Tragédia no parque

Quatro pessoas são indiciadas por homicído culposo pela polícia por acidente que matou professora no Mirabilandia

Dávine Muniz, de 34 anos, foi arremessada de brinquedo em 2023. Perícia apontou corrosão de elos de cadeiras de atração

Publicado em: 19/03/2024 10:45 | Atualizado em: 19/03/2024 13:21

Dávine Muniz tinha 34 anos quando foi arremessada de brinquedo  (Foto: Arquivo/DP)
Dávine Muniz tinha 34 anos quando foi arremessada de brinquedo (Foto: Arquivo/DP)
Quase seis meses após o acidente que provocou a morte de uma professora, arremessada de um brinquedo, a Polícia Civil anunciou as primeiras punições no Caso do Mirabilandia, em Olinda. 
 
Nesta terça (19), a corporação informou que encerrou o inquérito e indiciou quatro pessoas por causa da morte de Dávine Cordeiro Muniz, de 34 anos.
 
Ela foi arremessada do brinquedo "Wave Swinger", em setembro de 2023 e morreu em 1º de fevereiro deste ano, no hospital onde estava internada, no Recife. 
 
Em entrevista coletiva concedida na sede da Polícia Civil, no bairro da Boa Vista, na área Central do Recife, onde uma das delegadas responsável pelo inquérito, Euricélia Nogueira, justificou o indiciamento por homicídio culposo, por negligência.
A delegada Euricélia Nogueira deu detalhes sobre a investigação da polícia e da perícia que resultaram no indiciamento das quatro pessoas envolvidas nas negligências que resultaram no acidente  (Foto: Wilson Maranhão/DP )
A delegada Euricélia Nogueira deu detalhes sobre a investigação da polícia e da perícia que resultaram no indiciamento das quatro pessoas envolvidas nas negligências que resultaram no acidente (Foto: Wilson Maranhão/DP )
 
A Polícia Civil atestou que Dávine morreu por causa de um acidente que ocorreu em decorrência de "uma sequência de negligências". 

O inquérito teve como peça-chave uma consultoria que  o Instituto de Criminalística fez com o Instituto Nacional de Tecnologia e Revestimentos e Materiais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 
 
Foram, ao todo, 77 laudas da perícia. O inquérito ainda não foi remetido ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE).
 
A perícia apontou que os elos das cadeias do brinquedo estavam corroídos pela maresia. 
 
Todos os elos de todas as cadeiras estavam danificados. 
 
Além disso, um dia antes o parque fez uma vistoria, mas não realizou a manutenção.
 
O brinquedo foi construído em 1998 e ficava a 1,5 quilômetro do mar. 

A polícia disse que os elos que se soltaram não eram próximos a cadeira, e sim a hastes. Foi justamente onde houve a ruptura,  causando a queda.
 
Todas as quatro correntes se romperam, de acordo com os documentos apresentados pela polícia. 
 
A perícia feita cinco dias após o acidente, solicitou os relatórios de manutenção do parque.
 
Porém, esses documentos não foram entregues, segundo a polícia. 
 
Também na entrevista, a polícia disse que o parque apresentou uma nota,  de 2020, contendo a compra de 360 metros de correntes novas para manutenção. 
 
No entanto, a perícia constatou que essa quantidade não era suficiente nem para a metade das cadeiras. 
 
Indiciados

Segundo a polícia, os indiciados são:

Um dos sócios e administrador do parque, que teria a obrigação de contratar os serviços para a manutenção.
 
O responsável pela vistoria das correntes.
 
Um gerente e responsável pela equipe de manutenção e vistoria. 
 
O engenheiro responsável pelas manutenções, que atestou os checklists da vistoria do brinquedo. 
 
A assessoria de comunicação da Polícia Civil disse que os nomes não seriam divulgados oficialmente por causa da lei que preserva os direitos de informação de dados. 
 
Eles irão responder em liberdade, pois não há mandados de prisão preventiva em aberto contra os indiciados. 

Vítima 
 
Dávine sofreu graves ferimentos na cabeça e passou por dez cirurgias.
 
Primeiro, ela foi levada, primeiro, para o Hospital da Restauração (HR), no Derby, no Recife.

Depois, ficou internada no Hospital São Marcos, na mesma região.
Por fim, teve que ser transferida para o Hospital da Hapvida, na Ilha do Leite, onde  morreu.

O acidente de Dávine também ficou marcado por uma disputa jurídica entre a família dela e a administração do Mirabilandia. 
 
A família queria que o parque pagasse o tratamento; o Mirabilandia recorreu. Os parentes da professora chegaram a fazer uma arrecadação virtual para conseguir dinheiro.
 
Acidente
 
Mirabilandia fica em Olinda  (Foto: Marina Torres/DP)
Mirabilandia fica em Olinda (Foto: Marina Torres/DP)
Dávine Muniz caiu do brinquedo Wave Swinger, em setembro.
 
Ela esteve internada em hospital particular desde o dia 3 de outubro, após uma determinação da Justiça que ordenou que o Mirabilandia se responsabilize pelos custos do tratamento. 
 
O parque chegou a entrar com recursos para não custear a internação de Dávine, mas não teve o pedido acatado. 

O parque Mirabilandia voltou a funcionar no dia 2 de novembro, após passar 42 dias interditado por determinação do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). 
 
No dia da reabertura, o espaço não atraiu um grande público,  possivelmente por causa do Feriado de Finados.

O parque de diversões não oferece mais para o público a atração que deixou Dávine Muniz gravemente ferida. 
 
O Wave Swinger está no setor de manutenção do Mirabilandia e não há previsão para que volte a funcionar. No local, foi inserido outro brinquedo. 

Para voltar a funcionar, o parque precisou seguir as dez recomendações do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (CREA-PE).
 
Entre elas a apresentação de documentos de todos os brinquedos, inspeções individualizadas por equipamento assinadas por técnicos e especificação e detalhamento dos documentos sobre manutenção preventiva.  

O que diz o parque 

Procurado pela reportagem do Diario de Pernambuco, a direção do Mirabilandia enviou um comunicado de esclarecimento. 

Confira na íntegra o que o Parque Mirabilandia disse:

O Parque Mirabilandia esclarece, diante de recentes divulgações, que:

- Em relação ao inquérito policial, no desdobramento da sua tramitação serão elucidados os fatos e as responsabilidades, contestando algumas questões apontadas na sua conclusão. O parque reitera a seriedade com que tratou a manutenção dos seus equipamentos ao longo de mais de duas décadas, desde o início da sua operação em Pernambuco, sem qualquer ocorrência significativa até então. Infelizmente, uma conjunção de fatores levou ao acidente de setembro último, não sendo possível apontar apenas uma causa objetiva ou pessoas como responsáveis diretos;

- A direção do Mirabilandia lamenta a perda de Dávine Muniz e reforça que desde o dia do ocorrido prestou assistência à família, através de seus representantes indicados, apesar de contestações e informações controversas;

- Antes mesmo da transferência de Dávine de hospital houve um acordo entre as partes, homologado pela Justiça e contendo cláusula de confidencialidade. Portanto, diferentemente do que vem sendo noticiado, não há qualquer disputa judicial em curso, considerando que as partes transacionaram, tendo o Mirabilandia atendido aos pleitos formalizados pela família da vítima em sua integralidade.

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