Literatura Jornalista expõe o papel decisivo do Nordeste na ruptura democrática do Brasil em 1964 Livro de Vandeck Santiago narra o interesse norte-americano pela região na década de 1960

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 31/03/2017 11:23 Atualizado em:

Para Vandeck, os EUA "descobriram" o Brasil daquela época a partir dos acontecimentos no Nordeste, que atraíram a atenção do governo norte-americano. Foto: Arquivo/DP
Para Vandeck, os EUA "descobriram" o Brasil daquela época a partir dos acontecimentos no Nordeste, que atraíram a atenção do governo norte-americano. Foto: Arquivo/DP


Não se enganem com o título. Este livro não é sobre uma história de alcance meramente local, de interesse apenas da aldeia.  Relata a interferência direta do governo dos EUA no Nordeste no período 1961-1964, e o efeito disso no golpe civil-militar.  Um efeito "decisivo", segundo o autor, o jornalista Vandeck Santiago, do Diario de Pernambuco. "Há um fator Nordeste relevante nos acontecimentos que desaguaram no Nordeste, mas isso é praticamente desconsiderado na historiografia nacional sobre o assunto", diz ele. "Virou, quando muito, nota de rodapé".

Para Vandeck, os EUA "descobriram" o Brasil daquela época a partir dos acontecimentos no Nordeste, que atraíram a atenção do governo norte-americano - tensão social no campo, com o acelerado crescimento das Ligas Camponesas, e o sucesso eleitoral de candidatos de esquerda, como Miguel Arraes, que se elegeria governador de Pernambuco em 1962. "Não foi por acontecimentos em Brasília, no Rio ou em São Paulo. O que despertou o temor do governo Kennedy, e a partir daí gerou uma intensa movimentação que culminou na interferência direta nas questões internas do Brasil, foi a situação do Nordeste, o que estava acontecendo aqui no momento", afirma o autor, que pesquisa o assunto há 12 anos e escreveu duas outras obras sobre o período (Francisco Julião - Luta, paixão e morte de um agitador, de 2004, e Josué de Castro - O gênio silenciado, 2008).

O ponto de partida de Pernambuco em Chamas - A intervenção dos EUA e o Golpe de 1964 é um estudo que ele encontrou na Harry Truman Library (Biblioteca Harry Truman), na cidade de Independence, estado do Missouri. Trata-se do relatório que o economista norte-americano Merwin Bohan preparou sobre o Nordeste,  por encomenda do governo Kennedy. Previa ações de curto e médio prazo para conter o avanço de comunistas e esquerdistas e, ao mesmo tempo, contribuir para o desenvolvimento social e econômico da região.  Tornou-se a base do Northeast Agreement (Acordo do Nordeste), assinado em Washington por Kennedy e pelo presidente brasileiro, João Goulart, em abril de 1963 - o único acordo assinado pelos EUA para uma região subnacional.

O livro engloba um painel dos anos mais agitados do Brasil no século 20, e sua narrativa tem o estilo de uma grande reportagem de reconstituição histórica. "É um thriller sobre a Guerra Fria", afirma no prefácio o doutor em História Social (UFRJ) Pablo Porfírio. "Vandeck foi perspicaz em sua pesquisa. Reuniu documentos oficiais (alguns inéditos), relatos de memória e uma vasta bibliografia para contar como o Nordeste - destaque para Pernambuco - se tornou peça fundamental no tabuleiro de xadrez da Guerra Fria", completa ele. Na época o Nordeste tornou-se uma das prioridades da Aliança para o Progresso, programa criado por Kennedy para evitar "novas Cubas" na América Latina. Os acontecimentos do Nordeste passaram a ter cobertura constante da imprensa internacional, em especial da norte-americana - entre 1960 e 1964, por exemplo, saíram mais de 80 matérias sobre a região no jornal mais influente do mundo, o New York Times.

SERVIÇO
Pernambuco em Chamas - A intervenção dos EUA e o Golpe de 1964, de Vandeck Santiago
Preço: R$ 30

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