CINEMA

Ezra Miller dá seu melhor no papel, mas 'The Flash' parece sempre uma versão publicitária de si mesmo

Publicado em: 18/06/2023 13:01 | Atualizado em: 18/06/2023 13:20

 (Foto: Warner/Divulgação.)
Foto: Warner/Divulgação.
Em 'The Flash', novo episódio do Universo Cinematográfico da DC, Barry Allen (Ezra Miller) decide usar seu poder de correr além da velocidade da luz para voltar no tempo e alterar o evento mais traumático de sua vida, o assassinato de sua mãe – que causou ainda a injusta condenação de seu pai. O preço da alteração não sai como previsto e o protagonista se vê emaranhado em consequências trágicas para diferentes mundos. Com ajuda de personagens dessa nova realidade, entre eles a sua versão não-traumatizada e o Batman de Michael Keaton, ele tenta consertar o efeito que causou.

Escrito por Christina Hodson (adaptado da HQ Flashpoint), o roteiro de 'The Flash' não tenta inovar a clássica premissa de viagem temporal e faz o possível para descomplicar paradoxos e questionamentos possíveis dela – o que evita explicações excessivas e ajuda o filme a não perder o ritmo quando se estabelece o conflito central. É tudo bastante elementar de se entender e o tratamento é adequadamente cartunesco.

Dirigido por Andy Muschietti (Mama e It), um de vários cineastas conhecidos pelo sucesso em terror e recrutados para filmes de super-herói, 'The Flash' tem seu trunfo no drama que envolve as versões de Barry devido principalmente à atuação de Miller. O ator consegue a façanha de fazer o humor genérico do texto soar como mecanismo de defesa para o personagem esconder suas fragilidades – e a cena climática do terceiro ato é reveladora da sua aptidão (e do filme) para o aspecto emocional.

A obsessão do público pela verossimilhança deve provocar críticas à artificialidade dos efeitos digitais, que alternam entre ação física/direta e exagero/psicodelia. Mas isso não se torna um problema porque a direção não busca realismo em nenhum elemento da encenação, seja no uso de lentes, luz e cenários. Visualmente, aliás, é até mais bem iluminado do que exemplares recentes do gênero.

O que arruína boa parte da experiência de 'The Flash' é a insistência em tratar as aparições de personagens icônicos como atração central da narrativa. Apesar da boa premissa, ele foca nesse valor nostálgico das poses e frases de efeito (especialmente no Batman de Keaton) e não na criação de sequências marcantes para chamar de suas. O filme desperdiça seus estímulos gráficos em concessões de estúdio que soam como piscadelas cínicas dos produtores. É uma sensação constante de um filme correndo o tempo todo, lotado de iscas e muito movimento, mas que, curiosamente, avança de verdade em quase nada.

Talvez esses filmes voltem a ser sobre suas próprias histórias e não apenas um festival de acenos a fatores externos, mas, por ora, 'The Flash' representa mais uma overdose de chamarizes publicitários sufocando evidentes méritos artísticos. 

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