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MÚSICA

Clássico do Rush completa 50 anos

Primeiro disco do trio canadense tem heavy metal, hard rock e até blues

Publicado em: 18/03/2024 16:06 | Atualizado em: 18/03/2024 19:21

Trio canadense Rush (Foto: Divulgação)
Trio canadense Rush (Foto: Divulgação)
Por João Carvalho
Especial para o Diario 
 
Já no estúdio, pronto pra gravar a voz das músicas do primeiro disco da banda, Geddy esperava John Rutsey com as letras. Afinal, era ele quem tinha ficado com tarefa de compor. Para surpresa de Geddy e do outro companheiro de banda, Alex, essas letras nunca chegaram. Dois dias se passaram e ninguém sabia onde John estava. “Recebemos uma mensagem dele, que dizia basicamente: não fiquei satisfeito com as letras, então rasguei tudo”.  É dessa forma caótica que começa a história do primeiro disco de um dos maiores power trios da história do rock. Há exatos 50 anos, no dia 18 de março de 1974, o Rush lançava de forma independente, com um título homônimo,  o primeiro disco da carreira. Naquela época, com Geddy Lee (vocal, baixo e teclado), Alex Lifeson (guitarras) e John Rutsey (bateria). 

A história do Rush tinha começado seis anos antes,  em 1968, num bairro do subúrbio de Toronto, Canadá. Foi lá que os amigos Alex e John resolveram formar uma banda pra tocar músicas do The Who, Cream e tantas outros grupos que faziam sucesso na época. Depois de algumas formações, o trio finalmente se acertou definitivamente com Geddy e seguiram em frente mas as coisas mudaram quatro meses depois de lançar o primeiro disco.  Devido a problemas de saúde e de afinidades musicais, Rutsey foi substituído por Neil Peart. Além de assumir as baquetas, Peart foi responsável pelas letras, até o fim da banda, em 2018.

Ainda com Geddy, John e Alex, o Rush ralou muito para conquistar o público com o primeiro álbum. Começando com a falta de comprometimento do que deveria ter sido o compositor oficial, transformando fato num verdadeiro tiro no pé. O trabalho de letrista teve que ser imediatamente incorporado por Geddy. “Eu me sentei para completar as letras das músicas que já tínhamos, uma por uma, baseadas nos meus improvisos no palco”, lembra ele,  na autobiografia “My Effin´ Life”. Isso tudo sendo feito dentro do estúdio, com Alex ainda afinando os arranjos.

Para esse lançamento, outra batalha a ser vencida, já que nenhuma gravadora topou assinar contrato com os caras. Mas o Rush já tinha  ganhado a confiança de um jovem empresário de Toronto, Ray Danniels, que havia criado a produtora Anthem para empresariar o Rush (outros artistas vieram depois). Apesar da pouca experiência, Danniels era ousado, criativo, daquelas pessoas que não desistem nunca. Foi com esse espírito e o apoio de um sócio recém chegado, Vic Wilson, que eles criaram o selo Moon Records para peitar o mercado e lançar o disco. 

Pra gravar o álbum, foi trabalho duro. A banda tocava em bares de Toronto durante a noite e parte da madrugada. Depois, seguiam direto para o estúdio. “Cinco sets por noite, então carregávamos o equipamento à uma da manhã e levávamos ao estúdio. Era um tipo de estúdio de oito canais, pequeno, gravávamos a noite inteira e depois transportávamos o todo o equipamento de volta para o bar”, explica Geddy. “Dormíamos algumas horas. Voltávamos para fazer o show e depois seguíamos para o estúdio”, lembra.

A dor de cabeça não seria provocada apenas pelo cansaço no processo shows-estúdio-shows. Depois de gravado, o disco inteiro foi mixado em apenas três horas, por um britânico chamado David Stock, que já tinha trabalhado para a Anthem. “Quando escutamos o resultado, ficamos muito desapontados, parecia um disco sem personalidade. Um desastre completo diante de nossos olhos, com um som tão ruim, tão sem estilo. Parecia insignificante”, explicou Geddy. Mas nem tudo estava perdido: entrou em cena, então, a competência e genialidade de outro produtor e engenheiro de som inglês, chamado Terry Brown.

Amigo do empresário Vic Wilson, Terry se trancou num estúdio com a banda durante três dias. Fora regravadas partes da guitarra e algumas músicas foram deixadas de lado. A banda gravou músicas novas, escritas enquanto encaravam essa verdadeira “reciclagem” no material. “Ficamos mais animados porque finalmente parecia nosso som”, relembra Geddy Lee. E foi assim que o primeiro álbum foi criado. 

Mas ainda faltava ganhar o mundo. As 3.500 cópias iniciais, com o selo independente, foram vendidas rapidamente. As faixas mostram um compilado do mais puro heavy metal, hardrock  e até blues dos anos 70: "Finding My Way", "Need Some Love", "Take a Friend",  "Here Again", "What You're Doing", "In the Mood", "Before and After" e o clássico "Working Man". Mais cópias foram prensadas, somando 5 mil discos para o Canadá e outros 7 mil espalhados pelos Estados Unidos.
 
Uma dessas cópias chegou às mãos da DJ Donna Halper, de uma rádio de Cleveland, e a audiência explodiu. Semanas depois, o chefe de promoção nacional da Mercury Records entrou em contato com os empresários e daí tudo aconteceu. O Rush fechou contrato e na primeira semana de agosto, com Rutsey sendo substituído por Neil Peart, o disco chegava às lojas de todos os Estados Unidos.

Ao todo, o Rush gravou 20 álbuns de estúdio, 10 álbuns ao vivo. Também foram lançados 10 shows em DVD, além de uma dezena de coletâneas. Dois filmes também foram lançados, contando a história da banda.  A banda encerrou suas atividades em 2018, mas sempre existiu uma ponta de esperança de que eles pudessem fazer um novo disco. Ou até, quem sabe, uma curta turnê. Mas com a morte de Neil, em 2020, devido a um raro câncer na cabeça, terminou de vez qualquer chance de volta.  

Com 24 álbuns de ouro e 14 de platina (3 multi-platina), os canadenses ficam em terceiro lugar (atrás dos Beatles e Rolling Stones) com a maior quantidade de discos de ouro ou platina consecutivos para uma banda de rock.  Até hoje o trio é cultuado com uma das maiores bandas de rock de todos os tempos. 

ENCONTRO DE FÃS - Atualmente o Brasil é palco do maior encontro de fãs do Rush no mundo. Batizado de Rush Fest, o evento acontece anualmente em Criciúma, em Santa Catarina, e atrai amantes da banda de todo o Brasil. Este ano, o evento acontece nos próximos dias 12 e 13 de abril e vai trazer bandas da Escócia, Chile e Estados Unidos, além de uma banda brasileira.  

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