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CINEMA

Sem previsão no Recife, cinemas do mundo estabelecem protocolos pós-quarentena

Publicado em: 02/07/2020 11:04 | Atualizado em: 03/07/2020 14:35

 (Foto: STR / AFP)
Foto: STR / AFP
 
As salas de cinema pelo mundo vivem um momento singular. Para se ter uma dimensão da adversidade, nem nas duas grandes guerras os cinemas pararam - estavam lá, como uma das formas de entretenimento em tempos obscuros e tornando públicas obras reflexivas sobre o próprio conflito bélico. Desta vez, com a humanidade lidando com outra batalha, os serviços de streaming ocuparam de vez o espaço central no consumo de filmes, enquanto eventos primordiais para a indústria cinematográfica foram suspensos, como o Festival de Cannes, ou adiados, casos do Oscar e Globo de Ouro. Entre imagens viralizadas nas redes sociais nos últimos dias, um cinema com metade de suas cadeiras arrancadas, uma sala juntando mofo nas poltronas e outras com mensagem de solidariedade em seus letreiros, como fez o Cine São Luiz, no Recife. E o que sabemos sobre a volta do cinema na pós-quarentena?

Mesmo ainda sem data para reabertura, salas do Recife já planejam a volta das salas com protocolos, como capacidade drasticamente reduzida, distanciamento entre os espectadores e até medição de temperatura do público. Segundo a pesquisa Cinemas e distanciamento social, publicada pelo site Deadline, nos Estados Unidos, cerca de 75% das pessoas voltariam a frequentar os cinemas, caso fossem seguidos os protocolos de segurança. Cerca de 91% disseram que era extremamente necessário estações com álcool gel espalhadas pelo ambiente, enquanto 86% foram favoráveis à higienização total do espaço entre uma sessão e outra.

Outros fatores pontuais na pesquisa foram em relação aos funcionários, como o teste de temperatura antes de iniciar a função (70%) e uso de máscaras (77%). Sobre a obrigatoriedade do uso de máscaras pelo público, o percentual foi menor, de 70%. A pesquisa animou o setor empresarial, que tinha receio de abrir os cinemas sem demanda de público. Em uma série de países, os protocolos se repetem.
 
 (Foto: Hesiodo Goes
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Foto: Hesiodo Goes
 
No Recife, o Cinema da Fundação suspendeu as atividades, nos núcleos do Derby e Casa Forte, ainda no dia 14 de março. "Fomos um dos primeiros a fechar, e muita gente falou 'mas o vírus nem chegou aqui!'", relembra Ana Farache, coordenadora dos cinemas da Fundaj. A medida foi necessária, apesar de desoladora, pois o cinema vinha de meses de crescimento, com público de quase 20 mil pessoas entre janeiro e março. Além disso, 2019 já tinha registrado 54% de aumento na frequência em relação ao ano anterior.

Em acordo com o documento Flexibilização de Convívio das Atividades Econômicas com a Covid-19, proposto pelo Governo de Pernambuco, mesmo sem data de retomada, o Cinema da Fundação já divulgou seu protocolo - até o momento, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) não divulgou nenhum protocolo universal. Desde o dia 22 de junho o governador Paulo Câmara autorizou a reabertura gradual de igrejas e templos religiosos, espaços de estrutura semelhante às salas de cinema - em circunstâncias normais, são ambientes fechados e com pessoas sentadas próximas umas das outras.

Segundo o protocolo divulgado pela Fundaj, a abertura ao público será feita apenas em três dias na semana, com uso obrigatório das máscaras. Nos cinemas, a sala usará somente 30% da lotação, com cerca de 50 pessoas por sessão e distanciamento mínimo de 1,5 metro entre elas, exceto para quem chegar acompanhado. Serão poucas sessões, de sexta a domingo, com intervalos de 30 minutos entre cada, com higienização do ambiente e abertura das portas e janelas para maior circulação do ar.

Também existirá uma mobilização em relação à entrega de horários em papel e circulação de dinheiro. Os ingressos, inclusive, deverão custar R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia) para evitar troco. "Eu acho que vai ter público, como vamos diminuir bastante para apenas 30%. Mas não estamos preocupados com isso no momento, porque precisamos ver se os protocolos serão bem recebidos, como distanciamento na fila, todo mundo de máscara. O que não podemos fazer é colocar os funcionários nem o público em risco", reitera Ana Farache. 

