Por: Luiza Maia - Diario de Pernambuco
Publicado em: 05/12/2015 03:39 Atualizado em: 02/12/2016 17:23
Na despedida, todos cantaram juntos. Foto: Luiza Maia/DP/D.A. Press |
O clima de gratidão marcou a passagem do show do Prêmio da Música Brasileira por Pernambuco, em homenagem aos 50 anos de carreira de Maria Bethânia. Última parada da turnê, após Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasília, a apresentação no Classic Hall, nesta sexta-feira, contou com todos os integrantes do projeto: Zélia Duncan, Arlindo Cruz, João Bosco, Chico César, Camila Pitanga e o pernambucano Lenine, inicialmente de fora por choque de agenda. Na plateia, claro, estava a mãe dele, dona Dayse, sempre presente. "Hoje estão todos aqui. Mãe tá aqui. Hoje eu tô cantando pra mãe. Vocês estão aí porque querem", brincou.
Histórias sobre a relação com a Abelha Rainha e agradecimentos complementaram o repertório preciso da noite, composto prioritariamente por sucessos da carreira. Cada um dos seis convidados fez uma apresentação solo, com algumas interseções.
Autora dos textos da cerimônia de premiação, também dedicada à intérprete baiana, em junho, Zélia Duncan abriu a noite, com Rosa dos ventos, canção de Chico Buarque mais conhecida pela forte interpretação de Bethânia, seguida por Esotérico, de Caetano Veloso. "A próxima música é outra delícia de uma compositora maravilhosa, que é a Rita Lee. Em Brasília, eles cantaram bastante. Vocês não precisam cantar, a amizade continua, mas podem cantar se quiserem", brincou a paulista, antes de Baila comigo e Vida, de Chico.
Lenine e Chico César fizeram dueto de "Último pau de arara" e "Lamento sertanejo". Foto: Prêmio da Música/Divulgação |
Acompanhado do falante violão, o mineiro resgatou uma das primeiras canções de Caetano Veloso, De manhã, presente no LP de estreia da irmã. Honrado, mostrou Memória da pele, feita por ele em parceria com Waly Salomão a pedido da cantora, seguida por Maria (Ary Barroso e Luís Peixoto). Encerrou, sem o instrumento, com Negue e deixou os últimos versos para Camila Pitanga.
A atriz, que já foi assistente de palco e apresentadora do Prêmio da Música Brasileira, dona de uma voz doce e sem correr riscos técnicos, parecia a mais grata da noite – e não era difícil entender o porquê. "Vocês não sabem o que é dividir o camarim com Zélia Duncan, dançar com João Bosco, Lenine, o que é esperar a Abelha Rainha chegar", gabou-se, antes de Lama. Coube a ela a interpretação do texto Olho de lince, de autoria de Maria Bethânia, uma apaixonada pelos poemas. Despediu-se, sob calorosos aplausos, com passos de afoxé e descalça, como a baiana.
A Lenine e Chico César – que se revezaram nas outras cidades – cabiam as canções mais nordestinas do repertório. Ambos presentes no Recife, cantaram em dueto Último pau de arara e Lamento sertanejo. Aplaudido de pé assim que entrou, o recifense mostrou Na primeira manhã (Alceu Valença) e Nem o Sol, nem a lua, nem eu, escrita por ele como faixa do disco Maricotinha (2001) na qual fez participação. O prazer de recordar uma canção gravada por Bethânia também foi dada a Chico César, que já teve cerca de dez músicas registradas por ela. A escolhida foi Estado de poesia, presente em Carta e amor.
A estrela da noite foi a última a se apresentar, com clássicos como Carcará, Fera ferida, O quereres, Explode coração, além de um belo texto de agradecimento ao público, aos orixás e à natureza. "Recife me tirou da minha casa, da minha Bahia, do meu acarajé", brincou. Todos juntos e entregues ao samba entoaram O que é, o que é, de Gonzaguinha, e Sonho meu.
BASTIDORES
Após o show, em coquetel para convidados, quem roubou a cena foi o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, que terminou a primeira etapa do tratamento contra o câncer de pulmão no mês passado. Assim que saíram dos camarins, todos foram cumprimentar o artista. "Como é bom vê-lo bem assim", comemorou Zélia Duncan, após um longo abraço e elogios ao mais recente projeto dele, Café no bule, em parceria com Zeca Baleiro e Paulo Lepetit.
A homenageada da noite também fez questão de reverenciá-lo e comemorar, junto a Lenine, a assiduidade dele nos shows de ambos. Na próxima quinta-feira, o principal instrumentista do estado será agraciado com o título de doutor honoris causa, concedido pela Universidade Federal Rural de Pernambuco.
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Confira o repertório da noite:
Zélia Duncan
Rosa dos ventos (Chico Buarque)
Esotérico (Caetano Veloso)
Baila comigo (Rita Lee)
Vida (Chico Buarque)
Arlindo Cruz
Apesar de você (Chico Buarque)
Rainha negra (Moacyr Luz e Aldir Blanc)
Reconvexo (Caetano Veloso)
Sonho meu (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho), com finalização de João Bosco
João do Bosco
De manhã (Caetano Veloso)
Memória da pele (Waly Salomão e João Bosco
Maria (Ary Barroso e Luís Peixoto)
Negue (Adelino Moreira e Enzo Almeida Passos), com finalização de Camila Pitanga
Camila Pitanga
Lama (Paulo Marques e Aylce Chaves)
Âmbar (Adriana Calcanhotto)
Olho de lince (Maria Bethânia)
Lenine
Na primeira manhã (Alceu Valença)
Nem o Sol, nem a lua, nem eu (Lenine)
Lenine e Chico César
Último pau de arara (Venâncio, Corumba e José Guimarães)
Lamento sertanejo (Dominguinhos e Gilberto Gil)
Chico César
Onde estará o meu amor (Chico César)
Estado de poesia (Chico César)
Todos
Maria (Ary Barroso e Luís Peixoto)
Maria Bethânia
Carcará (João do Vale e José Cândido)
Fera ferida (Roberto e Erasmo Carlos)
O quereres (Caetano Veloso)
Não dá mais pra segurar (Explode coração) (Gonzaguinha)
Imbelezô eu (Roque Ferreira)
Todos
O que é, o que é (Gonzaguinha)
Sonho meu (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho)