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Com Tim Roth, longa O Cântico dos Nomes trata do Holocausto

Publicado em: 17/08/2020 14:14

 (Foto: Sony Pictures/Divulgação)
Foto: Sony Pictures/Divulgação

A música clássica, que sempre se associa a alta cultura, é um hábito perigoso para o cinema, expressão popular por excelência. O diretor canadense Francis Girard conhece bem esse risco, embora prefira investir em seu avesso: filmes sobre música costumam significar "qualidade" e, por extensão, prestígio. Para não haver dúvida, em O Cântico dos Nomes (HBO GO), associou-se a ela a ideia de Holocausto.

Aqui, o centro de tudo é Dovidi, jovem violinista deixado em Londres, em 1939, a fim de desenvolver seu vastíssimo talento. O pai imediatamente retorna à Polônia e o que se segue é fácil de inferir: a família de Dovidi é exterminada, enquanto Dovidi emerge como um prodígio do violino.
Graças a seus tutores e à amizade com Martin, uma espécie de irmão para ele, Dovidi vai vivendo sua vida sem maiores sobressaltos. Ou por outra, existe um, fundamental: após dizer que a etnia é uma pele, da qual ninguém se livra, ao contrário do vínculo religioso, Dovidi rejeita a a fé judaica, como uma espécie de resposta ao destino a que Deus condenara sua família e sua etnia em geral.

Segue a vida brigado com Deus (cuja existência não nega, diga-se) até que, já com a fama de grande talento, prepara-se para um grande concerto internacional. E, como ocorre aos gênios com alguma frequência, dá o bolo na plateia e, sobretudo, no seu tutor e empresário. Dovidi simplesmente some. Fim do primeiro filme (quer dizer, linearizo uma história narrada ao longo de inúmeros flashbacks). O segundo filme consiste na longa e tortuosa busca de Dovidi por um Martin já homem feito (Tim Roth).



Por que sumiu Dovidi? Por que deixou seu tutor (e pai de Martin) na mão a ponto de provocar sua ruína e morte? Por que deixou de lado seu imenso talento? Etc. Coisas de gênio, insiste a mulher de Martin, que acha um desperdício o marido dedicar a vida a uma tal busca. Martin não se deixa intimidar. Corre Londres, Varsóvia, Nova York em busca de sinais. Não é uma procura excitante, a não ser em seus últimos lances. Não será uma inconfidência revelar que o encontra (na pele de Clive Owen): a questão é em que circunstâncias e a quem de fato encontrou.

Embora trate o Holocausto com respeito e apenas indiretamente, o filme deixa escapar por entre os dedos o que seria de fato interessante nessa ficção: o que significa, afinal, ser judeu? O que diferencia pertencer a essa etnia de qualquer outra? Não se trata da "grande questão" do Holocausto, mas das marcas que séculos de preconceito e rejeição violenta deixaram no cotidiano das pessoas.

O Cântico dos Nomes troca essas questões por uma espécie de propaganda religiosa, aspecto ao qual não se pode negar pertinência (estamos numa era de retorno à religião, seja ela qual for), mas que não ajuda a tornar o filme um evento inesquecível. Bem ao contrário: o vaivém dos flashbacks, os sucessivos travellings pelas costas dos personagens (essa chaga do steady cam), a irritante mulher de Martin -tudo contribui para que o ambiente em torno dos personagens e de seus atos seja com frequência bem frouxo, e o conjunto se deixe esquecer antes que os créditos finais terminem de correr na tela.

O CÂNTICO DOS NOMES
Avaliação: Regular
Onde: Disponível no HBO GO
Classificação: 14 anos
Elenco: Tim Roth, Eddie Izzard, Gerran Howell, Stanley Townsend
Direção: François Girard
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