Arte Artistas visuais do Diario ganham prêmio e menção honrosa no Vladimir Herzog Greg e Jarbas foram contemplados na 37ª edição do prêmio como vencedor e por menção honrosa, respectivamente, na categoria Artes

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 04/10/2015 12:48 Atualizado em:

As charges, quando engajadas com mazelas sociais, servem para que os leitores não se acostumem com o que está errado no mundo. A sentença, repetida mentalmente por Jarbas Domingos no exercício diário da profissão - ele atua na editoria de Artes Visuais do Diario de Pernambuco - se aplica também às caricaturas e ilustrações. Resume a contribuição moral, a reflexão ofertada ao público sem a dependência das palavras, em traços livres, carregados de ironia, posicionamento político e uma dose necessária de acidez. Na 37ª edição do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, Jarbas, autor da primeira frase deste texto, recebeu Menção Honrosa na categoria Artes. O colega Gregório de Holanda, também do Diario, foi vencedor na mesma categoria - os únicos premiados no Nordeste do país. Essa foi a primeira vez que as decisões da comissão organizadora do prêmio foram transmitidas em tempo real pela internet, na última quarta-feira.

Greg provocou debate sobre a redução da maioridade penal. Foto: Arquivo/DP
Greg provocou debate sobre a redução da maioridade penal. Foto: Arquivo/DP
Na ilustração vencedora - criada para o editorial Em foco publicado no dia 1º de julho deste ano, intitulado O estado quer lavar as mãos - Greg provoca reflexão sobre a proposta de redução da maioridade penal. Atrás das grades, uma criança estica o braço a fim de alcançar um caderno e um lápis. “O mais importante, para mim, é que esse prêmio tem o olhar voltado para os Direitos Humanos”, declarou Greg em entrevista ao Viver. Para Jarbas, cuja charge premiada também abordava o tema da maioridade penal -  uma sátira às manobras políticas do parlamentar Eduardo Cunha, que posiciona um quadro de modo a transformar tarjas em grades - a recorrência temática reforça a importância dessa discussão.

Confira a lista completa de premiados em todas as categorias

“Existe muita coisa por trás dessa questão [da maioridade penal]. A falta de oportunidades, de educação de qualidade, além da convivência com o tráfico de drogas e das más condições das penitenciárias do país”, destrincha Jarbas. “Buscamos incentivar a reflexão sobre todos esses pontos, através de imagens. Abordei a polêmica com traços de humor, ironia. Greg teve uma perspectiva mais plástica, poética.” Ao todo, 612 obras foram inscritas, número considerado recorde na última década. Os contemplados recebem as honrarias em cerimônia marcada para o dia 20 deste mês, no Teatro da Universidade Católica de São Paulo (TUCA), em São Paulo.

>> ENTREVISTA: Greg, artista visual

Como interpreta o foco do prêmio voltado para os Direitos Humanos?
Essa premiação tem como característica privilegiar os Direitos Humanos, desde sua criação. Eu acho que seja um dos prêmios mais legais do país. Acho que seja uma feliz coincidência ambas serem do Diario, as ilustrações premiadas na categoria Artes. O tema recorrente, a polêmica em torno da redução da maioridade penal, também reforça a importância dessa discussão. Não assisti à transmissão, mas recebi a notícia pelos colegas do Diario.

E como buscou inspiração para o desenho? Como surgiu a ilustração?
A inspiração veio diretamente do debate em torno do assunto. Eu tinha lido um trecho da discussão sobre o tema, publicada em artigo do Em foco, e aquele desenho surgiu como uma ideia bem imediata. O texto estava muito legal.

Jarbas fez sátira a Eduardo Cunha e ganhou menção honrosa. Foto: Arquivo/DP
Jarbas fez sátira a Eduardo Cunha e ganhou menção honrosa. Foto: Arquivo/DP

>> ENTREVISTA: Jarbas Domingues, artista visual
Como recebeu a notícia da Menção Honrosa? Qual a reação diante do reconhecimento?

As pessoas que assistiram à discussão da comissão, transmitida online, disseram que o julgamento na categoria Artes levou bastante tempo. Deve ser difícil avaliar conceitos das imagens trabalhadas em veículos de imprensa, charges reflexivas e de humor. Algumas são ilustrações que apoiam textos. Recebi a notícia por telefone, por uma colega do jornal. O papel da charge é levantar discussões. Então, ver as pessoas discutindo sobre isso, especialmente na comissão do prêmio, significa que alcancei meu objetivo. É emocionante.

Como vê o desempenho do Diario na premiação, visto que os dois únicos contemplados no Nordeste integram a equipe de artes visuais do jornal?

O Diario tem tido grande êxito nas artes visuais. Do Brasil, a editoria foi a mais premiada no Wolrd Press Cartoon. Eu e os colegas Greg e Samuca fomos contemplados nessa premiação internacional. Nós, da equipe de artes visuais, estamos sempre abordando questões relacionadas aos Direitos Humanos. Há o que falar sobre isso todos os dias.

Qual a importância do prêmio dedicado a produções que contribuem para valorização dos Direitos Humanos?

O mundo está muito aquém do ideal em relação aos Direitos Humanos. A América Latina, por exemplo, é uma zona problemática. E o Brasil, muito grande e não tão bem administrado, infelizmente, se destaca. A gente percebe, na sociedade, essa falha. Quase todas as charges que fazemos estão relacionadas aos direitos humanos, por ser um dos assuntos mais recorrentes nacionalmente, seja em relação às injustiças sociais, em relação a arbitrariedades nesse tema. As charges têm, por essência, função crítica. E toda vez que exploramos essas falhas, nós contribuímos para que as pessoas não se acostumem com o que está errado no mundo.

>> O PRÊMIO
Dois anos após o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em São Paulo, o Comitê Brasileiro de Anistia (CBA), sugeriu a criação de um prêmio que denunciasse a repressão. A primeira edição ocorreu em 1978, organizada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, Comitê Brasileiro de Anistia, Comissão de Direitos Humanos da OAB, Comissão de Justiça e Paz da Cúria Metropolitana/SP, Associação Brasileira de Imprensa e pela Federação Nacional dos Jornalistas. Anualmente, são premiadas nove categorias: artes, fotografia, jornais, rádio, revista, internet, TV – Documentário, TV – Jornalismo e tema especial.

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