Em relação à programação, a coordenadora garante que o retorno terá enfoque em lançamentos, que já estavam agendados, em sua maioria. "Não vamos ter problemas com a programação, porque temos muitos filmes que estavam engatilhados e foram suspensos como o francês Mulher (2019) e O beco, de Camilo Cavalcanti. São muito títulos já prontos para distribuir."
 
 (Foto: Reprodução/Twitter)
Foto: Reprodução/Twitter
 
Blockbusters
Blockbuster é sinônimo de longas filas e cinema lotado. Ainda que salas de um circuito mais independente como o São Luiz e Fundaj não tenham tantos problemas com a questão de um calendário comercial defasado, as salas de shopping vivem um momento de maior estranhamento. Ainda no começo da pandemia, a Ancine destinou recursos do Fundo Setorial do Audiovisual para linhas de crédito emergenciais, principalmente para as exibidoras. O total do valor prometido em empréstimos é de R$ 400 milhões. Porém, essa reabertura é uma "faca de dois gumes", principalmente: enquanto existe pressão do setor empresarial, se sabe o quão perigoso é a volta, mas não o quão atrativo será para público.

Diferente dos EUA, a crise econômica vai pesar nos gastos com cinema, por exemplo. Especialmente, com vários blockbusters que foram adiados e tumultuam todo o cronograma de gigantes como Warner, Disney e Fox. A grande rede norte-americana Cinemark, que tem 640 salas em 17 estados brasileiros, é uma das afetadas. A reportagem tentou contato com empresas do setor de distribuição no Brasil e foi informada que um protocolo será divulgado na próxima terça-feira.
 
 
 
O governo do Reino Unido lançou um documento de 29 páginas para unificar as ações de retomada. A reabertura ampla está planejada para este sábado, em um setor que já perdeu cerca de US$ 7,1 milhões. Nos Estados Unidos, também foi estabelecido retorno para sábado, quando se comemora o Dia da Independência do país.  A China está com as salas fechadas e teve uma tentativa de reabertura em abril, mas não vingou. A Coreia do Sul deixou as salas abertas durante boa parte de crise, enquanto o Japão continua com um forte público e arrecadação.

Muitas produtoras de blockbusters têm feito pressão para reabertura. Entre os lançamentos estão a animação Mulan e Tenant, Christopher Nolan - o diretor prometeu 20% dos ingressos gratuitos no dia de abertura. Os filmes estão previstos para estrear, respectivamente, em 24 e 31 de julho. Outros na fila para estrear são Um lugar silencioso II, Mulher Maravilha 1984, Viúva Negra e Top gun: Maverick. No Brasil, os mais esperados são A menina que matou os pais, Marighella e Mamonas Assassinas - O filme.
 
Teatros e museus
Cerca de mil pessoas e cem instituições se reúnem no Fórum Brasileiro de Ópera, Balé e Música de Concerto para pensar, entre outras exigências da pandemia, um protocolo de retomada para o setor. São cantores, compositores, bailarinos, regentes, instrumentistas, coreógrafos e produtores, além de teatros, orquestras, conservatórios, organizações sociais que gerem espaços culturais e associações. Eles criaram dois documentos com sugestões para as práticas, em aulas, ensaios e apresentações, e para apresentações com público. São protocolos detalhados para ajudar os espaços a construírem os seus próprios e que levam em consideração, por exemplo, as especificidades de cada instrumento. Nos de sopro, os músicos não podem usar máscaras, as saídas de ar também expelem gotículas e há líquido acumulado no interior deles, por isso é preciso distanciamento maior e é desejável uso de tela de acrílico. As partituras não poderão mais ser compartilhadas entre dois ou mais músicos, como era praxe nas orquestras.

O Instituto Brasileiro de Museus, o Ibram, que administra 30 instituições e elabora políticas públicas para o setor, publicou uma série de recomendações para protocolos de trabalho administrativo, nos acervos e para reabertura ao público. 
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