ASSALTO
Como grupo liderado por empresário planejou roubo de R$ 500 mil no Ceasa
Ação criminosa no Recife terminou com um suspeito mortoPublicado em: 15/02/2025 18:44
![]() |
Foto: Reprodução/Redes Sociais |
Desde o início de janeiro, sete homens se encontravam toda semana, sempre às segundas-feiras, em uma casa na Rua Rocha Pombo, no bairro da Estância, na Zona Oeste do Recife. Segundo a Polícia Civil, era naquele imóvel que o grupo, liderado por um empresário e composto por pessoas com experiência em grandes roubos, planejava o assalto no Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa), no Recife, que terminou com um suspeito morto nesta semana.
Foi a presença de José Roberto Arcino dos Santos, de 49 anos, um ex-presidiário envolvido em roubo de cargas, que chamou a atenção da polícia para as reuniões. Após fazer campanas, os agentes descobriram que ele sempre chegava ao local em um Renault Kwid, de cor branca, escoltado por outro sujeito em uma moto. Era Euris Cosme dos Santos, suspeito de mapear o Ceasa durante a preparação do roubo.
O terceiro membro identificado do grupo foi Jailson Rodrigues de Melo, de 54, de vulgo Giju. Segundo relatório de investigação, obtido pelo Diario de Pernambuco, ele foi condenado a mais de 30 anos de prisão, por homicídio nos anos 2000, e possui registro de outras passagens no sistema carcerário. O carro dele era um Jeep Renegade.
Um dia, Giju apareceu com o automóvel com a placa PYH9H16, em outro com PEA8H11. Para a Polícia, esse é o principal indício de que o grupo também usou veículo clonado para planejar o ataque. Também há imagens no relatório que mostram o grupo chegando com sacolas plásticas. A Polícia desconfia que se tratavam de armas de fogo.
Quem carregava as sacolas era Pedro Henrique Alves de Santana. Ao longo de quatro semanas de investigação, ele também foi flagrado dirigindo um Volkswagen Polo, que teria sido usado no assalto, duas vezes.
Descrito como um “criminoso contumaz, envolvido com roubos a bancos”, Jailson Faustino da Silva, conhecido como Mago Sinha, era outro participante do encontros. O responsável por abrir e fechar o portão para os integrantes era Lucas Bento Barros, de 29 anos, que parecia ser o responsável pela casa, de acordo com os policiais.
Segundo a investigação, a reunião só começava quando o empresário e morador da Avenida Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, José Éder de Lima Alves, de 42 anos, chegava ao local. No documento, a Polícia descreve que ele “parecia ter o controle da situação”.
Após as reuniões, o grupo utilizava os veículos e seguia até o Ceasa para observar a movimentação e depois voltar para o QG, em percurso que passava pela Rua Coronel Fernando Machado. A rotina foi mantida até o dia 10 de fevereiro, uma segunda-feira, quando, de fato, o assalto aconteceu.
O assalto
Por volta das 15h, cinco integrantes do grupo — vestido com balaclavas, roupas escuras e armados de escopeta calibre 12 — estavam no Renault Kwid. Segundo a Polícia, o motorista era Pedro Henrique. Os demais ocupantes seriam José Roberto, Jailson Rodrigues, Jailson Faustino e um passageiro ainda não identificado.
Um funcionário de uma loja, no interior do Ceasa, foi a primeira vítima do grupo. Com pouco mais de R$ 500 mil nas mãos, ela aguardava para entrar em um carro blindado que a levaria até um banco para realizar o depósito. Após anunciar o assalto, os ladrões levaram toda a quantia.
Só após tomar conhecimento do assalto, a equipe da Polícia Civil, que realizava o monitoramento, saiu atrás do grupo. Os agentes teriam se deparado com os assaltantes na Rua Coronel Fernando Machado, a rota que era sempre usada, onde o grupo estaria trocando de carro para um Volkswagen Polo.
No relatório, os policiais afirmam que abordaram os suspeitos, que não se renderam, dando início à troca de tiros. Durante o alegado confronto, José Roberto, o ex-presidiário com histórico de assaltos, foi morto.
Um dos participantes, não identificado pela Polícia, conseguiu fugir para a Comunidade Inferninho e entrou num barraco, onde foi encontrada uma arma de fogo e um colete à prova de balas depois. Em meio ao tiroteio, outros três conseguiram fugir no veículo Polo, pela contramão, segundo os agentes.
Os bandidos teriam acessado a Avenida Recife, com destino ao Hospital da Mulher, também na Estância. Lá, eles encontraram a segunda vítima. Era um homem, que havia ido visitar a esposa e a filha recém-nascida, que parou para lanchar em frente à unidade de saúde.
Em depoimento, a vítima narrou a ocorrência assim. Ao abrir a porta do carro, deu de cara com um homem, todo vestido de preto, e mais dois comparsas já dentro do veículo. Um deles gritou: “Perdeu, polícia!”. A vítima ficou atônita e não teve reação. Os ladrões, então, arrancaram com o carro do homem e fugiram.
Enquanto isso, outra equipe policial foi até o imóvel na Rua Rocha Pombo e deteve Éder, Lucas Bento e Luiz Carlos — o último teria confessado que emprestou a casa para a realizar as reuniões. Na manhã seguinte, na terça-feira (11), Pedro Henrique também foi preso. Jailson Rodrigues de Melo e Jailson Faustino da Silva continuam foragidos.
Todas essas informações foram descritas em depoimentos das vítimas, dos suspeitos detidos e dos policiais que participaram da investigação. Na quinta-feira (13), a Justiça decidiu relaxar a prisão em flagrante dos quatro autuados, que alegaram ter sofrido violência policial.
Na decisão, a juíza Blanche Maymone Pontes Matos, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), entendeu que faltavam elementos suficientes para relacionar os suspeitos aos assaltos. Segundo a decisão, as armas foram apreendidas em outro local. “No tocante ao delito de associação criminosa, também não há como configurar flagrante delito”, registrou.