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Marisa Monte volta ao Recife com respiro poético e musical; confira entrevista

Publicado em: 28/04/2022 10:00

Marisa Monte traz a turnê 'Portas' para o Classic Hall neste fim de semana (Leo Aversa/Divulgação)
Marisa Monte traz a turnê 'Portas' para o Classic Hall neste fim de semana (Leo Aversa/Divulgação)
No meio das angústias e incertezas que foram a tônica dos últimos dois anos, tivemos artistas que incorporaram esses sentimentos durante seus trabalhos nesse período, mas também tivemos aqueles que decidiram ir por caminhos mais solares, de respiros e a recusa de se desapegar de esperanças e perspectivas melhores para os próximos dias. No cenário nacional, uma das grandes iniciativas que acabou se conciliando bem com esse segundo caminho foi o disco Portas, lançado em 2021 por Marisa Monte, uma das mais solares vozes da música brasileira. 

Neste próximo sábado e domingo, o público recifense vai ter a honra entrar em contato mais íntimo com esse trabalho com as duas apresentações que a cantora faz no palco do Classic Hall - e a espera era grande, visto que uma noite extra foi preciso ser aberta devido ao rápido esgotamento dos ingressos - com a volta da cantora ao país após circular com trabalho pelos Estados Unidos no último mês. 

Portas é o primeiro disco solo de Marisa em dez anos e suas 17 faixas, produzidas por ela e com parcerias pontuais com nomes como Marcelo Camelo e o antigo parceiro Arto Lindsay, e, para a cantora, acaba conversando bem não só com o atual momento de retomada cultural e da vida dos últimos meses, mas também com o futuro que nos aguarda, com um trabalho embasado em uma filosofia de passagens, transformações e mudanças. “Mais que nunca é importante estar atento às vozes internas, as necessidades da alma, nossa própria intuição, nesse sentido a mensagem filosófica é eterna e serve pra qualquer momento da vida”, diz a cantora, em entrevista ao Viver.

A última vez que a cantora esteve na cidade, também foi em um evento de forte poder de mobilização de seus admiradores, com a turnê de reunião dos Tribalistas, ao lado de Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes em 2019. Dois anos depois, vem o reencontro com um público que ela se diz uma profunda admiradora. “Recife tem um público muito caloroso, intelectualizado, exigente, e que sempre me recebeu com muito amor e braços abertos. Amo a cidade, tenho muitos amigos aí, eu não vejo a hora de chegar com o meu circo na cidade! Vai ser lindo e emocionante!”, afirma a cantora. Confira a entrevista:

VIVER: Em um momento de angústia global e perspectivas cada vez mais frágeis, você lança o Portas, um trabalho que, dentre tantas coisas, canta muito o estar aberto para o futuro e para o desconhecido. Como foi o processo de buscar energias e inspirações para criar algo tão solar nesse momento?

MARISA MONTE: Portas são elementos muito simbólicos que trazem vários significados. Passagem, transformação, escolha, opções, aberturas, fechamentos, mudanças, e essas aberturas podem ser externas ou internas. Eu compartilho todos os sentimentos de incerteza, angústias e medos desse momento trágico que estamos vivendo, mas através da arte quis oferecer uma resistência poética, criativa e amorosa. Isso é política civil, campo onde percebo os movimentos mais inspiradores. Apesar de todas as dificuldades e da retração democrática, acredito que estamos no processo evolutivo civilizatório, e que se avaliarmos uma curva de tempo mais larga, de 50 ou 100 anos, certamente perceberemos os avanços no campo da ciência, do comportamento, dos direitos civis e das liberdades individuais e do avanço das questões de gênero e raciais. Isso é uma construção coletiva social, que infelizmente não é tão rápida quanto gostaríamos, mas que segue sempre no fluxo constante em direção ao progresso, apesar dos momentos dramáticos como infelizmente estamos vivendo. Gostaria de conectar as pessoas com esse senso de esperança e com a certeza histórica do progresso e da evolução civilizatória. 

VIVER: Você vem ao Nordeste e ao Recife logo após uma turnê pelos Estados Unidos. Quão diferentes você acredita que devem ser as respostas do público desses shows em lugares tão diferentes, mas também quão parecidas você acha que elas são?

MARISA MONTE: É bem parecido. Tenho feito turnês fora do Brasil nos últimos 30 anos e há um público consolidado lá fora que acompanha meu trabalho com atenção, uma mistura de brasileiros com estrangeiros iniciados e apaixonados pela música e pela cultura brasileira. A grande diferença pra mim é que preciso adaptar todos os textos e as falas para as línguas locais. O repertório geralmente é o mesmo com pequenas mudanças pontuais naturais que sempre acontecem durante a tour. Sou recebida sempre com muito amor onde passo.

VIVER: O Portas é o seu primeiro disco solo em dez anos. Mesmo que esse não seja um intervalo que você tenha ficado parada, quão importante para seu processo criativo é não precisar estar envolvida em um frenetismo de lançamentos, levando em conta também as dinâmicas do mercado fonográfico atual?
MARISA MONTE: Sempre promovi ciclos na minha carreira e vida. Expansão e retração, momentos de muitas viagens e shows com fases em casa, menos visível, onde eu posso promover uma rotina mais constante, o que é muito saudável física e emocionalmente e importante pra mim também. Dessa vez, não tive escolha, tive que ficar em casa, como todos nós, por um longo tempo. Nunca em minha vida profissional eu tinha ficado tanto tempo sem viajar e fazer shows. Isso me deu um desejo intenso de reencontrar pessoas, cantar com multidões, rever amigos e lugares, estou muito feliz de estar na estrada de novo. Sinto agora um misto de alegria e alívio compartilhado com meu público.

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