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PATRIMÓNIO

Com 181 anos, Associação Comercial de PE abre as suas portas para visitação

Publicado em: 18/12/2020 11:13 | Atualizado em: 18/12/2020 11:40

Prédio da Associação Comercial de Pernambuco, inaugurado em 1915, sendo a segunda sede da entidade (Foto: ACP/Divulgação)
Prédio da Associação Comercial de Pernambuco, inaugurado em 1915, sendo a segunda sede da entidade (Foto: ACP/Divulgação)

Quem se posiciona no centro da praça do Marco Zero do Recife e olha para o lado oposto ao mar tem a visão de quatro prédios. Entre a sede da In Loco (onde funcionava o London & River Plate Bank) e a Caixa Cultural (antiga sede da Bolsa de Valores de Pernambuco) está a Associação Comercial de Pernambuco, um prédio inaugurado em 1915 que geralmente ganha mais visibilidade durante o carnaval, quando é usado para camarotes. O que poucos sabem é que esse prédio guarda um importante acervo da memória do comércio pernambucano, visto que a ACP foi fundada em 1839. São quadros, vitrais, detalhes arquitetônicos e uma coleção de livros e jornais que revelam o protagonismo da economia do estado. A entidade também recebeu figuras como D. Pedro II, Santos Dumont, Joaquim Nabuco, Rosa e Silva, Barão do Amazonas, entre outros.

Com o objetivo de criar mais um ponto turístico no Bairro do Recife, a Associação está abrindo o prédio para visitação a partir deste final de semana, sempre aos sábados e domingos, das 8h às 17h. Respeitando os protocolos da pandemia, o passeio com os guias custa R$ 10 e R$ 5 (meia). Os fundos serão revertidos para a preservação do casarão, que é tombado pelo Iphan e já não abriga mais a administração da entidade. "Entendemos que esse palácio é um patrimônio da cidade, com muita história, cultura e obras belíssimas. Ele deve ficar à disposição da sociedade e dos turistas", diz Tiago Carneiro, que assumiu a presidência depois que Luiz Alberto Carneiro se afastou por conta de problemas de saúde.

Fundada pelo comendador José Ramos de Oliveira, a ACP teve a sua primeira sede onde hoje funciona o armazém do Seu Boteco. A construção do prédio aberto à visitação começou em 1913, com conclusão em 1915. A construção atrasou pois o navio que levava as primeiras pedras de mármore norueguês afundou. Confira imagens ao longo da matéria e na galeria do final.

Escadaria e vitrais da entrada (Foto: ACP/Divulgação)
Escadaria e vitrais da entrada (Foto: ACP/Divulgação)

Já na entrada, é possível ver a escadaria de ferro e carvalho ingleses e os vitrais que contam a história do ciclo econômico de Pernambuco, com imagens de produtos protagonistas do comércio. Eles foram feitos por Formenti Gastão, famoso vitralista italiano que também fez os atuais vitrais do Palácio Campo das Princesas. No segundo andar, esses vitrais contam a história do Rio de Janeiro, capital do Brasil na época. Eles foram restaurados recentemente através de um edital da Fundarpe.

Ainda no térreo está o Salão Principal, com lustres de cristal inglês, colunas de ferro maciço e um teto em latão prensado da França. "Devido à influência junto ao Porto do Recife, os ciclos do comércio aconteciam dentro desses salões. Tudo era negociado aqui. Existem livros que registram todos os navios que atracavam do Porto, o que eles carregavam e para onde iam”, diz Alexandre Barbosa, do conselho diretor e coordenador do acervo e patrimônio do prédio.

Quadro de Dom Pedro II, por Ernest Papf, no Salão Nobre (Foto: Emannuel Bento/DP)
Quadro de Dom Pedro II, por Ernest Papf, no Salão Nobre (Foto: Emannuel Bento/DP)

No primeiro andar, existe uma estátua de Hermes, o deus grego do comércio que é um mascote da entidade, doada na década de 1950. No Salão Nobre, o principal da casa, há uma tela em tamanho real do Barão do Amazonas, feita em 1871 como homenagem à Batalha do Riachuelo. Outra figura na sala é Dom Pedro II, com uma tela de 1870 assinada por Ernest Papf, o pintor favorito da família imperial - é possível encontrar várias obras suas no Museu de Petrópolis.

