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Comemorando 90 anos, Elza Soares lança álbum raro no streaming

Publicado em: 06/07/2020 14:27

 (Foto: Elza Soares/Acervo Pessoal)
Foto: Elza Soares/Acervo Pessoal

A cantora Elza Soares, que iniciou uma trajetória discográfica em 1959, teve uma breve passagem pela CBS (atual Sony Music), onde registrou os LPs Elza Negra, negra Elza (1980), Senhora da terra (1979) e o compacto Hoje tem marmelada/Põe pimenta (1979). Esses dois últimos, considerados raros, foram lançados nas todas as plataformas digitais de streaming a partir de 3 de julho, como continuidade às comemorações dos 90 anos da artista. Trata-se de uma ação da Sony Music Brasil, que vem digitalizando catálogo de Elza, restaurando tapes analógicos e projetos gráficos originais de seus artistas.

O álbum Elza negra, negra Elza, produzido e arranjado por João de Aquino, já se encontrava disponível em streaming. Ele apresenta uma sonoridade que vai do samba tradicional, passando pelo samba endiabrado pop e/ou jazzístico, bossa nova, canções de atmosfera afro e até uma embolada. As maiores surpresas, de fato, aparecem no Senhora da Terra, que apesar de pouco conhecido, merece ser redescoberto.

Ostentando o auge de sua maturidade vocal, a cantora abre o álbum entoando a sarcástica Põe pimenta (Beto Sem Braço/ Jorginho Saberás), com uma ostensiva crítica social, que à época ganhou até um hilariante clipe em televisão, com a cantora fantasiada de cozinheiro munida de um imenso bigode: "Põe pimenta, malagueta/ Põe pimenta que é pra ver se o povo aguenta!”.

Coração vadio, dos baianos Edil Pacheco e Paulinho Diniz, O morro, raríssima parceria dos saudosos Mauro Duarte e Dona Ivone Lara sobre as dificuldades da vida em meio à rotina violenta dos morros cariocas, e Exaltação ao Rio São Francisco (Waltinho/ Zezé do Pandeiro/ João Leonel), são algumas outras canções do disco. Essa última foi um samba-enredo que a escola Unidos dos Passos, de Juiz de Fora, do carnaval de 1977. 

As raízes afro-religiosas aparecem no samba Afoxé (Heraldo Farias/ João Belém), enquanto Maria Pequena (Guaracy de Castro/ Roberto Nepomuceno) mostra um tom mais dolente. Abertura, de autoria da cantora, é um samba faz referência à abertura política naquele ano de 1979, quando o AI-5 finalmente havia caído e a anistia aos exilados políticos se concretizou: "Abre a porta/ Abre o peito, abertura/ Linha fraca, linha forte, linha dura".

Alegria do povo (Luís Luz/ Ari do Cavaco) é um samba animado homônimo ao que a cantora gravaria seis anos depois em tributo a seu ex-marido então falecido, Mané Garrincha. O álbum é encerrado com composições de grandes baluartes da música brasileira. Paródia do consumidor trazia a festejada dupla Wilson Moreira e Nei Lopes, que naquele mesmo ano de 1979 daria à Alcione o hit Gostoso veneno, e Senhora liberdade à Zezé Motta. 

Entre os instumentistas do álbum, estão vários músicos renomados de samba: Wilson das Neves e Juquinha (bateria), Dino 7 Cordas (violão), Neco (violão 6 cordas e cavaco), Jaime Araújo (flauta), Geraldo (tumbadora) e As Gatas no coro, além de vocal, solos de violão de 6 cordas do maestro Luiz Roberto, que assina os arranjos juntamente com o maestro Nelsinho. A percussão ficou a cargo de Cordinho, Luna, Eliseu, Marçal, Risadinha, grupo Pandeiros de Ouro e Zequinha.

No mesmo ano de 1979, Elza lançou um compacto com a já mencionada Põe pimenta e uma regravação do belíssimo samba-enredo da Portela do ano anterior, Hoje tem marmelada, do recém-falecido David Corrêa, com Norival Reis e Jorge Macedo, tendo o circo como tema, agora também disponibilizada em streaming.

Com informações de Rodrigo Faour
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