Artes cênicas
Adaptação teatral do livro Orgia, de Tulio Carella, é atração desta quarta do TREMA! Festival
Peça Orgía, ou de como os corpos podem substituir as ideias, é montada pelo Teatro Kunyn (SP) e propõe caminhada pelo centro do Recife
Por: Isabelle Barros
Publicado em: 10/05/2017 12:35 Atualizado em: 10/05/2017 12:47
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| Encenação acontece na rua e é baseada nos relatos de aventuras homossexuais vividas pelo teatrólogo argentino, que morou no Recife nos anos 60. Crédito: Vitor Vieira/Divulgação |
Uma cartografia íntima, corporal e sensorial do Recife, regida pelo proibido e, depois, relegada ao ostracismo. Essa é a matéria da qual é feito o livro Orgía, do argentino Tulio Carella, escrito a partir dos diários de sua vida na capital pernambucana durante os anos 60. Suas palavras deixam entrever um Recife bastante particular, no qual as aventuras sexuais com moradores se mesclam a experiências nas rodas intelectuais da cidade. Baseado no livro, o Teatro Kunyn (SP) montou Orgía, ou de como os corpos podem substituir as ideias, um dos destaques do TREMA! Festival, com sessões de hoje a sexta e saída do Espaço Pasárgada, na Boa Vista.
Na primeira edição do TREMA!, em 2012, o Kunyn se apresentou na cidade com Dizer e não pedir segredo e o interesse pelo livro de Túlio Carella se materializou no grupo, com a oportunidade de Luiz Fernando Marques, o diretor do espetáculo, percorrer o mesmo itinerário do argentino. “Eu já tinha uma relação direta com a cidade e vimos milhares de sentidos, de relações. Fizemos vários ensaios em locais como o 13 de maio”, lembra.
A produção traz duas qualidades paradoxais: é realizada na rua e, ao mesmo tempo, é intimista, com uma plateia de 30 espectadores e uma proposta de repensar como se vivencia a sexualidade e o desejo na cidade. O encontro do público acontece no Espaço Pasárgada e, a partir daí, começa a deriva pelo centro do Recife, até o Parque 13 de Maio. O público vai receber um aparelho de MP3 para acompanhar a caminhada e mais dez atores foram escolhidos para participar da encenação em oficina realizada desde o dia 7.
A realização da peça fora de uma casa de espetáculo, seguindo a pulsação da cidade, é parte essencial da poética de Orgía. "Eu trabalho muito com a ideia de acontecimento. A força de uma peça se dá por conta dessa experiência. Queríamos investigar como a homossexualidade acontece no espaço público. Quem está em cena é a cidade. Se você coloca as pessoas para observarem a cidade, a percebemos. Nós nos dividimos e ficamos em grupos muito pequenos para que as pessoas possam ficar camufladas, misturadas. Além da cartografia, existem pessoas nesses lugares. Há uma insinuação em tudo", detalha Marques.
Segundo ele, mesmo na atualidade, a montagem de Orgia tem o potencial de trazer incômodos antigos na sociedade e colocar isso em evidência é uma forma de potencializar as discussões trazidas tanto pelos escritos de Carella quanto pelo espetáculo em si. Basta lembrar que o livro tinha um conteúdo homoafetivo considerado explosivo pela ditadura brasileira. “Ao fazermos o espetáculo em São Paulo, fomos muito atacados. Não fazemos nada impróprio para um local público, mas mesmo assim as pessoas começaram a criticar a peça. Tivemos essas negociações com o mau humor de alguns e, nesse sentido, vivemos o que o próprio Tulio viveu".
MAIS TREMA!
O festival também apresenta a terceira e última sessão da Trilogia Abnegação, do grupo paulista Tablado de Arruar, dirigida por Alexandre dal Farra. Em Abnegação 3 traz as consequências pessoais da ascensão do PT ao poder para diferentes personagens. A peça será encenada no Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife), às 20h. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia).
SERVIÇO
Orgía ou de como os corpos podem substituir as ideias, do Teatro Kunyn (SP)
Quando: Hoje, amanhã e sexta, às 15h
Onde: Espaço Pasárgada - Rua da União, 263, Boa Vista
Entrada: R$ 20 e R$ 10 (meia)
Informações: www.tremafestival.com
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