Filmes Cinema do Museu exibirá filmes inéditos e clássicos em Casa Forte Nova sala de projeção começa a funcionar com temporada de 31 longas-metragens. Coordenadores Luiz Joaquim e Kleber Mendonça Fiulho comentaram a programação e a proposta do espaço

Publicado em: 20/08/2015 21:35 Atualizado em: 21/08/2015 08:28

Blade Runner; O Demônio das Onze Horas; O que Terá Acontecido a Baby Jane?; Leviatã; Sangue Azul; e Mad Max.
Blade Runner; O Demônio das Onze Horas; O que Terá Acontecido a Baby Jane?; Leviatã; Sangue Azul; e Mad Max.
 
Luiz Joaquim e Kleber Mendonça Filho, diretores do Cinema da Fundação, cederam uma entrevista coletiva para explicar a proposta do novo Cinema do Museu, que funciona a partir desta semana em Casa Forte, também coordenado por eles. Eles fizeram um pequeno balanço da experiência que tem sido desenvolvida na sala do Derby e falaram das expectativas em torno do novo espaço.

A programação de abertura do Cinema do Museu vai intercalar clássicos com preciosidades cinematográficas mais recentes. O cineasta francês Jean-Luc Godard, por exemplo, participa nos dois tipos de situação, com o novo filme 3D Adeus à linguagem (2014) e com os clássicos O desprezo (1963) e O demônio das onze horas (1965).

Entre os filmes que entrarão na programação nas próximas semanas estão Blade Runner: O caçador de androides (1982), Mad Max: Estrada da Fúria (2015), O que terá acontecido a Baby Jane? (1962), Vampiros de almas (1956), Crepúsculo dos Deuses (1950), A dama de Xangai (1948) e O museu de cera (pinoneiro do cinema 3D lançado em 1953).


Luiz Joaquim é jornalista, crítico de cinema e diretor dos curtas Eiffel e O homem dela. Kleber Mendonça Filho é jornalista, crítico, organizador do festival Janela do Recife e diretor dos longas-metragens O som ao redor e Crítico e de mais de dez curtas, incluindo Recife frio, Vinil verde e Eletrodoméstica. Neste momento, ele filma o segundo longa, Aquarius, com a atriz Sônia Braga.

Luiz Joaquim e Kleber Mendonça Filho no novo cinema. Fotos: Ricardo Fernandes/ DP/ D.A.Press
Luiz Joaquim e Kleber Mendonça Filho no novo cinema. Fotos: Ricardo Fernandes/ DP/ D.A.Press

DEPOIMENTOS DE KLEBER MENDONÇA FILHO (KMF) E LUIZ JOAQUIM (LJ):

KMF: "Este é um projeto em equipe, que nos levou três anos, aqui na Fundação Joaquim Nabuco, uma instituição pública, que envolve arquitetos, engenheiros, o pessoal da área de logística e o departamento do Cinema da Fundação. É uma bela sala que vem complementar o trabalho que vem sendo feito na sala do Derby. O Cinema da Fundação do Derby tem 197 lugares. O Cinema do Museu tem 166 poltronas."

LJ - "Há também uma cadeira específica para obesos e uma para pessoas com dificuldade de mobilidade. Mais quatro lugares para cadeirantes."

KMF - "O Cinema da Fundação do Derby tem recebido um público anual de 60 mil pessoas em média nos últimos anos. É um número que estacionou porque não tínhamos como crescer mais. A solução foi fazer uma nova sala em outro prédio da Fundação Joaquim Nabuco. O auditório Benício Dias, no Museu do Homem do Nordeste, é o que mais fazia sentido, não só pela arquitetura, mas também pela localização em Casa Forte. O bairro é interessante porque pega toda uma região que envolve Parnamirim e Casa Amarela."

