Turismo

Navegantes do Recife: barqueiros dão aulas de histórias da capital em passeios por rios

A capital pernambucana conta com dezenas de barqueiros que realizaram diariamente passeios pelos rios da capital, dando uma verdadeira aula de história no trajeto

Publicado em: 19/08/2024 06:13 | Atualizado em: 19/08/2024 15:11

Passeios podem ser encontrados em diversos pontos do Recife, como Marco Zero e Parque das Graças (Foto: Priscilla Melo/DP Foto)
Passeios podem ser encontrados em diversos pontos do Recife, como Marco Zero e Parque das Graças (Foto: Priscilla Melo/DP Foto)
Com 248 quilômetros de extensão, cortando a Serra de Jacarará, no Agreste, até o Recife, o Rio Capibaribe é uma das principais veias de Pernambuco e fonte de renda para centenas de barqueiros da Região Metropolitana, que decidiram largar os empregos nos centros urbanos para dedicar a vida ao turismo e lazer. Com o conhecimento adquirido na prática e ao longo dos anos, os barqueiros contam a história do Recife com informações mais detalhadas que livros de história.

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A decisão de mudar de vida e focar na tranquilidade das águas pluviais da capital foi tomada pelo barqueiro Marcelo Xavier, de 58 anos, morador de Olinda, no Grande Recife. Há cerca de três anos ele decidiu trabalhar com o turismo fluvial, atuando em diversos pontos da capital pernambucana, principalmente no pier do Parque das Graças, na Zona Norte do Recife. Marcelo oferece diversos roteiros para os passeios no Rio Capibaribe, passando por pontos como Rua da Aurora, Joana Bezerra e Bairro do Recife.

Durante o percurso, os olhos e ouvidos das pessoas precisam estar bem atentos, pois Marcelo dá uma verdadeira aula de história sobre os locais turísticos e marcos da cultura da capital. 
 (Foto: Priscilla Melo/DP Foto)
Foto: Priscilla Melo/DP Foto

“A gente vai ficando velho e temos que ir transmitindo o conhecimento para os outros. No passeio falo sobre os animais que vivem perto dos rios. Tem mais de 47 espécies de pássaros aqui e sete espécies de mamíferos. Também falo sobre o acesso dos rios, mostro um Bonsai que tem no viaduto de Joana Bezerra e falo sobre a comunidade dos Coelhos. Também conto sobre a Casa da Cultura, que já foi um presídio que teve uma fuga e depois descobriram que os presos morreram na tubulação, que ia ficando estreita e quando a maré subiu, eles morreram afogados”, conta o barqueiro

“Também passo na Rua da Aurora, falo sobre o prédio mais estreito do Recife, sobre o Cais Estelita, onde as caravelas entravam antigamente, sobre a Torre do Capitão, onde os escravos eram açoitados no cais do Açúcar. Falo do Palácio do Campo das Princesas e do manguezal”, explica Marcelo Xavier.

Questionado sobre onde aprendeu tantas histórias sobre o Recife, Marcelo contou que a vida de barqueiro proporciona muitos aprendizados e que é preciso estudar e se atualizar sobre os assuntos. Além disso, ele disse que aprende muito com os clientes.

Outro barqueiro que também atua no pier do Parque das Graças é Davi Vicente, de 62 anos, morador de Olinda. Ele deixou os empregos tradicionais dos grandes centros urbanos e descumpriu a promessa que tinha feito ao pai de não trabalhar com fogo ou na água. A paixão pelos rios do Recife o fizeram comprar dois barcos para mostrar as belezas naturais da capital pernambucana.
 (Foto: Priscilla Melo/DP Foto)
Foto: Priscilla Melo/DP Foto

“Eu trabalhei em um condomínio e quando fiquei desempregado, minha filha me pediu 5 centavos para comprar um pão e eu não tinha. E eu achava bonito ver as pessoas pescando e disse para mim mesmo que um dia eu teria um barco. Em Olinda, um homem perguntou se eu queria pescar com ele e hoje estou aqui no Parque das Graças”, relembra emocionado o barqueiro.

Hoje, Davi oferece mais de um passeio em um dos barcos dele, que conta com cooler, assentos e até mesmo um banheiro, que é o diferencial da embarcação.

“Hoje em dia vivo feliz por estar no Capibaribe. Nele a gente encontra muita coisa boa, incluindo o mangue, que é um viveiro de peixes. Hoje sinto muita felicidade por estar no Rio Capibaribe, que é meu cantinho e minha área de Lazer. Na pandemia fiquei triste por não fazer o que eu gosto, que é tomar meu café da manhã e vir para o Capibaribe, que é meu lazer e trabalho”, relata Davi Xavier.

O passeio turístico organizado por Davi é procurado por diversos públicos, principalmente os recifenses que querem fazer festas de aniversário, despedida de solteiro e noivado no barco. Nos passeios mais tradicionais, ele conta as histórias de algumas pontes da capital e responde às principais dúvidas sobre os animais que habitam o local. Entre os locais incluídos nos passeios mais longos estão a Rua da Aurora, Casa Forte, a Ilha de Deus e a Ilha do Fortinho.

Marco Zero

O Marco Zero também é utilizado por barqueiros para passeios turísticos e é um dos principais pontos de embarque do Recife. O morador do Cordeiro, no Recife, Ezequias Firmino, de 50 anos, que trabalha neste ramo há mais de 20 anos, sai de casa cedinho para trabalhar no local.

Ele faz diariamente travessias para o Parque das Esculturas Francisco Brennand. Há décadas trabalhando como barqueiro, Ezequias conta a história do Recife Antigo para os turistas de diversos lugares do Brasil e do mundo que ele atende. Durante a entrevista, o barqueiro foi abordado pelo menos três vezes por turistas que queriam saber mais sobre o percurso.
 (Foto: Rafael Vieira/DP Foto)
Foto: Rafael Vieira/DP Foto

“Já trabalhei em uma escola e aprendi muito conversando com os professores e hoje conto o que eu aprendi para os turistas. Falo sobre cada ponte que a gente passa, porque não dá para fazer o passeio em silêncio e as pessoas querem aprender sobre a cidade”, afirma.
Hoje, Ezequias trabalha com o apoio de um filho adotivo, que foi tirado de uma situação de vulnerabilidade econômica e aprendeu tudo o que o pai sabe sobre embarcação. Além disso, um colega ajuda a manter limpos os barcos, retirando as cracas para manter uma navegação segura.
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