ESPECIAL FRANCISCO BRENNAND
Um estilo próprio e reconhecido
Por: Emannuel Bento
Publicado em: 20/12/2019 12:36
Foto: Teresa Maia/Arquivo DP |
Francisco Brennand se aprofundou na cerâmica, material que já era afeito pela fábrica de sua família, na década de 1950. Ficou conhecido por esculturas que se apresentam como totens antropomorfos. A maioria deles traz criaturas imaginárias e fantásticas, além de elementos da natureza. Ainda se destacam as esculturas de forte caráter sexual, como rituais de fertilidade. Os acabamentos sempre transitam entre o refinado e o rude. É importante perceber que Francisco não trabalha apenas a cerâmica como forma, mas também com as cores. Essas tonalidades são obtidas através de variações de temperatura na hora de queimar o material inorgânico. Assim, falar do Francisco ceramista muitas vezes acaba também por abordar seu lado pintor e desenhista.
De início, até meados da década de 1960, é possível observar na sua obra uma tendência cordelista, pois era como se quisesse imprimir uma narrativa. Esse é o enfoque, por exemplo, do mural cerâmico na entrada do Aeroporto Internacional do Recife. A obra retrata a cena rural do Nordeste, com animais, mulheres dançantes e músicos. Localizado no bairro de Santo Antônio, o mural da Batalha dos Guararapes, episódio histórico tido como surgimento do Exército brasileiro, também traz essa característica de construção de “cena” em meio a elementos da natureza. Outros murais eram mais “naturalistas”, como O canavial (1961), atualmente disponível no Museu do Homem do Nordeste. Ou o grande mural do prédio de oito andares que sediou a matriz da Bacardi, em Miami. O edifício foi tombado pela prefeitura da cidade estadunidense.
No âmbito das esculturas totêmicas, é possível apontar uma certa inspiração no surrealismo e no fantástico. É uma estética que vai além do mundo real, mergulhando em um submundo às vezes obscuro, que exprimem emoções e memórias igualmente soterradas. É possível enxergar uma certa relevância de mitos, histórias e cores do Nordeste - algo que remete ao movimento armorial, mas como se o próprio Brennand tivesse inspirado o ideal de Ariano, e não vice-versa. Em Pernambuco, maior parte desses totens pode ser vista na Oficina da Várzea ou no Parque das Esculturas. Uma obra que exprime bem essas características é as Serpentes. Em ambas as localidades citadas, elas emergem do chão como se fossem abocanhar algo na superfície. Também estão presentes nas aves antropomórficas que embelezam o Templo Central, da Oficina.
No geral, o âmbito sexual era o mais enfatizado pelo próprio Brennand. “Armorial não, eu sou sexual”, costumava dizer. É uma carga sexual que muitas vezes não chega a ser propriamente erótica, mas sim primitiva, ligada à natureza da reprodução de uma forma gutural. Nessa linha, temos A árvore da vida (1979) e A fonte do desejo (1987). Em ambas, várias genitais sobrepostas se penetram. A obra Diana caçadora (1980), escultura de cerâmica pintada e vitrificada, traz uma mulher de seios fartos e sexualmente voraz. E, é claro, a famosa Coluna de cristal, localizada no centro do Parque das Esculturas. A torre já foi até apelidada com termos pejorativos relativos a “pênis” pelos recifenses. É curioso que, mesmo diante dos tabus de um estado (e de um país) conservador, Brennand tenha se tornando tão canônico ao abordar a sexualidade sem pudores.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL
MAIS LIDAS
ÚLTIMAS