Entrevista "O preconceito não vai acabar nunca", dispara Elza Soares, que canta Lupicínio neste sábado Cantora carioca apresenta turnê "Elza canta e chora Lupicínio", neste sábado e domingo, no Teatro Boa Vista

Por: Marina Simões - Diario de Pernambuco

Publicado em: 11/09/2015 20:40 Atualizado em: 11/09/2015 20:03

Foto: Stéphane Murnier/Divulgação
Foto: Stéphane Murnier/Divulgação

Em performance intimista, a cantora Elza Soares apresenta o projeto Elza canta e chora Lupicínio, neste sábado, às 21h, e domingo, às 20h, no Teatro Boa Vista. Aos 77 anos e com a coluna piorada, a carioca sobe ao palco com seu vozeirão característico e imprime ainda mais sentimento às canções do artista conhecido como rei da "dor de cotovelo". No repertório, Elza incluiu a faixa inédita Lembrança, de sua autoria, para homenagear Lupi. No palco, é acompanhada por uma banda sob batuta do maestro Eduardo Neves.

Confira outros shows no roteiro do Divirta-se

O ano de 2015 rendeu bons frutos para a artista. Além da turnê, Elza é tema do documentário My name is now, de Elizabete Martins, que estará na programação da Mimo, em novembro, em Olinda. Ela também está prestes a lançar o disco de inéditas A mulher do fim do mundo, previsto para outubro. "Estou com a coluna piorada. Mas isso não me impede. Estou sempre pronta e aposto em tudo o que faço. Escolho os melhores e por isso tenho uma equipe grande, com maquiador, produtor e assessor, que me acompanha", afirma.

Em entrevista ao Viver, Elza falou sobre sua relação com Lupi (1914-1974), deu detalhes do filme e ainda comentou temas como preconceito e dor de cotovelo.

Entrevista // Elza Soares

Por que resolveu homenagear Lupicínio Rodrigues?
Ano passado foi o centenário dele. Nos conhecemos no início da minha carreira e a minha primeira canção, Se acaso você chegasse, era de autoria dele. Ficamos muito amigos e ele representa muito para mim.

Qual sua principal lembrança ao lado dele?

Nesse show, conto o vexame que foi o dia que nos conhecemos. Eu trabalhava numa boate, o Texas Bar. Ele chegou ao local todo vestido de branco e com um buquê de rosas vermelhas nas mãos para mim. Eu recusei: "Detesto rosas e não me chamo Rosa". E pedi desculpas. Tinha medo de homens. E ele ficou me olhando muito com aquele olho de pidão. Não, jamé! Quando ele me disse que era Lupicínio Rodrigues, quase caí para trás. Nos tornamos grandes amigos.

Foto: Stéphane Murnier/Divulgação
Foto: Stéphane Murnier/Divulgação
Adriana Calcanhotto acaba de lançar o projeto Loucura, dedicado a Lupicínio Rodrigues. O que achou dessa nova homenagem?
Acho que ele merece. É um grande poeta brasileiro, e quanto mais gente cantando, melhor.

Você pretende homenagear outros artistas?
É difícil falar isso. Teria centenas de artistas para homenagear. Agora estou com um CD novo saindo, A mulher do fim do mundo. O grande lançamento será no dia 3 de outubro, em São Paulo. E ainda tenho muitos projetos para serem feitos.

O lado visual e performático é tão importante para sua obra quanto o lado musical?
Lógico, o artista quando vai ao palco se transforma. Me preocupo muito com roupa, maquiagem, cenário. No palco, tenho que entrar soberana. É o que busco fazer sempre.

Como analisa a dor de cotovelo na música atual?
Lupi era corajoso, não é todo mundo que consegue cantar suas dores. Ele deixou um repertório de músicas lindas. No fundo, todo mundo é romântico. E quem nunca teve uma dor de cotovelo? Hoje, ninguém faz isso. Não vejo mais nada parecido. Quem poderia fazer algo assim é Caetano, que é mais sentimental, ou o Gilberto Gil.

Como uma mulher revolucionária para sua época e alvo de críticas e preconceito, acredita que hoje em dia é mais fácil para as cantoras?
Acho o seguinte: o preconceito não vai acabar nunca. Nos meus shows, falo do preconceito, do sofrimento da mulher, da homofobia. Todos sabem o que acontece a toda hora e não adianta passar um paninho e fingir que não. Uma andorinha só nao faz verão, mas várias podem fazer uma coisa maravilhosa.

Qual a essência do documentário My name is now? Por que optou por não explorar as histórias mais sofridas da sua trajetória?
Esse filme foi muito focado na minha voz. Não tem tragédia. Perdi meu filho recentemente… e não. Chega, chega de falar de tristeza. A vida é bonita, o mundo é alegre. Devemos festejar a vida. Tem as coisas que faço, músicas que canto e uma parte muito forte com Garrincha.

Serviço
Elza canta e chora Lupicínio
Quando: Sábado (12), às 21h, e domingo (13), às 20h
Onde: Teatro Boa Vista (Rua Dom Bosco, 551, Boa Vista)
Ingressos: R$ 40 a R$ 100
Informações: 2129-5961 e 98581-2464

Confira o setlist do show:
Exemplo
Esses moços
Nunca
Loucura
Ela disse-me assim
Quem há de dizer
Cadeira vazia
Vingança
Volta
Caixa de ódio
Eu não sou louco
Se acaso você chegasse
Nervos de aço
Felicidade


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