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Televisão Protagonista de 3% compara a situação do Brasil com a retratada na série Atriz vive Michele na primeira produção de ficção brasileira da Netflix

Por: Fernanda Guerra - Diario de Pernambuco

Publicado em: 03/12/2016 15:30 Atualizado em: 02/12/2016 18:38

Bianca Comparato vive Michele na série. Foto: Netflix/Divulgação
Bianca Comparato vive Michele na série. Foto: Netflix/Divulgação
São Paulo - Na escolha de um filme ou série, Bianca Comparato, de 31 anos, costuma priorizar a qualidade do projeto. Uma das protagonistas da série 3% (Netflix), dirigida por César Charlone, ela é conhecida pelo alto nível de exigência na hora de participar de um projeto. Por isso, não é frequente as aparições da atriz em projetos de grande público. A carioca passou dez anos na Globo e, na época, dizia "sim" para todos os convites. "Quando comecei a dizer não, comecei a poder dizer pra projetos que acredito. Eu sinto que nossa carreira é difícil e tem que saber escolher. É muito estratégico", justifica a atriz, que já atuou em novelas como Avenida Brasil (2012, Globo) e séries como A menina sem qualidades (2013, MTV) e Sessão de terapia (2013), GNT.

Apesar de seletiva, Bianca ressalta que não é preconceituosa. "Já fiz de tudo. Quero pluralidade. Um trabalho puxa o outro. Nós somos uma marca. Uma carreira é construída em cima de muito não", explica. Ao ser convidada pela Netflix, Bianca sentiu uma sensação de liberdade. O efeito disso, ela começa a sentir a partir de agora. Em um dos painéis do serviço de streaming, ela participará da Comic Con Experience neste domingo, em São Paulo, ao lado do elenco do seriado.

Na produção criada por Pedro Aguilera e dirigida por Jotagá Crema, Daina Giannecchini e Dani Libardi, ela interpreta Michele, uma das candidatas do Processo, que selecionará pessoas para chegar ao Mar Alto, uma ilha de privilegiados. A personagem é considerada uma anti-heróina.

Convite para 3%
"Tem um tempo que a gente já vinha conversando sobre o projeto. A primeira coisa que me atraiu foi a ideia do Pedro Aguilera (criador e roteirista) de falar sobre essa segregação: 3% versus 97%, o teor político e a mensagem que a série passa. Isso foi o que mais me atraiu. Essa mensagem quero passar. Nem sabia como extamente, mas isso estava claro. Em seguida, conversei com César Charlone (diretor), Erik (Barkman, vice-presidente de conteúdo original internacional da Netflix) e vi a paixão deles pelo projeto. Aquilo me convenceu de fazer parte. Faltava bastante tempo para filmar."

Distopia brasileira
"Eu sempre falo que o Brasil, de certa maneira, é uma grande distopia. Não precisa inventar. Não precisa nem jogar tão lá na frente. Foi sensível de Pedro (Aguilera) ter esse olhar tão novo, lendo esses livros escritos há anos atrás - 1984, de George Owell, e Admirável mundo novo, de Aldous Huxley -, e traz isso para o Brasil. Intelectualmente, faz muito sentido. A entrada do César dá mais latinidade. Sempre tem um futuro muito cinza. O César dá um conceito mais colorido em um futuro quase que presente. Um pouco como Black mirror faz. Fala de lá na frente, mas tá falando de algo aqui."

Efeito de 3% na carreira
"Já estou assustada com a Comic Con Experience. O que gostei desse projeto é que priorizo sempre os personagens. O que gostei é que ele me alimentava tanto artisticamente e também isso de falar com mais gente. Sempre busquei isso. Acabei ficando em projetos menores, mas tinha o desejo de falar com o maior número de pessoas possível, mas mantendo em mente a qualidade que priorizo. Também me interessa ser desafiada. Vejo crescimento, na minha carreira, de cada vez mais ter personagens interessantes e trabalhar com pessoas que admiro. Tiago Melo, nosso produtor, mencionou as séries que fiz ao me convidarem. Teve um efeito."

O Brasil de hoje
"A gente tem uma segregação grande econônomica. O que mais me preocupa é quem vai pagar a conta dessa crise. O que me parece é que há uma preservação econômica para os mais ricos e me parece que quem vai pagar a conta é o brasileiro médio. Isso me angustia muito. Essa é minha leitura. Sinto que o Brasil está indo no caminho de preservar a economia e não o ser humano trabalhador."

*A repórter viajou a convite da Netflix.

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