Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco
Publicado em: 04/05/2015 09:55 Atualizado em:
Crédito: Bruno Guerra/Divulgação |
Estarás mais ancho que estavas no mundo, está escrito em Morte e vida Severina, do escritor pernambucano João Cabral de Melo Neto. Fábio Trummer, a voz da banda Eddie, está, de fato, mais ancho. À vontade, conta que o sexto álbum – lançado nesta segunda-feira (04) na internet – é aquele que mais se aproxima do “alvo” estabelecido pelo grupo em relação ao som produzido desde a década de 1990. De bom tamanho, “nem raso, nem fundo”, nas palavras de João Cabral.
Assim como o auto de Natal pernambucano, no entanto, o álbum está repleto de dicotomias. Se Cabral lista as “vantagens” da cova em relação ao mundo, descortinando o lado “conveniente” da partida, Eddie comemora e lamenta ao mesmo tempo a perda de um amor, na faixa Quebrou, saiu e foi ser só. E em Longe de chegar – com participação de Karina Buhr – a utopia de um lugar sempre distante, porém “tão singular”, remete à vida ideal (mas jamais alcançada) das entrelinhas dos versos de Morte e vida Severina.
A separação da esposa, a perda do pai e o contexto político do país influenciaram a construção das letras – todas compostas por Fábio Trummer, em São Paulo, entre março e novembro de 2014. O gasto com os estádios destinados à Copa do Mundo, o mau desempenho da Seleção e, principalmente, a troca de ofensas entre eleitores frente às urnas são latentes em faixas como Queira não – “Desculpe a gentileza/ eu desculpo o empurrão.”
Mas a prova de que são referências ideológicas e não textuais que unem os versos de João Cabral e o novo disco da Eddie está na faixa-título, Morte e vida. Nenhum trecho do escritor pernambucano é citado ou parafraseado. Mas a ideia da morte – e da vida injusta antes dela – está lá. “A prova do crime é o corpo à prova de Deus/ ao provar a bala, morto/ a prova morreu.” A violência urbana é condenada, como em Pedrada certeira, com mensagem crítica e pacifista. “Buscamos refletir sobre o ciclo das coisas, dos relacionamentos, sobre o convívio social e sobre o fim de todas as coisas. Cabral é um professor, a referência foi filosófica”, explica Trummer.
O show de estreia da turnê está marcado para 26 de junho, em São Paulo. Depois, o grupo segue viagem pelo país, sem contratos fechados até então. Nos próximos shows em Pernambuco, não-relacionados à turnê de Morte e vida, algumas faixas inéditas já entram no repertório. No dia 5 de junho, Eddie sobe ao palco do Clube Atlântico de Olinda para comandar a festa Quando tu balança, junto com Forró Bole Bole e DJ Pós.
Frases
Morte e vida não é uma tradução literal. A morte, na verdade, representa uma renovação. Morrer é se renovar, não significa o momento final. Simboliza ainda a renovação da rotina, cada dia é uma nova luta.”
Andret Oliveira, trompete e teclado
A morte vai além da morte biológica. Há o fim das coisas, dos relacionamentos. Os términos fazem parte da relação entre os seres. Isso tudo é morte e vida. Pode ser o fim de um casamento, a mudança de emprego, uma nova fase e tudo o que ela traz.”
Fabio Trummer, vocalista
Morte e vida sugere uma estética nova, um conceito maduro. É sobre a renovação, sobre não se repetir. Produzir coisas novas. Ao invés de finais, recomeços.”
Kiko Meira, bateria