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Entenda conflito de versões sobre paralisação dos ônibus que afetou passageiros do Grande Recife

Entre as queixas do Sindicato dos Rodoviários está a falta de contabilização correta do tempo de embarque e desembarque dos passageiros

Publicado: 03/12/2024 às 13:56

/Foto: Rafael Vieira/DP Foto

/Foto: Rafael Vieira/DP Foto


 
O sistema de transporte coletivo no Grande Recife está sob um impasse entre os sindicatos que representam motoristas de ônibus e patrões.

Nesta terça-feira (3), os rodoviários pararam tudo em duas das mais importantes vias da capital, as Avenidas Guararapes e Agamenon Magalhães, na área central.
 
O ato foi uma forma do Sindicato dos Rodoviários reforçar as queixas sobre a "falta de cumprimento de acordos coletivos" formados no encerramento da greve deste ano. 

Do outro lado, a Urbana-PE, que representa os donos das transportadoras, contesta as afirmações e diz que tudo não "passa de uma questão política" envolvendo a sucessão no comando do Sindicato dos Rodoviários. 
 
Diante desse conflito de versões, fica o passageiro do coletivo. Sem opção para se deslocar, como aconteceu nesta terça, muitos nem sabem se vão poder contar com o sistema para sair ou voltar para casa.

O problema ficou ainda mais claro com o fechamento de corredores importantes de coletivos. 
 
No entanto, a falta de ônibus vem afetando a população há alguns dias, quando os rodoviários passaram a fazer assembleias em portas de garagens de empresas, atrasando a liberação dos veículos. 

Durante vários dias, que se viu foi o sufoco para sair de casa e ir ao trabalho, escola ou médico, já que os ônibus só começaram a trafegar duas ou mais horas depois do horário previsto. 

No ato desta terça, as opiniões dos passageiros que estavam nos coletivos e precisaram descer por conta da paralisação estavam divididas. Muitos entendiam a legitimidade do ato da categoria, mas questionavam os transtornos à população.

“Eu não sei nem o porquê dessa paralisação, dizem que a empresa está descumprindo o acordo. Eu acho que estão certos porque eles querem ganhar o deles”, disse uma passageira que vinha do Janga, de 75 anos. 

“Vim lá de Casa Amarela, cheguei aqui e tudo está parado, uma palhaçada dessa. Não fui avisado que isso estava acontecendo, se eu soubesse não teria vindo. Por que não pararam no Terminal? Trazem a gente aqui pro Centro da cidade e não conseguimos sair. A pessoa com fome, querendo chegar em casa e uma palhaçada dessa”, reclamou outro passageiro. 

“Eles trabalham por 14 horas por dia, talvez até por opção e a empresa não paga a hora extra dele. E quem paga, no final, somos nós, eu, minha filha, o pessoal que quer ir pra casa uma hora dessa”, contou outro.  

“Liguei para o meu pai para que ele viesse me buscar. Acho que o trabalhador não precisava ser atingido. Cada um pode protestar pelos seus direitos, mas acabam prejudicando os outros também, que não tem nada a ver”, comentou uma estudante, de 14 anos, que voltava para casa após as aulas. 

O que dizem os sindicatos 
 
 

Enquanto isso, o Sindicato dos Rodoviários e a Urbana-PE trocavam farpas sobre quem dizia a verdade. Ao longo de novembro, o sindicato passou pelas garagens das empresas Consórcio Recife, Mobibrasil, Metropolitana, Caxangá e Borborema, onde ouviu os trabalhadores. 
 
Entre as queixas estavam a falta de contabilização correta do tempo de embarque e desembarque dos passageiros, o não pagamento de horas extras pela fiscalização mecânica dos veículos e ausência de espelho de ponto para registro formal das jornadas de trabalho.

“O espelho de ponto é uma coisa básica, que as empresas têm que fornecer. Inclusive, depois das assembleias que a gente fez, algumas começaram a fornecer. O trabalhador tem a obrigação de saber se o que está sendo pago está de acordo com o tempo de trabalho que ele prestou”, frisou Aldo Lima, presidente do sindicato. 

Procurada pela equipe de reportagem do Diario de Pernambuco, a Urbana-PE continua sustentando que não há descumprimento do acordo feito com os rodoviários e “lamenta que disputas políticas internas do Sindicato dos Rodoviários, que terá nesta quinta-feira (05) a sua eleição, continuam trazendo prejuízos e transtornos para a população da Região Metropolitana do Recife”.

A corporação alega, ainda, que os mapas sintéticos de apuração das jornadas estão sendo entregues em conformidade com o acordo coletivo da categoria e seguindo o modelo validado com a própria diretoria do Sindicato dos Rodoviários. 

Sobre a nota da empresa, Aldo Lima respondeu que "não é de hoje que a Urbana usa esse argumento de questões políticas”. “Eles usaram em 2020, 2022, 2023 e, agora, nós estamos em 2024 e, mais uma vez, é por uma questão política? Quer dizer que a categoria denuncia um fato, denuncia os desmandos das empresas e é uma questão política. Este argumento da urbana é apenas para tentar jogar uma camuflagem sobre o que eles fazem de errado com a categoria”.

Questionado sobre quais seriam os próximos passos, Aldo Lima disse que “atravessou uma petição no TRT para tentar uma mediação com as empresas. Esperamos  que essa reunião aconteça o mais rápido possível. A gente só quer que a empresa cumpra o acordo para que não haja necessidade de uma greve”.
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