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HABITACIONAL

Habitacional Caranguejo Tabaiares deve sair do papel em abril

Projeto vem sendo aguardado pela comunidade há mais de 10 anos, mas incertezas ainda atormentam moradores

Publicado em: 13/03/2025 18:48 | Atualizado em: 13/03/2025 19:06

 (Foto: Francisco Silva/ DP)
Foto: Francisco Silva/ DP
Aguardado há mais de 10 anos, o conjunto habitacional da comunidade Caranguejo Tabaiares, localizada na Ilha do Retiro, terá suas obras iniciadas até o próximo dia 10 de abril. Essa é a estimativa da Prefeitura do Recife que estabeleceu os primeiros 100 dias deste ano como prazo para começar o projeto. A comunidade, com cerca de um século de existência, tem demandas urgentes, que acarretam em problemas de saúde e segurança.
 
O anúncio da construção de 280 unidades habitacionais na comunidade foi feito pela gestão municipal no final de 2024, após o  Ministério das Cidades aprovar a relação dos projetos aprovados no edital do programa Minha Casa, Minha Vida FAR, voltado para famílias com renda de até dois salários mínimos. De acordo com o secretário de Habitação do Recife, Felipe Cury, a área vai passar por um processo de urbanização social e as famílias que serão abrangidas ainda estão no processo de seleção. Ao todo, 1.400 pessoas serão atendidas.
 
“A gente vai fazer um projeto que eu chamo de urbanização social. Tínhamos um projeto antigo, do Parque de Drenagem do Capibaribe, que previa algumas intervenções no território. E temos um recurso financeiro, inclusive em parceria com a Presidência da República, para fazer um projeto de urbanização. Ou seja, lá a gente vai fazer o desenho, vai construir um projeto de urbanização e as famílias que vão ser beneficiadas com o habitacional. São justamente as famílias que vão ter que ser realocadas para o habitacional porque terão intervenções mais à frente das urbanizações”, explica o secretário.
 
Para tirar o habitacional do papel, foram repassados pelo Governo Federal R$ 47,1 milhões e a Prefeitura do Recife já aplicou R$ 8 milhões para a desapropriação dos terrenos. O secretário de Habitação do Recife explica que o processo de desapropriação da comunidade Caranguejo Tabaiares foi algo “absurdo”, uma vez que durou uma década, praticamente. “A produção de habitação de interesse social no Recife não é fácil. Você tem uma escassez de imóveis e imóveis que estão muitas vezes com o privado. Não dá também para fazer uma desapropriação de qualquer forma”, pontuou.
 
Acostumados com as promessas das gestões estaduais ao longo de mais de dez anos, moradores da comunidade chegaram a classificar o habitacional como “Terra Prometida”. De acordo com Sarah Marques, participante do Coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste, os moradores locais ainda têm receio de não serem os beneficiados com o habitacional e que falta diálogo com a prefeitura.
 
“Nós nos reunimos porque o prefeito, desde dezembro de 2023, diz que tem um habitacional para Caranguejo Tabaiares pelo Minha Casa Minha Vida. A gente foi procurar, porque eles não contaram para a gente como era o estudo no terreno, que é um terreno que nós lutamos para ter. Esse habitacional é um sonho para a gente, mas não dessa forma. Precisava ser um habitacional conversado com a comunidade e também integrado com a comunidade, porque nós estamos uma vez numa Zona Especial de Interesse Social e o habitacional chega com um muro de costas para a comunidade”, afirma Sarah.
 
A integrante do coletivo ainda destaca que a comunidade conta com uma horta que é um símbolo para o local, uma vez que é ponto de encontro entre mulheres para debates sociais, além de unir a população para o cultivo do alimento. O espaço de cerca de 90 metros quadrados estaria ameaçado pela construção do habitacional.
 
 (Foto: Cortesia)
Foto: Cortesia
 
 
“Se não fosse a horta, a gente não tinha conseguido resistir e ali já teria uma via de 20 metros com três faixas, grandes prédios e o local não seria indicado para um habitacional para a comunidade”, complementa Sarah.  Mesmo com a construção de outros habitacionais como exemplo, ela ressalta que a população resiste às mudanças pela forma que elas são colocadas em prática. “A gente vê o que eles fizeram na Vila Esperança, retirando as famílias e deixando um habitacional bem pequenininho. A resposta para a sociedade é que está fazendo habitacional”.
 
Em fevereiro, a Prefeitura do Recife iniciou um processo de escuta ativa para discutir futuras obras de urbanização, que serão planejadas com base nas necessidades e desejos dos moradores. Sarah contou, ainda, que a reunião promovida não detalhou o que será feito no local das casas desabitadas e que a empresa responsável pelas obras seria a responsável por cobrir os prejuízos causados com os inícios dos serviços.
 
“Isso significa que todas aquelas casas que estão ao redor (do terreno do habitacional), se acontecer alguma coisa, a empresa vai assumir. Mas acho que a primeira coisa que seria feita era nos dar auxílio-moradia”, disse. Sarah frisou que o valor não é suficiente para cobrir o valor de perder uma casa.
 
 (Foto: Francisco Silva/ DP)
Foto: Francisco Silva/ DP
 
 
A Caranguejo Tabaiares é composta por cerca de 15 mil moradores que vivem da pesca e da criação de moluscos. Desde 1996 o local é uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), áreas destinadas à habitação de interesse social, ou seja, a moradia de famílias de baixa renda. Mesmo sendo uma área precarizada, não deixou de sentir os impactos da especulação imobiliária, uma vez que fica localizada perto do Centro do Recife.
 
A comunidade também é composta por palafitas, que passaram por um incêndio considerado de grandes proporções em 2013. O fogo tomou conta de uma área de cerca de 200 metros quadrados e mais de 20 barracos foram consumidos pelas chamas.

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