LJ - "A gente teve muitas colaborações fundamentais e uma das mais vitais foi a de Osvaldo Emery, que era da Cinemateca Brasileira e é um dos maiores especialistas em auditórios e salas de cinema. Ele veio várias vezes ao Recife para discutir com a gente questões como a visibilidade correta da tela, a posição das poltronas e a acústica, uma série de aspectos técnicos extremamente específicos que quase ninguém tem conhecimento com tanta profundidade aqui no Recife."

KMF - "Tecnicamente, a sala está equipada com projetor 4k, algo ainda raro no circuito de exibição, e um projetor 35 milímetros, que foi uma doação da Cinépolis através da prefeitura de Jaboatão dos Guararapes. Nesse processo de três anos, aconteceu uma coisa triste porque partimos para comprar nosso próprio projetor de película analógico. A ideia era investir em um projetor multiformato que tocaria 16mm, 35mm e 70mm. Só existia um projetor com esse perfil disponível no mercado, que era o Kinoton alemão. Aí quando nós entramos em contato com a Kinoton eles lamentaram que três meses antes eles tinham parado para sempre a produção dos projetores por causa do fim decretado e declarado da fabricação de projetores de película. Ainda vamos receber a doação de um projetor de 16mm, provavelmente do Sesc-SP, e a sala ficará equipada para exibir diversos formatos."

LJ - "O projetor de 35mm que vamos usar foi fabricado em 2012. É da marca italiana Cinemeccanica."

KMF - "O Cinema da Fundação do Derby já exibiu 33 filmes pernambucanos para 54 mil espectadores. Eu acho que é um número muito interessante para aquela sala, que mostra que o público não veio ver os filmes pernambucanos como um tipo de favor. Existe realmente um interesse. É um levantamento fantástico para uma produção local e regional que tem chamado muita atenção no mundo e Brasil afora."

LJ - "As portas estão abertas para a produção pernambucana para produtores e realizadores. É um número impressionante para uma sala de 197 lugares."

KMF - "Esse ano tivemos um caso muito particular que foi o filme de Camilo Cavalcante, A história da eternidade. Pode-se dizer que metade do público que ele teve no Brasil foi no Cinema da Fundação. Por um lado, isso mostra os problemas de distribuição do cinema brasileiro, mas mostra também o tipo de impacto que uma sala no Recife pode ter para um filme. Algo semelhante aconteceu no Cinema São Luiz com Tatuagem, que também teve um ótimo público no Cinema da Fundação."

LJ - "Muita gente pergunta sobre como vai ser a programação dessa sala. Não são dois espaços distintos. As duas salas estão sob a coordenação da Fundação Joaquim Nabuco. A programação será distinta, mas não necessariamente distinta. Alguns filmes que tenham uma demanda de público grande pode ocupar as duas salas ao mesmo tempo, mas isso não é uma determinação. A gente vai começar uma experiência nova, em um bairro completamente diferente do Derby, e a gente ainda vai começar a entender como vai se dar essa dinâmica com o público da região."

KMF - "O Recife hoje tem 60 salas comerciais, que às vezes exibem apenas nove filmes. O Cinema da Fundação às vezes consegue exibir em uma semana mais filmes do que essas 60 salas, dependendo da época do ano. É uma tentativa de mostrar uma ideia de diversidade e pluralidade no cinema. A gente está esperando agora duas salas novas, uma na UFPE e outra no Porto Mídia, promessas para o ano que vem. O Parque tristemente está fechado. A gente tem tudo para juntar forças e exibir um tipo de filme que não teria espaço para ser exibido normalmente. "

LJ - "A gente tem um bicicletário aqui. A gente quer muito que essa prática seja rotineira, de vir ao cinema de bicicleta. Vamos tentar fazer com que isso seja um novo hábito para a população."

KMF - "O Cinema da fundação já está há dois anos sem reajuste no preço do ingresso. Todas as salas irmãs do Cinema da Fundação em outras cidades do Brasil cobram mais caro, como o CineSesc de São Paulo e o Cinema Glauber Rocha de Salvador."

