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Televisão Opinião: Stranger Things e por que o cinema mudou tanto desde a década de 1980 Seriado da Netflix levanta questão sobre interesse na década e na produção artística

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 31/10/2017 21:55 Atualizado em: 31/10/2017 22:53


Fitas cassete, gel e spray de cabelo, câmeras polaroide, fliperamas, roupas coloridas, crianças na rua e até filmes como Ghostbusters voltam ao presente com a segunda temporada de Stranger things, um dos seriados mais populares da Netflix que apresenta aventuras típicas dos anos 1980. Brincando com os clichês e padrões de filmes de fantasia passados de maneira criativa e original, a produção nos leva a perguntar: por que o cinema mudou tanto depois desta década e por que obras como esta, que claramente ainda cativam o público, se tornaram raras?

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Uma possível resposta é que os anos 1980 ainda estão perto do idealismo dos anos 1960 e da consciência social dos anos 1970 e incluiu estes dois sentimentos em seus filmes de fantasia. Já produções dos anos 1990 começaram a perder esta dimensão e se tornam mais críticos de si mesmos. Porém, a busca por aventuras e fantasia na companhia de amigos nunca deixou de alimentar o imaginário do público, que buscava em remakes (nunca tão divertidos quanto as obras originais) a aventura perdida.

E é assim que os irmãos Duffer, criadores de Stranger things, conseguem mais uma vez captar a ansiedade de um público que quer escapar para outras dimensões e fazer parte de uma amizade inigualável com personagens com que todos conseguem se identificar. O idealismo de uma sociedade, que no final pode se redimir, está de volta! E todos agradecem (inclusive a Netflix, sabendo disso, até colocou seu relógio em contagem regressiva marcando a hora em que a segunda temporada do seriado estrearia).

É também por esta espera e expectativa que os primeiros episódios da segunda temporada parecem lentos, quase anticlimáticos. Depois de uma estreia na qual  cada episódio terminava de maneira excitante e um final que prometia uma continuação frenética, a estranha estagnação na narrativa pode deixar a desejar. Afinal, se os irmãos Duffer tiveram anos para escrever a primeira temporada, agora as demandas do mercado fazem com que o tempo para escrever diminua consideravelmente, impactando a qualidade da obra. Mesmo assim, para a alegria dos fãs, o seriado consegue reverter isto e, a partir do quarto episódio, a série se torna mais uma vez o empolgante Stranger things que conhecemos.

Interessantemente, o feito é conseguido pela interação de personagens novos com os já queridos do público. Estes personagens desconhecidos dão asas a emoções e memórias que os protagonistas antigos nunca se depararam antes. E isto é um presente para o público, que agora pode desvendar segredos e conhecer os personagens mais profundamente. Além disso, aprendemos a gostar dos novos personagens quase tanto quanto dos antigos, aumentando o universo fantástico de Stranger things. E os fãs agradecem: quanto mais, melhor!

Assim como a temporada antiga, o final desta deixa em aberto perguntas e mais mistérios que conseguem alimentar as curiosidades dos fãs até uma terceira temporada. Mas enquanto isso, podemos desfrutar de um mundo ideal e fantástico, onde o bem se junta para lutar contra o mal de maneira divertida e com a trilha sonora dos anos 1980.

* Daniel Bydlowski é cineasta brasileiro com Masters of Fine Arts pela University of Southern California e doutorando na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. É membro do Directors Guild of America. Trabalhou ao lado de grandes nomes da indústria cinematográfica como Mark Jonathan Harris e Marsha Kinder em projetos com temas sociais importantes. Seu filme NanoEden, primeiro longa em realidade virtual em 3D, estreia em breve.

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