"A Associação tinha uma boa relação com o Império. Esse quadro foi feito em homenagem à visita de Dom Pedro II, em 1859, que veio para um jantar beneficente com intenção de arrecadar fundos para a sua restauração do Hospital Dom Pedro II", diz Alexandre. "A segunda visita foi não oficial, em 1872, quando ele visitou o antigo prédio da Associação e registrou seu nome em um livro de assinaturas que também foi usado por Joaquim Nabuco e Santos Dumont. A caneta de ouro que ele usou foi doada e temos até hoje."

Ambos os itens (caderno com assinaturas e caneta) ainda não estão disponíveis para os visitantes pois o prédio ainda não tem uma estrutura de segurança, mas foram mostrados à reportagem do Diario, que visitou o prédio na última quarta-feira.

Assinatura de Dom Pedro II e caneta usada pelo imperador (Foto: Emannuel Bento/DP)
Assinatura de Dom Pedro II e caneta usada pelo imperador (Foto: Emannuel Bento/DP)

O teto do Salão Nobre ainda conta com vários adornos restaurados com o uso de 3 mil bisturis, com imagens que representam artes plásticas, engenharia e navegação, incluindo a figura de Poseidon. O prédio ainda tem telas que figuram nomes como José Ramos de Oliveira (fundador), Antônio João de Amorim (o Barão de Casa Forte), Henry Foster (primeiro presidente), Filipe F. Needham (segundo presidente) e mais.

Também existe um rooftop, construído na reforma de 2009, que tem visão privilegiada para o Parque das Esculturas e a Rua do Bom Jesus. O espaço ainda passará por ajustes para receber o público, podendo até receber um café. 

"O custo do prédio, em geral, é alto. Para o restauro total é preciso R$ 10 milhões, sendo R$ 2 milhões para a fachada e o rooftop, que são nossas prioridades atualmente", diz Tiago Carneiro. A verba destinada para a recuperação é federal, através da Lei de Incentivo à Cultura e de bancos como o BNDS, que aplica recursos para prédios históricos. "Estamos procurando novas fontes de receitas. Durante a pandemia conseguimos resgatar antigos associados que estão acreditando nesse projeto da abertura", finaliza o presidente.

Em 2020, a ACP também iniciou uma parceria com o Conservatório Instituto Artes Sol Maior, quando o projeto musical ganhou um espaço dentro do casarão histórico. "Queremos transformar a ACP em um centro sociocultural com diversas ações junto com o Instituto. Trazendo concertos beneficentes, concertos clássicos, dança, exposições, audições, mostras, museu, e shows para arrecadar fundos para o Projeto Esperança em Sol Maior. Atuando em transformar vidas através da música, educação, cidadania e cultura", pontua o Maestro Ricardo Diniz, presidente da entidade.

Confira mais imagens:

Estátua de Hermes e mais vitrais  (Foto: Emannuel Bento/DP)
Estátua de Hermes e mais vitrais (Foto: Emannuel Bento/DP)

Teto visto do primeiro andar (Foto: Emannuel Bento/DP)
Teto visto do primeiro andar (Foto: Emannuel Bento/DP)

Visão geral do Salão Nobre, com quadros de Dom Pedro II e Barão do Amazonas (Foto: Emannuel Bento/DP)
Visão geral do Salão Nobre, com quadros de Dom Pedro II e Barão do Amazonas (Foto: Emannuel Bento/DP)

Estátua de Hermes no rooftop (Foto: Emannuel Bento/DP)
Estátua de Hermes no rooftop (Foto: Emannuel Bento/DP)

Tiago Carneiro, atual presidente do ACP (Foto: Emannuel Bento/DP)
Tiago Carneiro, atual presidente do ACP (Foto: Emannuel Bento/DP)
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