MP investiga racismo e discriminação em balada sertaneja de SP O inquérito foi aberto após a criação de uma página no Facebook denunciando casos em que pessoas "fora do padrão de beleza" da casa e negros estariam sendo barrados

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 06/08/2015 18:20 Atualizado em: 06/08/2015 18:14

Foto: Facebook/Reproção
Foto: Facebook/Reproção

Uma página criada há menos de uma semana nas redes sociais levou a casa de festas Villa Mix, em São Paulo, a entrar na mira do Ministério Público do Estado. Criado no último sábado (1º), o perfil reúne mais de 16 mil seguidores, que denunciam casos de discriminação praticados por promotores e funcionários da balada sertaneja. O Villa Mix tem 20 dias para prestar esclarecimentos ao MP.

Entre os depoimentos, há diversos relatos de clientes que foram barrados na entrada por causa da cor da pele ou da aparência física. No entanto, esse tipo de situação ocorria de forma velada: recebiam o retorno de que o nome não estava na lista ou que a casa estava lotada, mas tinham sido barrados por não atenderam ao "padrão" imposto pela casa.

Segundo a promotora de Justiça Beatriz Helena Budin Fonseca, “essa escolha de ‘quem entra e quem não entra’ tem a função de segregar e marcar a divisão entre pessoas que, embora morem na mesma cidade, não possuem a mesma classe social, a mesma cor de pele, o mesmo peso, ou a mesma beleza considerada como ideal pela representada."

Para ter a entrada liberada na casa, as mulheres passam por um processo de seleção. Foto: Facebook/Reprodução
Para ter a entrada liberada na casa, as mulheres passam por um processo de seleção. Foto: Facebook/Reprodução

A estudante Mariana*, uma das criadoras da página no Facebook, conta que a ideia de denunciar a casa noturna surgiu depois que uma menina divulgou a humilhação sofrida no estabelecimento em um grupo privado. Pouco tempo depois, após o desabafo, milhares de vítimas a procuraram para compartilhar as experiências vividas no local. “A casa é muito preconceituosa e racista. Os promotores barram a entrada de quem é negro, acima do peso ou de pessoas que eles julgam não serem bonitas”, denunciou Mariana.

Segundo ela, enquanto o Villa Mix não se pronunciar e não mudar a atitude com os clientes, o grupo vai continuar com as denúncias.  "Queremos também chegar a outras baladas e estabelecimentos que praticam a mesma atitude, classificando as pessoas de acordo com a etnia, aparência ou classe social”, explica.

A jovem Bianca* contou ao Correio que no aniversário de uma amiga entrou em contato com um promotor para conseguir entradas vip's, que ofereciam insenção do valor da entrada, e o funcionário teria perguntado se as garotas eram bonitas. "Eu afirmei que sim e só então ele nos deu o aval. No dia do evento, fomos para a entrada e passamos por um processo seletivo realizado pelas atendentes. Por fim, elas alegaram que as cortesias estavam esgotadas. Espero que o meu depoimento ajude as pessoas a entenderem que não precisam ir para um lugar onde são julgadas e discriminadas a troco de nada."

Ao Correio, o Villa Mix disse que as acusações expostas na casa são consideradas caluniosas e difamatórias. “Somos contra qualquer tipo de discriminação e não compactuamos, de forma alguma, com o que tem sido exposto nesse perfil. Prezamos pela qualidade da programação, além do conforto e segurança dos clientes, por isso não ultrapassamos a lotação máxima – o que pode gerar filas e a impossibilidade de entrada de mais pessoas no local”.

Questionado sobre o ingresso VIP, o estabelecimento informou, em nota, que essa é uma política da casa e comum no mercado de festas noturnas de São Paulo. “Os VIPs são oferecidos especialmente para patrocinadores, convidados de artistas e prestadores de serviços."

(*) Nomes fictícios para preservar a identidade dos entrevistados.

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