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HARDCORE ALTO ZÉ DO PINHO

Devotos lança novo disco mergulhando no diálogo entre o punk e o reggae

Publicado em: 27/04/2022 19:14 | Atualizado em: 27/04/2022 19:21

'Punk Reggae' já está disponível nas principais plataformas (Tiago Calazans/Reprodução)
'Punk Reggae' já está disponível nas principais plataformas (Tiago Calazans/Reprodução)
Desde 1988, a Devotos, do Alto José do Pinho, grita por transformação social, mas faz esse coro ser carregado pelas mais diversas, originais e inventivas texturas sonoras. Tendo o punk hardcore como base, o trio formado pelo baixista e vocalista Cannibal, o guitarrista  Neilton e o baterista Celo Brown nunca se prendeu à repetição, buscando se aproximar de samples, batidas, e grooves, sem fazer com que um disco soe igual ao outro. Em suas pesquisas, com direito a muito Bad Brains, The Clash e Gregory Isaacs em sua discografia, a banda via o reggae como uma irmã do punk, tanto em intensidade sonora, como nos gritos por justiça. 

É embalado por essa tônica que eles lançam o disco Punk Reggae, lançado nesta quarta-feira, trazendo releituras de canções com a conversa entre o peso e a velocidade do hardcore com o groove e a agitação do ritmo jamaicano. Com ajuda de Pedro Diniz para conceber os arranjos, eles selecionaram músicas da banda que já estabeleciam essa conversa e buscaram aprofundar ainda mais a levada do reggae, mas sem ignorar o hardcore. 

“Esse disco é algo que temos planejado há muito tempo, até antes do álbum anterior. Sempre pensamos nele, como nos já aproximamos muito do reggae em nossa trajetória, mas sem fazer algo roots de verdade. A gente saca que ele e o punk estão muito próximo, tematicamente falando. As letras, as lutas, até o apartheid cultural, eles tão muito juntos nisso”, afirma Cannibal, em entrevista ao Viver. “Quando falo em apartheid cultural, por exemplo, no Recife, falo como antes do movimento mangue, era cada um no seu quadrado, nós não tocavámos nos mesmos eventos e festivais. O reggae ainda é assim, você não o vê em um evento que não seja próprio para ele. Não é nada novo, The Clash fez isso, Bad Brains fez isso. Para nós, é uma homenagem a um ritmo que gostamos tanto”, complementa.
 
 
 
Com as 11 faixas, sendo 10 releituras e uma inédita, voltamos a escutar os discursos diretos sobre as vivências periféricas, as violências, opressões e sede de mudança do mundo que rodeia a banda dos subúrbios da Zona Norte do Recife, mas com a levada envolvente concebida com a ajuda imprescindível de Pedro Diniz. A escolha das canções foi até fácil para a banda, garimpando as poucas canções que já ensaiavam essa ponte entre os ritmos. Mas a partir dessa escolha, achar os melhores meios para executar esse aprofundamento no lado reggae das músicas é apontada como a maior dificuldade do processo criativo. (CONTINUA APÓS IMAGEM)
 
Capa do disco, elaborada por Neilton (Neilton)
Capa do disco, elaborada por Neilton (Neilton)
 

“É muito mais fácil quando se trata de pegar músicas de outros artistas para fazermos nossas versões. Mas pegar nossas criações e desconstruí-las é muito diferente, você quebra muito mais a cabeça. A parte dos arranjos acabou sendo muito facilitado pelo trabalho de Pedrinho, mas tocá-las desse novo jeito nos faz sempre ficar pensando se está ficando bom mesmo ou se há um outro jeito melhor. Mas é isso, sempre fomos uma banda que buscou sair da zona de conforto, ser sempre original. Alguém pode ouvir um disco nosso e dizer que não gostou, mas nunca que nosso trabalho está parecido com o de alguém ou está com uma sonoridade repetida”, elabora Cannibal. 

O trabalho conta com participações especialíssimas, com colaborações com Chico César, Isaar e Criolo, artistas que possuem ligações pessoais com os membros da Devotos, assim como também são fãs e ídolos do trabalho do grupo do Alto Zé do Pinho. O disco foi gravado no ano passado e só teve dois ensaios antes de entrarem no estúdio, pois a banda ainda tinha muitos receios com a situação da pandemia no país, o que fez as participações especiais, exceto Isaar, serem gravadas remotamente, fora dos estúdios. “Era um momento que a gente não queria ficar parado, mas também estávamos ainda muito focados em sobreviver e ajudar como podíamos”, relembra o músico. Agora, eles se sentem mais tranquilos quanto aos reencontros e pretendem muito em breve trazer o novo trabalho para o ao vivo, acompanhados de uma grande banda para trazer as experimentações bem sucedidas do Punk Reggae. 

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