CINEMA

'Aquaman 2: O Reino Perdido' recicla qualidades do anterior em narrativa bagunçada e genérica

Filme protagonizado por Jason Momoa encerra universo compartilhado da DC no cinema com vibração visual, mas demonstra produção caótica remendada

Publicado em: 25/12/2023 08:30

 (Warner/Divulgação)
Warner/Divulgação
Após os eventos de Aquaman, de 2018, Arthur Curry (Jason Momoa), já rei da nação subaquática de Atlanna, precisa combater o vilão Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II), que está mais forte depois de encontrar um tridente misterioso que o possui de um ser ancestral que lhe confere poderes. Esse ser maligno se aproveita do aquecimento global para tentar se libertar de uma prisão antiga e usa como arma a sede de vingança que o antagonista nutre pelo herói e pelo seu reino.

Poucos filmes precisam lutar contra uma correnteza tão forte para sobreviver quanto Aquaman 2: O reino perdido, já em cartaz. O longa passou por uma série de refilmagens e sessões-teste negativas, além de ter sido praticamente descartado entre outros projetos de final de ano pela Warner, depois dos péssimo resultados de arrecadação dos últimos lançamentos da DC. Ano que poderia ter sido de destaque para a marca – com quatro grandes produções agendadas, incluindo Shazam: Fúria dos deuses, The Flash e Besouro Azul –, 2023 virou um desfecho melancólico para esse universo compartilhado, a ser recomeçado em breve sob comando de James Gunn. 

Não bastassem os problemas internos do estúdio e as dificuldades que o DCEU sempre teve para estabelecer unidade, Aquaman 2 ainda lida com a notável fase crepuscular do gênero de super-heróis, que vem afetando fatalmente até os filmes da principal concorrente (Marvel). Os espectadores têm se mostrado cada vez menos receptivos às tramas derivativas e aos efeitos mal acabados que assolaram várias megaproduções, ao passo que os orçamentos foram se tornado gradativamente maiores e os retornos flagrantemente menores. A maré de 2023, portanto, está longe daquela alta de 2018, quando o primeiro Aquaman bateu a marca do bilhão de dólares mundiais (maior bilheteria da história da DC).

James Wan, que dirigiu o anterior, retorna com a sua voluptuosidade visual característica e, de novo, se joga na fantasia sem receio da cafonice – até porque o tom é de cinismo e ridicularização, não de deslumbramento e inocência como em Avatar, por exemplo. O esquema de cores segue vibrante, mas Wan exagera ainda mais na variedade de cenários, o que, ao invés de enriquecer a atmosfera, provoca uma espécie de curto-circuito: a sensação de que estamos assistindo a vários filmes remendados.

Mesmo que algumas criaturas novas pareçam interessantes à primeira vista e cenas pontuais de ação funcionem, não demora para o público perceber estar diante de uma refeitura maximizada do Aquaman original (que já era um projeto congestionado de ideias), mas com o impacto diluído por essa sensação de saturação do gênero. Momoa continua à vontade, levando quase tudo na brincadeira, enquanto, à exceção de Abdul Mateen no papel de Arraia, todo o elenco (Patrick Wilson, Nicole Kidman, Amber Heard, Dolph Lundgren) atua na chave do cumprimento de contrato – justiça seja feita, o material não exige muito além de frases de efeito em fantasias de gosto duvidoso.

O mais triste é que o charme do primeiro se devia em boa medida ao senso de novidade nas luzes subaquáticas fosforescentes e no exagero de fantasia assumidamente brejeiro, sobretudo num cenário então marcado pela obsessão por realismo e verossimilhança. Em Aquaman 2, cujo reino perdido do título tem menos relevância para a trama do que um polvo gigante, inexiste esse frescor e sobram repetições. Filmes genéricos e de nulo peso dramático há, sem dúvida, aos montes no gênero a essa altura, mas quando eles confirmam falência criativa justamente na hora de dar o ponto final a um ciclo, é sinal de que a melhor coisa que o universo pode fazer, por ora, é estancar no fundo do oceano. 

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