LJ - "Essa é uma sala pública, aberta para a sociedade, mas ao mesmo tempo a gente quer disponibilizar a melhor programação possível. Isso significa uma negociação pesada com os distribuidores, que querem ganhar dinheiro exibindo filmes. Eles perguntam quanto lugares nós temos e qual é o preço do ingresso. Então R$ 14 foi o equlíbrio que encontramos entre as duas coisas, para atender a comunidade e poder negociar com o distribuidor."

LJ - "A temporada de abertura vai exibir 31 longas-metragens, dividos em três partes. Uma delas é o Grands Classiques Français, uma parceria com a Cinemateca da Embaixada da França do Rio de Janeiro e com o Consulado da França do Recife. São 13 filmes restaurados, com obras de Renoir, Bresson, Tati, Godard e Bresson, além de outros não tão conhecidos. Outro bloco são os clássicos incontestáveis do cinema mundial."

KMF - "Estamos trazendo seis filmes restaurados pela distribuidora inglesa Park Circus. Tem Blade Runner: O caçador de andróides, tem O museu de cera, que é um dos primeiros filmes em 3D dos anos 50, fantástico como experiência de sessão de cinema. Vampiro de almas, de Don Seigel, dos anos 50. O que terá acontecido a Baby Jane?, com Bette Davis e Joan Crawford. Sunset Boulevard eu achei que não seria nada mal exibir porque é um dos maiores clássicos da história do cinema. Meio que dando uma piscada de olho para os 100 anos de Orson Welles, A dama de Xangai, exibido em 4k. Serão três sessões de cada um deles, com cópias maravilhosas, estalando de novas. Tem também três Mad Max, os de 1979, 1982 e 2015. O da Cúpula do Trovão, de 1985, não foi disponibilizado. Ele é o patinho feio dos quatro, mas eu nem acho ruim."

LJ - "Mad Max: Estrada da fúria vai permitir que as pessoas sintam o impacto do som 7.1. A gente quer que as pessoas passem por essa experiência."

KMF - "Durante os dois primeiros meses, a gente vai ter uma mistura de programação normal com essa programação especial de abertura."

LJ - "Vai ser interessante ver um filme de Godard em 3D, de 2014, na mesma semana de dois Godard clássicos dos anos 60, que são O desperezo e O demônio das onze horas."

KMF - "A gente fez uma espécie de concurso com o público para que fossem produzidas vinhetas de abertura que vamos exibir antes dos filmes. Das 23 inscritas, selecionamos dez. Eu acho que isso mostra um grau de interação e criatividade de gente que quer participar e falar um pouco sobre a ideia de ir ao cinema."

PROGRAMAÇÃO DOS PRIMEIROS DIAS:

Sexta, dia 21
20h - Que horas ela volta?

Sábado, dia 22
15h10 - O sétimo selo
17h10 - Um jovem poeta
18h50 - Adeus à linguagem (3D)
20h30 - O desprezo

Domingo, dia 23
11h - Guarda-chuvas do amor
14h30 - O demônio das onze horas
17h - A grande ilusão
19h30 - Cala a boca, Philip!

Segunda, dia 24
16h - Nick Cave: 20 mil dias na Terra
18h10 - Cala a boca, Philip!
20h30 - O demônio da Argélia

Terça, dia 25
14h20 - A história da eternidade
16h40 - Leviatã
20h30 - French Can Can

Quarta, dia 26
16h25 - Sangue azul
18h50 - Adeus à linguagem (3D)
20h30 - O sétimo selo

Endereço: Avenida 17 de agosto, 2187, Casa Forte.
Informações: 3073-6272 e 3073-6420

Ingressos:
Sessões normais - R$ 14 e R$ 7 (meia)
Sessões 3D - R$ 16 e R$ 8 (meia)
Terças-feiras - R$ 5 para todos
Quartas-feiras - Grátis para professores
Sessões de curtas - R$ 2
* Mostra Grands Classiques Français - R$ 5
Os ingressos do cinema também dão acesso às exposições do Museu do Homem do Nordeste.

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