CINEMA

Açúcar, filme pernambucano em cartaz, aborda as tensões de um Brasil rural

Publicado em: 29/01/2020 14:56 | Atualizado em: 29/01/2020 15:26

O longa tem estreia marcada para esta quinta-feira (30). (Foto: Divulgação)
O longa tem estreia marcada para esta quinta-feira (30). (Foto: Divulgação)
As chagas de um povo e uma terra assombrados pela sua história. A partir de simbolismos e metáforas visuais, o longa pernambucano Açúcar explora essa primordialidade da formação brasileira, na Zona da Mata, um lugar que viveu um passado sangrento e o presente da decadência dos antigos engenhos de açúcar. Depois de passar por festivais como Janela Internacional de Cinema e Festival Internacional de Cinema de Rotterdam, o longa, que tem estreia amanhã, conta a história de Bethânia Wanderley, interpretada por Maeve Jinkings, que retorna às terras de sua família e encontra um espaço rural repleto de tensões raciais e de classe.  

O longa foi dirigido por Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro. Além de casados, os dois cineastas são colaboradores constantes desde 2011, quando lançaram o longa Estradeiros. Mas foi em Amor, plástico e barulho (2013), que surgiu outra colaboração: a atriz Maeve Jinkings. Em entrevista, Sérgio fala sobre o surgimento do trabalho cooperativo e a importância de Maeve dentro do processo criativo do longa.

”Fizemos o Amor, plástico e barulho. Maeve era para ser uma participação, mas foi crescendo num ponto que não conseguimos parar. Trabalhar com Maeve é um aprendizado, porque ela dá um movimento ao personagem. A gente é muito do gesto e ela tem esse olho, muito expressiva. Além de ser artisticamente uma potência, conversa muito e troca muita referência”, explica. O respaldo dessa afinidade artística com a atriz também ressoa em Renata: “Ela é um atriz autora, ela pensa o projeto. Isso é um grande luxo.”

O projeto começou por uma imagem evocada em um sonho: um barco que navegava suave por entre um canavial. “Eu tive esse sonho. Inicialmente ele não tava ligado a esse projeto, mas fizemos essas relações porque é uma metáfora interessante pensar esse canavial como o mar. Esse outro lado da monocultura que matou muita gente e essa metáfora com os mistérios do fundo do mar. Aquela região ainda é muito tensa e um lugar de mistérios”, explica Renata Pinheiro. “É um espaço de luta de classes. Ele carrega aquele clima aterrorizante”.

Açúcar também remete ao repertório literário nordestino. “Essa característica já vem da formação. Eu sou um leitor muito assíduo de João Cabral de Melo Neto e José Lins do Rego. Tem inúmeras referências literárias”, pontua Sérgio. As paisagens e personagens que fazem parte do nosso imaginário estão presentes, mas abordadas a partir de um olhar contemporâneo, passando por imagens já estabelecidas na literatura. Apoiando-se nos conflitos que reencena roteiros coloniais, o longa explora tensões de um Brasil primordial, que reverbera suas heranças e maldições até hoje.
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL