Entrevista
Marieta Severo volta ao Recife com espetáculo "Incêndios" e compara guerra civil libanesa ao Brasil
A história de uma mãe, Nawal, que deixa toda uma vida para trás por conta de uma guerra civil no país e leva aos filhos mais novos a tarefa de unir as pontas soltas de sua família já foi adaptada para o cinema em 2010
Por: Isabelle Barros
Publicado em: 30/03/2015 10:14 Atualizado em: 01/04/2015 10:13
Marieta Severo interpreta Nawal. Crédito: Leo Aversa/Divulgação |
Uma história épica, que toma emprestados elementos da tragédia grega para mostrar a devastação emocional de uma família e a busca pelo seu passado. É com esse ponto de partida que a peça Incêndios pretende prender o espectador no Recife, com uma curta temporada no Teatro de Santa Isabel durante o feriado da Semana Santa, quinta a domingo. Um dos trunfos da encenação é a dobradinha entre o diretor Aderbal Freire-Filho e a atriz Marieta Severo - namorada dele -, que se despe da leveza televisiva para tecer a trama de uma mulher que tem de lidar com grandes dores. Ele também a dirigiu em As centenárias, com Andréa Beltrão.
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Na versão nacional, o espetáculo ficou com um elenco de oito atores, mas as referências ao universo árabe são pinçadas de forma discreta, a partir de objetos e outros elementos visuais. O intimismo é a marca visual da produção, que aposta mais em mudanças de luz para criar climas do que em grandes cenários. Esta é a primeira encenação brasileira de Incêndios, texto de 2003 que, desde então, teve versões em 15 países.
Entrevista>> Marieta Severo
"No Brasil, temos uma guerra civil camuflada”
Eu já tinha assistido ao filme há uns cinco anos e tinha ficado muito impactada, ou seja, já conhecia a história, mas, quando o Felipe de Carolis me trouxe o texto, fiquei muito emocionada, pois ele tinha uma narrativa moderna e, ao mesmo tempo, uma capacidade muito grande de envolver e tocar o público. É muito bom encontrar um texto cuja história você deseja contar. A narrativa consegue andar 50 anos no tempo e no espaço de forma muito clara para a plateia.
Em que a peça fala da condição do mundo contemporâneo?
Nawal engravidou de um namorado em uma cidade pequena, e ela sai dessa aldeia, aprende a ler, escrever e a pensar. Quatro anos depois, ela volta para encontrar esse filho, mas seu país está em uma guerra civil. Essa mulher é presa, torturada, estuprada e a vida dela se torna uma saga, até ela ir para o Ocidente e criar outros filhos. Vejo muito paralelo com a situação do Brasil, pois temos uma guerra civil camuflada.
De que forma a história de Nawal se aproxima da sua vida?
Ela me toca muito na minha geração, pois vivi a ditadura. Muitas mulheres da minha idade passaram por situações semelhantes e tiveram esse tipo de vivência-limite. Eu não tinha essa atuação política toda para me tornar um alvo, mas dedico meu trabalho a Zuzu Angel, que não conseguiu sequer resgatar o corpo do filho, e a vida dela passou a ser orientada para esse objetivo.
Como você e o diretor, Aderbal Freire-Filho, trabalharam com esse material específico, que demanda conhecimento de uma cultura e um modo de pensar, a princípio, distantes do brasileiro?
Este é o nosso terceiro espetáculo juntos, de fato, mas nos conhecemos há mais de 40 anos. Nessa peça, sabíamos que precisávamos de um diretor muito experiente, que pudesse colocar em cena a grandeza do texto. Afinal, essa é uma tragédia, uma história muito pungente. Não temos de provar nada. Independente do lugar onde a história se passa, o interessante é que ela possa tocar qualquer plateia.
A peça já cumpriu temporada bem-sucedida pelo Brasil. Qual retorno do público você teve com essa montagem?
O bonito do teatro é o trabalho diário, principalmente com um grande personagem como esse. O que mais me surpreendeu foi a capacidade desse texto chegar ao público e fazer sucesso. Programamos o espetáculo para uma temporada de dois meses e já estamos com ele há um ano e meio. Não acreeditávamos em tamanho sucesso. Tem certas máximas que se tornam verdade, como “o público só quer ver comédia”, “o público só quer ver musical”, e nossa escolha foi contra isso.
SERVIÇO
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Santo Antônio)
Quando: 2 a 4 de abril, às 21h, e 5 de abril, às 19h
Quanto: Plateia, frisas e camarotes A: R$ 90 e R$ 45 (meia); torrinha e camarotes B: R$ 50 e R$ 25 (meia), à venda na loja Maria Filó do Shopping Recife, loja Reserva do Shopping Plaza e no site Ingresso Rápido
Informações: 3355-3322.
Assista a um trailer do espetáculo Incêndios
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