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DIA DA INDEPENDÊNCIA

Minissérie 'Independências', da TV Cultura, desconstrói mitos em mergulho na nova historiografia

Publicado em: 07/09/2022 09:00

 (Minissérie é dirigida por Luiz Fernando Carvalho, que comandou para a TV Globo 'Capitu' e 'Os Maias'. TV Cultura / Divulgação.)
Minissérie é dirigida por Luiz Fernando Carvalho, que comandou para a TV Globo 'Capitu' e 'Os Maias'. TV Cultura / Divulgação.
Buscando conhecer diferentes facetas da história contada para os brasileiros há tanto tempo, Independências, que começa a ser exibida neste 7 de setembro que marca os 200 anos da Independência do Brasil e contará com 16 episódios exibidos semanalmente até o fim do ano, funciona não apenas como uma celebração dessa data mas também como uma maneira de proporcionar aos telespectadores uma conexão humana com figuras historicamente elevadas à condição de mito. Estrelada por Antônio Fagundes (D. João VI), Daniel de Oliveira (D. Pedro I), Isabél Zuaa (Peregrina), Gabriel Leone (D. Miguel) e grande elenco, a minissérie se passa no início do século XIX, precisamente em 1808, momento decisivo em que a família real foge em direção ao Brasil.

O projeto vem sendo gestado há cerca de um ano, com o convite inicial da emissora ao diretor Luiz Fernando Carvalho, que já havia feito outros trabalhos históricos reconhecidos como Os Maias e Capitu, para a TV Globo, para que realizasse um trabalho voltado para a comemoração dos dois séculos de independência, que seria baseado na pesquisa realizada pelo jornalista José Antonio Severo. O diretor, em parceria com o dramaturgo Luís Alberto de Abreu, passou a colocar em prática o desejo antigo de explorar o Brasil do século XIX e o potencial do conhecimento dos conflitos da época para o entendimento do país de hoje. 

A contramão proposta por Luiz Fernando ao convite da TV Cultura foi uma dramaturgia focada na chamada nova historiografia, que possibilitaria a inclusão de todos os sujeitos que foram sendo apagados da versão original com o passar das décadas - visão amplamente acatada pela produção. Com abordagem teatral e cheia de dilemas morais enfrentados por cada um dos personagens, Independências mergulha em dados históricos precisos para então desconstruir ideias solidificadas sobre algumas figuras e revela pensamentos que se perpetuaram até os dias atuais.

O formato de 16 episódios deu liberdade para que o diretor explorasse sobretudo o muito caro tema do colonialismo com deliberada cautela, apresentando o semblante poderoso daquelas figuras como uma superfície a ser estudada para então começar a mostrar sentimentos mais íntimos. “São personagens frágeis, quebrados, incompletos, cheios de conflito e de intensidade, mas comumente glorificados pela história e retratados de maneira unidimensional. A intenção da minissérie era justamente aproximar a plateia de todos eles a partir de suas contradições, sejam elas de ordem política ou psíquica”, afirma Luiz Fernando, ao Viver.

Apesar de já ter trabalhado com outros projetos passados no período, o diretor revelou também que nunca aprendeu tanto sobre o país e sua história quanto em Independências, e espera que as pessoas consigam tirar um proveito parecido ao assistirem a minissérie. “Além de ter compreendido muita coisa sobre o Brasil ao longo do processo, também pude aprender muito sobre a condição do artista ao contar uma história. Em nenhum outro eu me aprofundei tanto nessa arqueologia dos personagens e tenho que dizer que foi triste e trágico, pois percebi dessa forma que ainda lidamos com toda essa fantasmagoria. Por outro lado, a gente nota o tamanho do potencial que a nação tem se conduzida da maneira certa”, ressalta. “No meu entender, esse olhar diferenciado sobre a história não poderia encontrar melhor forma de veiculação do que uma televisão pública, que tem o dever sobretudo de educar e levar à reflexão”.

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