Televisão
Matheus Nachtergaele vive Zé do Caixão em série de TV e diz que brasileiro não é tão culto
Com seis episódios, a série sobre o cineasta José Mojica Marins estreia nesta sexta-feira, às 21h30, no canal Space
Por: Fernanda Guerra - Diario de Pernambuco
Publicado em: 13/11/2015 15:05 Atualizado em: 14/11/2015 11:49
Foto: TV Globo/Divulgação |
Em plena Sexta-feira 13, a trajetória de uma das figuras mais emblemáticas do gênero de terror brasileiro chega à televisão. O caminho do cineasta José Mojica Marins é revisitado na série Zé do Caixão, personagem que ganhou uma proporção maior do que o próprio criador. Em cada episódio, o seriado conta o processo de criação de seis filmes do diretor e retrata a relação com elenco e produtores, conflitos pessoais, problemas econômicos e período em que passou a fazer filmes pornográficos. A produção estreia nesta sexta-feira, às 21h30, no canal Space, com o ator Matheus Nachtergaele na pele de Mojica.
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Dirigida por Vitor Mafra (Lascados), a série começa com os bastidores do filme faroeste A sina do aventureiro (1958). Na sequência, À meia noite levarei sua alma; Esta noite encarnarei no teu cadáver; O ritual dos sádicos; Perversão e 24 horas de sexo explícito. Para quem é fã de Mojica e sua obra, o festival Janela Internacional de Cinema exibirá o filme Fábulas negras, formado por contos baseados nas lendas brasileiras. Um dos curtas-metragens, O saci, é dirigido por Mojica. Será hoje, às 19h30, no Cinema da Fundação.
Entrevista>> Matheus Nachtergaele
Qual período da vida de Mojica você mais se identificou?
O momento da criação de Zé do Caixão me comoveu muito. Eu me senti honrado em refazer a trajetória poeticamente. Porque é um ator fazendo um autor que vai criar um personagem. Zé do Caixão tem o mesmo espaço que uma lenda, como Lobisomem, Lampião, Saci-Pererê. Depois, veio um certo desespero da decadência dele nos anos 1980. Com uma falta de grana grande, ele parou de fazer filmes bonitos e passou a dirigir sexo explícito na Boca do Lixo, em São Paulo, para poder viver. Depois do auge, a sobrevivência num país que não tem respeito aos artistas.
Mojica, o cineasta, é mais conhecido fora do Brasil do que aqui, onde ele é visto mais como personagem do que como cineasta. Qual sua impressão?
Isso é trágico e bonito. É a vitória da fantasia sobre a realidade. Eles se mesclaram e, a partir de um certo momento, Mojica assumiu a identidade do personagem para fazer mídia. Ele proporcionou essa "confusão", mas para quem se interessa por arte, o artista é mais conhecido. No Brasil, as pessoas não são tão cultas. Mas acho que, de qualquer maneira, é um cara lembrado por qualquer pessoa. O que acho bacana é olhar para o cara que criou Zé do Caixão. Ele andou se queixando do poder que Zé do Caixão teve.
No Brasil, é comum que filmes premiados em festivais passem despercebidos pelo público. Como enxerga isso?
O Brasil nunca viu seus grandes filmes. Às vezes, acontece um pequeno milagre de um filme de vocação artística ter público. Via de regra, não se assiste a bons filmes. O público, em geral, não tem tempo, dinheiro e nem estímulo. Mas sou muito feliz de fazer filmes que vão durar. Amarelo manga (de Cláudio Assis) é um filme eterno. É considerado um filme de arte e foi bem de bilheteria. Auto da Compadecida (de Guel Arraes) não abre mão do que quer ser e teve público. Mojica passou por isso. O grande filme dele não foi visto e isso é uma lacuna profissional. Eu insisto. Gosto de fazer televisão aberta, mas continuo insistindo em fazer filmes com incômodos para mexer com o imaginário e moral da gente.
Como criou o seu Mojica?
O Zé do Caixão se misturou um pouco do Mojica. É um personagem que habita o imaginário do povo brasileiro. Eu tinha um desafio grande nesse caso de fazer um personagem que habita nossa lembranca, que tem trejeito muito específico. A partir do capítulo dois, injetar o Zé do Caixão e o meu Mojica. Essa parte vai entrando para dentro da vida coitidana dele. A maneira impostada de falar. Tomei a liberdade de usar as tintas fortes. Ele se expôs plenamente. Alguns filmes do Mojica, eu considero obra de arte e, ao mesmo tempo, um ícone pop, de pegar o personagem e fazer enterro, coisa pra viver. A construção foi assistir a entrevistas do Mojica, ler a biografia, usar a liberdade que ele propõe na vida dele.
Você chegou a conhecê-lo?
Eu o conheci muito pouco. Tive com Mojica em 2008. A gente se cumprimentou. Era um projeto de filme, acabou virando uma série. Quando começamos a trabalhar efetivamente, ele estava muito doente. Não era possível ter acesso a ele. O que me libertou bastante. Fiz com as impressões que eu tive do material que chegou a mim, dos filmes que assisti, pude criar o meu mojica... Mesmo sendo fiel as características do cara, não estava emocionalmente atrelado a ele. A queixa dele é a mesma da maioria dos artistas brasileiros. Quase todo artista brasileiro que incomoda não se deu bem de grana. Ele não fez o pacto com o diabo. Ele tem a parcela de culpa. Ele não teve esse tino comercial. Talvez por isso seja tão interessante.
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