MÚSICA

A trajetória de Ânsia, brega pernambucano regravado por Pabllo Vittar

Publicado em: 25/06/2021 18:25 | Atualizado em: 26/06/2021 17:08

Eliza Mell e Mylla Karvalho nos anos 2000 e Pabllo Vittar (centro) (Foto: YouTube/Reprodução e Ernna Costa/Divulgação)
Eliza Mell e Mylla Karvalho nos anos 2000 e Pabllo Vittar (centro) (Foto: YouTube/Reprodução e Ernna Costa/Divulgação)

Entre as regravações de sucessos do Norte e Nordeste presentes em Batidão Tropical, novo álbum de Pabllo Vittar, está Ânsia, uma composição de Esdras Azevedo que fez sucesso em Pernambuco com a Banda Brega.com, nos vocais da cantora Eliza Mell, a partir de 2002. A maior parte do Brasil, incluindo a própria Pabllo, conheceu a canção pela versão da Companhia do Calypso, na voz de Mylla Karvalho (2003). Contudo, essa música só chegou até a Companhia porque o brega original fez muito sucesso no Recife, o que despertou o interesse de Ary Karvalho, então empresário do grupo paraense.

Ânsia nasceu no começo dos anos 2000, numa época em que várias bandas de brega ensaiavam em um estúdio de Águas Compridas, em Olinda. Era a aurora do brega romântico cantando por mulheres: Michelle Melo brilhava com seus sussurros na Banda Metade e Palas Pinho arrastava multidões na Ovelha Negra. Esdras Azevedo atuava como cantor e compositor num grupo que viria se chamar Banda Carícias.

"Eu já tinha escrito canções como Me guardei para você e Castigo, da Mancha de Batom, e nesse meio tempo escrevia outras. Foi quando Márcio e Roberval, empresários da Brega.com, me pediram duas músicas. Ofereci Ânsia e Garota de Programa, ambas gravadas por Eliza Mell", explica o artista, 40, hoje vocalista do grupo Os Reis do Brega.

Na época, Eliza havia acabado de sair de uma igreja evangélica, onde integrava o coral. "Fui convidada para ser vocalista do antigo grupo de pagode Poligamia, que iria criar uma banda de brega. Eu não tinha noção do que era esse segmento musical", relembra Eliza, 42. "Quando cheguei no estúdio, a música já estava pronta, só faltava colocar a voz. Dei uma passada na letra, deixei meu coração e a emoção me conduzir e a equipe ficou enlouquecida. Com 10 dias de lançada, a música era a mais ouvida do estado".

Ânsia chamava atenção pelos vocais potentes de Eliza, aliados a uma instrumentação marcante, com um baixo típico do brega pernambucano. Não demorou para que ela começasse a despertar o interesse de outras bandas. Esdras Azevedo recebeu um telefonema de Ary Karvalho para ceder os direitos para a Companhia.

A canção entrou primeiro no Volume 2 Ao Vivo (2003), gravado em Marabá, no Pará, e depois no Ao Vivo em Recife (2004), que fez sucesso em todo o país. Em seguida, foi a vez da Calcinha Preta, com vocal de Silvânia Aquino no álbum Hoje À Noite, Volume 11 (2004). Ainda esteve no álbum Forró da Brucelose & Gilson Neto Vol. 9, da Banda Brucelose, e também integrou o repertório da cantora de forró Taty Girl. 

"Foi tudo muito rápido. Uma vez que bombou no Recife, as outras bandas foram aparecendo em seguida", diz Esdras. "Eu fiquei feliz com a versão da Pabllo, pois é muito bom quando a música volta a circular a nível nacional. Foi massa, principalmente sendo uma artista do meio LGBT, o que é super importante".

"Passou um filme em minha cabeça", diz Eliza, sobre o momento em que ouviu a nova versão. "Fechei os olhos e todas as lembranças que vivi do dia em que gravei Ânsia vieram à tona. Lembrei do cheiro do estúdio, da reação, felicidade e emoção de todos que estavam presentes, dos shows. Pabllo sempre mostrou sua admiração pela canção e sempre me deixou fascinada", diz.

"Eu amei a transformação que ela fez na canção", continua. "Porém, o que me deixou extremamente encantada e feliz foi que ela preservou a essência da música original. Pabllo gravou um brega, o colocando em lugar de destaque no cenário mundial da música. Onde o brega sempre deveria estar", finaliza Eliza.

Ânsia voltou a ficar em evidência em Pernambuco com o surgimento da banda Amigas do Brega, em 2018. Eliza Mell pretende relançá-la em parceria com o pernambucano Johnny Hooker em um DVD que deve ser gravado em agosto ou setembro deste ano. As constantes regravações atestam a relevância da música, que permanecerá por muito tempo no imaginário afetivo dos pernambucanos.

Ouça as versões de Ânsia:











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