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Música 'Senti uma tristeza tomar conta de minha alma', diz Alceu Valença sobre a morte de Tito Lívio Cantor pernambucano redigiu uma carta para homenagear o colega falecido, ressaltando suas qualidades como pessoa e artista

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 23/11/2017 19:08 Atualizado em:

Artistas se conheciam há décadas. Foto: Facebook/Reprodução
Artistas se conheciam há décadas. Foto: Facebook/Reprodução

O cantor e compositor pernambucano Alceu Valença elaborou uma carta em homenagem ao músico conterrâneo Tito Lívio, que morreu aos 60 anos na madrugada festa quinta-feira (23), após um infarto fulminante. No texto, ele ressaltou as qualidades do colega como pessoa e artista, relembrou quando gravou uma composição dele - Arreio de prata, em parceira com Rodolfo Aureliano - e ainda revelou que iria convidá-lo para um papel de destaque em seu próximo filme, mas que não chegou a contar ao amigo pois "queria fazer uma surpresa". "Às 23h fechei o computador e senti uma tristeza tomar conta de minha alma. Cheguei a comentar com minha mulher. Hoje de manhã, soube que Tito Lívio havia falecido... A vida é cinema. Saudade", conclui.

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Confira a carta na íntegra:

"Ele era a elegância em pessoa. Educado, conveniente, sensível, engraçado espirituoso. Por sua cabeça não passava concorrência, inveja, maldade, rancor e outras mazelas que habitam corações e mentes de muita gente. Compunha música, sozinho ou acompanhado de amigos leais. Cheguei a gravar uma delas em parceria com Rodolfo Aureliano. Arreio de prata é uma verdadeira joia registrada no final da década de 70 no meu LP Cinco sentidos. Lembro de Tito Lívio no Posto 9 de Ipanema cantarolando Casaco vison, música que fala das noitadas inesquecíveis do Baixo Leblon. De repente, Tito sumiu do Bar Diagonal e voltou para Pernambuco. Daí em diante, quase não nos encontrávamos. A não ser nas quartas-feiras de cinzas, em Olinda, na saída do bloco Bicho Maluco Beleza, onde a gente batia apenas um papinho porque o "dono" do bloco tem que dar atenção a todos os malucos e convivas. O tempo passa em continuidade e eu começo a frequentar mais Olinda, cidade, como diz minha mulher, que me promove surtos criativos.

Comecei a escolher os atores para interpretar os papéis, até que um dia Charles Theone aparece em minha casa, acompanhado de Tito para ensaiar o papel que iria interpretar. Passamos uma, duas vezes as falas e Tito observando, calado. Yanê chega a nós dizendo que o almoço estava na mesa e eu convidei Tito Lívio para dividir as deliciosas guloseimas e acepipes. Tito Lívio disse que tinha acordado tarde e estava sem fome. Então eu pedi para que ele, pelo menos, nos desse o prazer de sentar a mesa. Entre uma garfada e outra, olhei para a cara expressiva do amigo, sua fala grave e o sotaque do nosso Pernambuco profundo.

Falei: - Tito pegue essa colher, encha de comida, leve a boca e depois fale com ela cheia, feito uma pessoa mal-educada. Ele me perguntou: Por quê? Respondi: -loucura de minha cabeça. Tito encheu a boca de arroz, farofa e feijão e eu lhe pedi para falar o que lhe viesse em mente. Daí ele começou um monólogo dizendo que era um calunga de caminhão. Era tudo o que eu queria! Bati a mão na mesa e lhe falei, sorrindo. - Está contratado! Ele: - Para quê? Para o papel de Severino Castilho, no meu filme. Modéstia à parte, descobri o ator que ele trazia na alma. Quem viu a Luneta do tempo ficou impressionado com aquele ator desconhecido.

O tempo passou e eu resolvi rodar um novo filme. Escrevi um grande papel para ele, mas nem cheguei a lhe falar. Queria fazer uma surpresa. Ontem à noite, estava trabalhando o roteiro e imaginei Tito interpretando o novo personagem que criei para ele. O cara botou para quebrar no novo papel. Interpretação nota mil. Às 23h fechei o computador e senti uma tristeza tomar conta de minha alma. Cheguei a comentar com minha mulher. Hoje de manhã, soube que Tito Lívio havia falecido... A vida é cinema. Saudade.

- Alceu Valença".

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