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PATRIMÔNIO

Acervo do Diario de Pernambuco guarda relíquias da história

O acervo do jornal, criado em 1825 pelo tipógrafo e jornalista pernambucano Antonino José de Miranda Falcão, conta com quase 200 de história impressa

Publicado: 03/12/2024 às 17:22

Ao longo dos anos, o português, o formato, a impressão e até as formas de acesso passaram por diversas atualizações/Foto: Sandy James/DP Foto

Ao longo dos anos, o português, o formato, a impressão e até as formas de acesso passaram por diversas atualizações/Foto: Sandy James/DP Foto

Foi aprovado pela Câmara Municipal do Recife, em primeira votação, nesta terça-feira (03), o Projeto de Lei Ordinária nº 204/2024, que declara o Diario de Pernambuco, o jornal mais antigo em circulação no Hemisfério Sul, como Patrimônio Imaterial Histórico e Cultural do Recife. 

Algumas semanas antes, em 19 de novembro deste ano, o acervo jornalístico do periódico foi oficialmente reconhecido como patrimônio cultural material do Brasil através da Lei nº 15.027, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada no Diário Oficial da União (DOU).

No mesmo dia, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) aprovou, na Comissão de Justiça, o Projeto de Resolução que pode tornar os arquivos do Diario Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Pernambuco.

O acervo do Diario de Pernambuco
 
O acervo do jornal, criado em 1825 pelo tipógrafo e jornalista pernambucano Antonino José de Miranda Falcão, conta com quase 200 de história impressa. Na época da sua fundação, a independência do Brasil era reconhecida por Portugal, o país entrava na Guerra da Cisplatina, seu primeiro conflito armado, e Dom Pedro II nascia. 

Na primeira impressão do Diario, publicada em 7 de novembro de 1825, o conteúdo do jornal foi anunciado: título de propriedade, compras, vendas, roubos, apreensões de escravos, horários de entradas e saídas de embarcações, entre outras. 

Na contracapa, um aviso dizia aos assinantes que a edição seria deixada em suas casas. Caso as residências estivessem fechadas, o jornal seria colocado embaixo da porta, uma vez que, de acordo com a publicação, “torna muito incômodo procurar duas ou três vezes a qualquer um dos senhores assinantes para lhes entregar em mão”. 

A importância do acervo

Segundo Marcos Galindo, professor de pós-graduação em Ciências da Informação e coordenador do Laboratório Liber, da UFPE, em breve, a história do Brasil poderá ser entendida pelos olhos do Diario de Pernambuco
 
O especialista, que está à frente do projeto de restauração do acervo do jornal desde 2022, diz que, “do ponto de vista histórico, o Diario é muito mais relevante do que as pessoas costumam ver. Ele foi o primeiro veículo de mídia que deu voz às pessoas”. 

Mais de meio século depois da fundação do jornal, em 1874, Recife recebeu o primeiro cabo telegráfico submarino, permitindo que a propagação de notícias ocorresse de maneira mais rápida. 

“As informações que vinham dos Estados Unidos, da Europa e da Inglaterra chegavam aqui primeiro. Então, isso foi alimentando o Diario de Pernambuco, trazendo uma importância singular. Você consegue ver, por exemplo, a mudança na sociedade quando as mulheres começam a votar pelas matérias contra o sufragismo, contra o feminismo”, comenta Marcos Galindo. 

De acordo com ele, nos jornais, é possível ver relatos dos movimentos e revoltas populares, interesses pela liberdade econômica. “Daqui um tempo, quando esse acervo ficar disponível, a pessoa que acessá-lo encontrará muito da vida das pessoas, o cotidiano de cada época. Eu vejo que havia um contato maior com a comunidade, era mais comunitário. Todo mundo vai se interessar”, opina.

A requalificação

Ao longo dos anos, o português, o formato, a impressão e até as formas de acesso passaram por diversas atualizações. Contudo, o processo de revitalizar páginas e mais páginas de documentos históricos, para torná-los acessíveis, é uma tarefa árdua.

O professor explica que, para "traduzir" algumas palavras e textos das edições do século XIX do Diário, ele e sua equipe recorreram a dicionários da época, digitalizaram-nos e criaram um dicionário próprio, integrado aos instrumentos de leitura das edições. “Algumas edições estavam se quebrando, então, com o pessoal do curso de química desenvolvemos um polímero a base de celulose que reintegra as páginas do jornal”, relatou.

“Quando convertemos esse jornal para um meio digital e um meio digital confiável, você coloca um jornal do século 19 no século 21”, conclui.
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