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Pandemia

"O luto nunca passou", diz recifense que perdeu mãe e irmão para Covid em intervalo de quatro horas

Há exatos cinco anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificava a Covid-19 como uma pandemia

Publicado em: 11/03/2025 17:30 | Atualizado em: 11/03/2025 17:36

Carlos Gilberto (esquerda), Maria Zuleide e Leonardo Accioly. (Foto: Cortesia)
Carlos Gilberto (esquerda), Maria Zuleide e Leonardo Accioly. (Foto: Cortesia)
Era por volta de 2h da manhã de 1º de julho de 2021 quando o telefone acordou o advogado Leonardo Accioly em seu apartamento em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. O engenheiro Carlos Gilberto Accioly da Silva Filho, de 46 anos, irmão de Leonardo, havia falecido por complicações da Covid-19 em um hospital da capital. Perto das 6h, Leonardo recebeu um novo telefonema. A mãe dele, Maria Zuleide Rocha Accioly, 80, também havia falecido por Covid-19.

"Perdi meu irmão e minha mãe em um intervalo de quatro horas", lembra o advogado, hoje com 49 anos. 

Há exatos cinco anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificava a Covid-19 como uma pandemia. Para Accioly, a ferida da perda conjunta segue aberta. "Eles foram mortos pela negligência estatal e nunca houve uma retratação", diz. 

Segundo o advogado, o irmão Carlos Gilberto foi quem passou a doença para a mãe. Maria Zuleide estava em isolamento, mas recebeu a visita do filho mais velho no Dia das Mães. No dia seguinte, após se sentir mal, Carlos fez o teste para Covid-19, com resultado positivo.

"Ele entrou em uma situação crítica muito rápido. Já minha mãe foi piorando aos pouquinhos", lembra o advogado. O engenheiro passou cerca de 45 dias internado, enquanto a genitora ficou um mês hospitalizada. O advogado se diz cético, mas confessa que é "difícil acreditar que alguma coisa não existiu". 

"Minha mãe sempre teve um instinto de proteção muito grande com relação ao meu irmão. E ela faleceu poucas horas depois. É como se ela estivesse esperando ele partir para ir junto", comenta. "Esse sentimento de ajuda e de carinho por ele ocorreu até o dia da morte". Enquanto os parentes estavam internados, Leonardo era vacinado contra a Covid-19 pela primeira vez. Crítico do governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL), ele chegou a escrever à época que mãe e irmão foram assassinados.

"É como se fosse um luto que nunca passou completamente. Sobretudo porque não há uma consequência objetiva em função da negligência do Estado brasileiro com relação ao que aconteceu", afirma ao Diario de Pernambuco. 

O Brasil contabiliza 715.295 mortes por Covid-19 e 39,2 milhões de casos confirmados, segundo dados do governo brasileiro. A Organização Mundial da Saúde (OMS) registra mais de 7 milhões de mortes pela doença no mundo. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em janeiro deste ano, divulgou nota destacando que a vacinação foi fundamental para a contenção da doença, reduzindo casos graves e mortes. 

"Houve um nexo de causalidade muito evidente entre a irresponsabilidade do Estado brasileiro e do dirigente que estava lá com o falecimento dos meus familiares", acrescenta o jurista. "Meu irmão nunca teve a oportunidade de tomar a vacina. A gente se sente muito carente de explicação e de um pedido de desculpas".

Tags: covid-19 | pandemia | luto | vacina |

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