrada até encontrar ajuda. Abandonei toda a minha bagagem que era a minha casa e o meu trabalho ao mesmo tempo, dentro do caminhão, mas escapei intacta. A cidade do Recife me ganhou desde o primeiro momento que coloquei meus pés aqui, em 2014”, descreveu. 

 

FORÇA E ARTE

 

Nicole é mãe da Nayê Flor, de 15 anos, e da Nyara, de 8 anos e define que as filhas representam uma única palavra na vida dela: força. Ela destaca que por elas que faz tudo acontecer. Entre os principais desafios de ser mãe solo está o dia a dia corrido. “Minha rotina como mãe solo é uma grande ‘loucura’, eu não paro. No primeiro ano de separação, eu de fato achei que não ia conseguir. Pensei em desistir e voltar para casa da minha mãe, inúmeras vezes. Hoje, eu olho e penso: ‘Poxa, tirei leite de pedra e ainda lapidei’. A dificuldade é dar conta de tudo ao mesmo tempo, mas têm vários dias que eu dou. Coloque amor nas relações com as mulheres que te cercam. São elas que nos acolhem quando colapsamos”, disse Nicole, com um sorriso no rosto afirmando ser feliz. 

 

A artesã Nicole destaca que a expressão artística, em suas diversas formas e os trabalhos manuais sempre estiveram presentes na sua vida. “Desde pequena participei de grupos de dança e na adolescência, de maneira mais profissional, fiz parte do corpo de dança contemporânea com a maravilhosa, Andrea Pivatto, de São Paulo. Depois participei do grupo de Percussão de Antônio Nóbrega no Instituto Brincante, também em São Paulo e aos meus 15 anos tive minha primeira conexão com trabalhos manuais. Momento em qual me apaixonei pela profissão, que na época nem tinha conhecimento de que era considerada uma”.

 

O encontro da artesã com o macramê, artesanato baseado em amarrações feitas apenas com as mãos, onde os nós que criam a trama e até mesmo desenhos geométricos, não precisando de nenhum tipo de ferramenta, teve início ainda na escola, no ano de 2003, quando ela dividia as atribuições com uma melhor amiga, a Vyvian, sendo montada uma mini empresa para vender os produtos no horário do recreio. Nicole levava uma caixinha cheia de macramê para escola e saia vendendo para os estudantes no corredor. Já sua amiga passava com um caderninho na mão anotando o nome de quem comprava para pagar depois e ficava responsável por cobrar, caso necessário. Hoje, Nicole tem uma empresa, a Raízes, onde são vendidos acessórios em macramê. “A Raízes é a minha vida. A gente é uma coisa só, juntas, uma conexão misturada com energia que dá uma bomba de gás e explode resultado. Eu sou ela, as meninas são ela. A Raízes é a nossa raiz, nossa essência, o que a gente tem da gente pra mostrar pra vocês. É um grande amor”, enfatiza a artesã. 


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