Debate
"A cidade se transformou em um lugar que você não habita mais", diz o filósofo Vladimir Safatle, sobre o Ocupe Estelita
Para professor de filosofia da USP, escritor e colunista, as pessoas parecem desejar a sua própria servidão e deixam de acreditar na transformação. Ele participa de três eventos no Recife
Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco
Publicado em: 22/10/2015 08:16 Atualizado em: 22/10/2015 09:44
Foto: Reprodução/ocafezinho.com |
O saber acadêmico não nos representa. Ao menos não de imediato, quando as intempéries econômico-político-sociais tomam conta da noite para o dia. Ou , pior, resistem semanas, meses, anos, como se fossem invisíveis. Quem sofre, vê. Basta viver em uma grande cidade para constatar a ausência de instituições no debate público de grandes temas caros à vida em sociedade, enquanto os próprios universitários costumam tomar a frente, manifestar, ocupar, questionar. Há uma vala de grandes proporções entre o tempo de resposta, abrangência da participação e da produção acadêmica em relação às aflições sociais contemporâneas.
Para o professor de filosofia da USP, escritor e colunista do jornal Folha de S. Paulo, Vladimir Safatle, existe um "movimento perverso" para isolar a academia e impedir a articulação com movimentos sociais, com a imprensa. "Tentam nos impulsionar a fazer só um tipo de produção que circula somente entre universitários". Na tentativa de seguir contra a corrente, o doutor em filosofia pela Universidade de Paris vem ao Recife nesta sexta-feira (23) e sábado (24) para participar de debates e lançar o novo livro, O circuito dos afetos (Cosac Naify, R$ 59,90).
AGENDA:
Debate Recife entre muros, com Vladimir Safatle (USP), Kléber Mendonça Filho (Fundaj), Edinéa Alcântara (IFPE/Movimento Ocupe Estelita) e Christian Dunker (USP) - Após exibição do filme O som ao redor, discussão sobre política, medo e "lógica do condomínio"
Quando: sexta-feira 17h
Onde: Cinema da Fundação - Derby
Debate com Vladimir Safatle (USP), Filipe Campelo (UFPE), Mariana Pimentel FIscher (UFPE/USP), Érico Andrade (UFPE).
Quando: sexta-feira, 14h
Onde: Auditório da Biblioteca Central da UFPE - Cidade Universitária
Minicurso sobre o circuito dos afetos.
Quando: sábado, às 14h30
Onde: Aliança Francesa do Derby
Ingressos: R$ 90
Informações: wwww.3emeio.com.br
Confira entrevista:
Quando: sexta-feira 17h
Onde: Cinema da Fundação - Derby
Debate com Vladimir Safatle (USP), Filipe Campelo (UFPE), Mariana Pimentel FIscher (UFPE/USP), Érico Andrade (UFPE).
Quando: sexta-feira, 14h
Onde: Auditório da Biblioteca Central da UFPE - Cidade Universitária
Minicurso sobre o circuito dos afetos.
Quando: sábado, às 14h30
Onde: Aliança Francesa do Derby
Ingressos: R$ 90
Informações: wwww.3emeio.com.br
Confira entrevista:
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Uma questão fundamental da política, desde as reflexões instauradoras das políticas modernas, é que as pessoas parecem desejar a sua própria servidão. Deixam de acreditar na própria transformação. Partindo desse problema, digo que política não é só questão de circulação de bens e riquezas, mas sobre circulação de afetos. Digo como afetos circulam nos campos políticos, o que pode ser visto ou não, percebido ou não, sentido ou não...
Como o afeto circula nesses espaços?
Você tem processos e ideias que em certo momento aparecem como não problemáticas. Daí, por exemplo, a insistência em afirmar que os afetos que mais organizam nossa vida são o medo e esperança, que não são isolados, mas complementares. É preciso superá-los. São necessários para entender as associações entre indivíduos. Sobre o medo, é aquele indivíduo que é impulsionado ao medo do outro indivíduo de ser possuído, de perder sua propriedade. Sobre a esperança, é a de poder projetar no tempo algo que vai livrar sua contingência radical disso tudo.
Na sexta-feira, o senhor vai dialogar sobre o Movimento Ocupe Estelita. Como enxerga?
Esses movimentos são centrais, porque a cidade se transformou em um lugar em que você não habita mais, porque você aparece como figuração de um processo de autovalorização do capital por especulação imobiliária. Não é uma cidade para morar, mas para investir. Você vê a cidade como questão de propriedade. Um segundo movimento, a depender do lugar, seria a espetacularização da vida. Em que tipo de sociedade nós elevamos nosso princípio de sociedade à existência de segurança? Porque se não houver a propriedade não me sentiria seguro. Essa desconstrução é fundamental.
Seria abrir mão da individualidade em prol da segurança?
Seria abrir mão da individualidade em prol da segurança?
Não só isso, o que ocorre é que na cidade existe uma justaposição de individualidades. Isso me parece extremamente elucidativo para como tem sido pensada a história do Brasil.
Como vai ser a passagem do senhor pelo Recife? Haverá interações com vários públicos...
No campo universitário, o debate é muito mais centrado em alguns fundamentos na teoria da filosofia política. Nos debates abertos, existe um movimento perverso de tentar nos colocar em guetos, quebrando a articulação com movimentos sociais, com a imprensa. Tentam nos impulsionar a fazer só um tipo de produção que circula somente entre universitários, como se fosse a expressão máxima do rigor e do profissionalismo. É algo perverso porque quebra uma das coisas mais belas da tradição acadêmica brasileira, que é a construção dos intelectuais do país, como Celso Furtado, um dos maiores economistas do século 20, que participava do debate público de maneira engenhosa e proveitosa. Fico triste em perceber como essa participação acadêmica é desqualificiada.
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